“Brincadeiras, mas nunca com o desejo de magoar a pessoa”

reflexões sobre o racismo recreativo e sua associação com o bullying

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/2179-8435.2024.1.45241

Palavras-chave:

racismo recreativo, bullying, escola, adulto maduro

Resumo

O presente estudo se propõe a discutir os impactos perversos do racismo presentes na subestimação desse ato discriminatório ao considerá-lo como mera brincadeira e na sua associação com o bullying, equiparando-a a essa prática de intimidação típica dos espaços educativos. Para isso, utiliza-se centralmente o conceito de racismo recreativo (Moreira, 2019) e considera-se o papel fundamental do adulto na mediação de conflitos raciais e na educação antirracista, mobilizando-se o conceito de adulto maduro. A produção de dados utiliza fontes produzidas para a realização de uma tese de doutoramento que investigou as relações étnico-raciais de estudantes inseridos em uma região majoritariamente branca e de raízes históricas que enaltecem o elemento étnico alemão, entendido como colonialidade germânica. O viés da análise está alicerçado em estudos da branquitude e do racismo no contexto brasileiro contemporâneo. Os resultados apontam para uma associação das práticas racistas ao bullying, contribuindo para o silenciamento e tangenciamento do tema racismo nos espaços escolares, a despeito da obrigatoriedade legal de implementação do artigo 26-A da LDB e de ações pautadas no antirracismo.

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Biografia do Autor

Carlos Eduardo Ströher, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Rio Grande do Sul (IFRS), Campus Caxias do Sul, RS, Brasil.

Professor da rede pública municipal em Bom Princípio e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS, Campus Caxias do Sul, , doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Carla Beatriz Meinerz, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil.

Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), doutora em Educação pela mesma instituição.

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Publicado

2024-12-09

Como Citar

Ströher, C. E., & Meinerz, C. B. (2024). “Brincadeiras, mas nunca com o desejo de magoar a pessoa”: reflexões sobre o racismo recreativo e sua associação com o bullying. Educação Por Escrito, 15(1), e45241. https://doi.org/10.15448/2179-8435.2024.1.45241

Edição

Seção

Relações Etnico-Raciais