O Amor – segundo Clarice Lispector

Autores

  • José Paulo Cruz Pereira Universidade do Algarve

DOI:

https://doi.org/10.15448/1983-4276.2015.2.23300

Palavras-chave:

Lei, Exceção, Sujeito, Alteridade, Visão, Cegueira

Resumo

Em “Amor”, de Clarice Lispector, lemos a forma como a vida e a escrita se cruzam, enquanto modalidades de um encontro com o Outro no qual se suspendem os limites que separam a lei da exceção, o saber da alteridade, o real da ficção. A sua premissa é a de uma cegueira concebida como experiência, não apenas da insularidade e do aban-dono, do sepultamento vivo – tal como ela é frequentemente pensada na tradição literária do Ocidente: “eu próprio o meu sepulcro, o meu túmulo, enterrado...”, diz John Milton, no seu Samson Agonistes – mas também, como em “Amor”, da alteridade e da transcendência, na indecisão limítrofe que marca toda a relação imaginária. Em Água viva, essa “cegueira” expressa-se pelo sentido de um “figurativo do inominável”. Em “Amor” é assumida na relação de identificação da personagem principal com a figura de um cego.

 

************************************************************************************************************************************************************************************************************

 

Love – according to Clarice Lispector

 

Abstract: In “Amor”, a short-story by the Brazilian writer Clarice Lispector, our paper reads the way life and writing intersect, as different modalities of an encounter with the Other, suspending the limits between law and exception, knowledge and otherness, fact and fiction. Its premise is a state of blindness conceived not only as an experience of abandonment and insularity, of a sepulchral livin, – often described in the Western literary tradition: “myself my sepulchre, a moving grave, buried...”, says John Milton, in Samson Agonistes... – but also, as in the case of “Amor”, of an otherness and transcendance which suppose the impossibility of a clear distinction, and are also proper of all imaginary relationship. In Água Viva, that state of blindness expresses itself in a “figuration of the unnamable”. In “Amor” it is presented by the allegorical figure of a blind man the main character identifies with.

 

Keywords: Law; Exception; Subject; Alterity; Vision; Blindness

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AGAMBEN, Giorgio. O poder soberano e a vida nua: homo sacer. Lisboa: Presença, 1998.

CIXOUS, Hélène. L’heure de Clarice Lispector. Paris: Des femmes, 1989.

CIXOUS, Hélène. Jours de l’an. Paris: Des femmes, 1990.

CIXOUS, Hélène. Reading with Clarice Lispector. Mineapolis: Minnesota University Press, 1990.

CIXOUS, Hélène. Véus... à vela. Coimbra: Quarteto, 2001.

DERRIDA, Jacques. Memórias de cego: o auto-retrato e outras ruínas. Lisboa: Gulbenkian, 2010.

FOUCAULT, Michel. O pensamento do exterior. [s.l.] Fim de Século, 2001.

FREUD, Sigmund. Textos essenciais sobre literatura, arte e psicanálise. Lisboa: Europa-América,1994.

LACAN, Jacques. Le séminaire – III. Paris: Seuil, 1981

LACAN, Jacques. O Seminário – V: as formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

LÉVINAS, Emmanuel. Descobrindo a existência com Husserl e Heidegger. Lisboa: Instituto Piaget, 1997.

LISPECTOR, Clarice. Água viva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.

LISPECTOR, Clarice. Laços de família. Lisboa: Relógio d’Água, [s.d.].

RILKE, Rainer Maria. O cego. quintela , Paulo (Org.). Obras Completas III: traduções II. Lisboa: Gulbenkian, 1998.

Downloads

Publicado

2016-03-08

Como Citar

Pereira, J. P. C. (2016). O Amor – segundo Clarice Lispector. Navegações, 8(2), 134–145. https://doi.org/10.15448/1983-4276.2015.2.23300

Edição

Seção

Ensaios