Escolas cívico-militares

Estratégia política para ocultar a negligência com a educação pública no Estado brasileiro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1981-2582.2022.1.36739

Palavras-chave:

escolas cívico-militares, vinculação dos recursos da educação, privatização de processos

Resumo

Este texto objetiva analisar a estratégia política do governo de Jair Bolsonaro que tenta impor às escolas públicas brasileiras sua conversão cívico-militar, como um fenômeno que oculta, pelo menos, dois aspectos fundamentais totalmente imbricados: (a) uma história de negligência identificada na desvinculação de recursos para a educação; (b) uma ação que favorece o capital financeiro e os reformadores empresariais na educação pública. Embora o Decreto que cria o Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares (PECIM) tenha indicado ser facultativa a adesão dos entes federativos ao Programa, será possível notar aqui que, a escola pública tem contra si, na atual conjuntura, a pressão para ter de aderir à militarização das escolas, como uma refém com um fuzil apontado contra si, cuja desobediência poderá significar seu extermínio. Sob os sintomas vertiginosos provocados pelas subsequentes usurpações históricas de calote e mecanismos de desvinculação dos valores que deveriam ser a ela destinados, a escola pública vê-se coagida, para poder continuar existindo, a submeter-se às garras da lógica militarizada.

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Biografia do Autor

Anderson dos Anjos Pena de Carvalho, Instituto Federal de Goiás (IFG); Universidade Federal do Ceará (UFC), Formosa, GO, Brasil.

Doutor em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, CE, Brasil; mestre em Cultura, Memória e Desenvolvimento Regional pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Santo Antônio de Jesus, BA, Brasil. Professor efetivo do Instituto Federal de Goiás (IFG), Formosa, GO, Brasil

Clarice Zientarski, Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE, Brasil.

Doutora em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil; mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. Professora adjunta da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, CE, Brasil. 

Hildemar Luiz Rech, Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE, Brasil.

Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP; mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil. Professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE, Brasil.

 

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Publicado

2022-12-01

Como Citar

Carvalho, A. dos A. P. de, Zientarski, C., & Rech, H. L. (2022). Escolas cívico-militares: Estratégia política para ocultar a negligência com a educação pública no Estado brasileiro. Educação, 45(1), e36739. https://doi.org/10.15448/1981-2582.2022.1.36739

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