Marcas e funções do sobredestinatário em gêneros textuais diversos
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44064Palavras-chave:
Sobredestinatário., Gêneros discursivos, Marcas linguísticas.Resumo
O artigo tem por objetivo oferecer uma visão do estado da arte dos estudos centrados no conceito bakhtiniano de sobredestinatário, entendido como o terceiro que garante tanto a plena compreensão do que diz o locutor, como também a possibilidade de uma compreensão em outros tempos e espaços. Dito de outro modo, o papel que cumpre o sobredestinatário é o de suprir as insuficiências do destinatário, superando a condição daquilo que se denominou “tirania do presente”. É também proposta do artigo oferecer não um modelo, mas um caminho de análise que se revele produtivo para a identificação desse sobredestinatário, procedendo à sua captação nos gêneros literário (Lucíola e Torto Arado) e acadêmico (blog de Luis Carlos Freitas sobre avaliação educacional). Com efeito, o sobredestinatário tem-se mostrado um conceito inovador do quadro de participantes da interação verbal, porém tem sido pouco explorado em artigos produzidos na área. A explicitação de marcas linguísticas para a sua captação constitui um território ainda largamente inexplorado, razão pela qual escolhemos aprofundar os debates referentes à materialidade linguística em que se inscreve o sobredestinatário como aporte teórico central deste trabalho. Desse modo, baseado metodologicamente em procedimentos de análise documental de ordem linguístico-discursiva, o artigo avança na investigação de tal materialidade, contribuindo com a visualização de novas funções do sobredestinatário: para além da plena compreensão e da explicitação de grupos de pertencimento, revela-se, dentre outras, sua função enquanto processo de melhoramento do próprio destinatário, ou ainda como interlocutor crítico do que se expressa nos textos, situação na qual supera as expectativas criadas pelo próprio locutor.
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