Podia arredondar a boca e soprar verdades, nem por isso eu confiaria

Não confiabilidade narrativa em Oz, de Mafalda Ivo Cruz

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1983-4276.2021.2.40885

Palavras-chave:

Mafalda Ivo Cruz, Narrador, Perspectiva narrativa, Narração não confiável

Resumo

Autora de uma potente e pouco tratada obra, a portuguesa Mafalda Ivo Cruz tem uma escrita não raro considerada hermética devido à fragmentação, à não linearidade e à diversidade de vozes, muitas vezes apresentadas de forma caótica e associadas a uma ruptura espaciotemporal. Em Oz (2006), essas características estão a serviço de uma narrativa que trata da prisão de um artista – Oz – pelo abuso sexual de sua vizinha. A justiça do encarceramento é posta em questão, e a narrativa baseia-se nessa dúvida. Para tanto, Cruz recorre a um texto composto por diferentes perspectivas e vozes narrativas, de forma que as falhas de memória de uma personagem e os pontos omitidos são preenchidos por outras, formando um todo coeso. Isso, porém, não significa necessariamente clareza, mas pelo contrário: temos que tentar, sozinhos, organizar o caos em que nos colocados. Resolver o mote da narrativa, acaba, assim, ultrapassando a simples descoberta do culpado, principalmente porque somos guiados nessa investigação por vozes que não sabemos se confiáveis – incluindo, aliás, um possível criminoso. Com isso, a rede estética em que Cruz nos enreda acaba mostrando-se muito mais importante que a resolução da investigação criminosa.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Samla Borges Canilha, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS, Brasil.

Mestra em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, RS, Brasil; bacharela em Letras – Português/Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Santa Maria, RS, Brasil; doutoranda em Teoria da Literatura na PUCRS, com bolsa de financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Integrante do grupo de pesquisa Cartografias Narrativas em Língua Portuguesa: redes e enredos de subjetividade.

Referências

BOOTH, Wayne C. A retórica da ficção. Tradução: Maria Teresa H. Guerreiro. Lisboa: Arcádia, 1980.

CANDAU, Joël. Memória e identidade. Tradução: Maria Leticia Ferreira. São Paulo: Contexto, 2016.

CRUZ, Mafalda Ivo. Oz. Lisboa: Dom Quixote, 2006.

DAL FARRA, Maria Lúcia. O narrador ensimesmado: o foco narrativo em Vergílio Ferreira). São Paulo: Ática: 1978. p. 11-53.

IZQUIERDO, Iván. Memória. Porto Alegre: Artmed, 2002.

REMÉDIOS, Maria Luíza Ritzel. Vermelho, de Mafalda Ivo Cruz, romance pósmoderno? In: REMÉDIOS, Maria Luíza Ritzel; BORDINI, Maria da Glória; ZILBERMAN, Regina (Org.). Identidades fraturadas: ensaios sobre literatura portuguesa. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2011. p.75-82.

RICHARDSON, Brian. I, etcetera: multiperson narrative and the range of contemporary narrators. In: RICHARDSON, Brian. Unnatural voices: extreme narration in modern and contemporary fiction. Athens: The Ohio State University Press, 2006.

Downloads

Publicado

2021-12-16

Como Citar

Canilha, S. B. (2021). Podia arredondar a boca e soprar verdades, nem por isso eu confiaria: Não confiabilidade narrativa em Oz, de Mafalda Ivo Cruz. Navegações, 14(2), e40885. https://doi.org/10.15448/1983-4276.2021.2.40885

Edição

Seção

Ensaios