Escrever à mão versus digitar
Implicações cognitivas no processo de alfabetização
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-4301.2020.4.37514Palabras clave:
Cognição, Escrita à mão, Alfabetização, Reconhecimento visual, Memória proceduralResumen
Com as novas tecnologias de escrita, a caneta e o papel estão sendo substituídos pelo teclado ou pela touch screen. Se os adultos escolarizados pouco escrevem à mão, é importante continuar ensinando as crianças pequenas a manusearem lápis e caneta? O presente trabalho busca compreender quais são as implicações cognitivas da aprendizagem da escrita à mão em oposição à digitação em teclado ou em tecnologia touch. Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica integrativa a partir das contribuições de Longcamp et al. (2005, 2008) e demais pesquisadores que investigam os processos envolvidos na aprendizagem da leitura e a capacidade de o ser humano adaptar-se à escrita e, posteriormente, à digitalização, em virtude de sua plasticidade cerebral (DEHAENE, 2010; CARR, 2012; KOLINSKY, 2015). Os estudos indicam que a escrita à mão permite a formação de memórias procedurais relacionadas ao traçado das letras (IZQUIERDO, 2018), contribuindo para o reconhecimento visual das letras, bem como para a superação da fase de espelhamento (SCLIAR-CABRAL, 2013). O reconhecimento visual das letras combinado com a consciência fonêmica é a primeira etapa a ser consolidada para chegar à leitura das palavras e, posteriormente, à compreensão. Uma vez que essa condição inicial seja desfavorecida, o processo de aprendizagem da leitura torna-se mais lento e, muitas vezes, deficitário. Dessa forma, a pesquisa bibliográfica aqui conduzida sugere que a digitação não deve substituir a escrita à mão na aprendizagem inicial da leitura e da escrita pelas crianças.
Descargas
Citas
BAJARD, Elie. Ler e dizer: compreensão e comunicação do texto escrito. São Paulo: Cortez Editora, 1994.
CARR, Nicholas. A geração superficial: o que a Internet está fazendo com os nossos cérebros. Rio de Janeiro: Agir, 2011.
CHANGEUX, Jean-Pierre. Prefácio. In: DEHAENE, Stanislas. Os neurônios da leitura: como a ciência explica nossa capacidade de ler. Tradução de Leonor Scliar-Cabral. Porto Alegre: Penso, 2012. p. 9-14.
CULKIN, John M. A schoolman’s guide to Marshall McLuhan. The Saturday Review, [s. l.], p. 51-53, 70-72, 1967.
DEHAENE, Stanislas. Apprendre a lire: des sciences cognitives à la salle de classe. Paris: Odile Jacob, 2011.
DEHAENE, Stanislas. A aprendizagem da leitura modifica as redes corticais da visão e da linguagem verbal. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 48, n. 1, p. 148-152, 2013.
DEHAENE, Stanislas. Os neurônios da leitura: como a ciência explica nossa capacidade de ler. Tradução de Leonor Scliar-Cabral. Porto Alegre: Penso, 2012.
DEHAENE, Stanislas; PEGADO, Felipe.; BRAGA, Lucia W.; VENTURA, Paulo; FILHO, Gilberto Nunes; JOBERT, Antoinette; DEHAENE-LAMBERTZ, Ghislaine; KOLINSKY, Régine; MORAIS, José; COHEN, Laurent. How learning to read changes the cortical networks for vision and language. Science, [s. l.], v. 330, p. 1359-1364, 2010. https://doi.org/10.1126/science.1194140
DOMINGOS, Ana Cláudia Munari. Hiperleitura e leituras: pensando a formação de hiperleitores. In: RAABE, André Luís Alice; GOMES, Alex Sandro; BITTENCOURT, Ig Ibert; PONTUAL, Taciana (org.). Educação criativa: multiplicando experiências para a aprendizagem. Recife: Pipa Comunicação, 2016. p. 109-157.
GABRIEL, Rosângela; MORAIS, José; KOLINSKY, Régine. A aprendizagem da leitura e suas implicações sobre a memória e cognição. Ilha do Desterro, Florianópolis, v. 69, n. 1, p. 61-78, jan/abr. 2016a. https://doi.org/10.5007/2175-8026.2016v69n1p61
GABRIEL, Rosângela; KOLINSKY, Régine; MORAIS, José. O milagre da leitura: de sinais escritos a imagens imortais. DELTA, [s. l.], v. 32, p. 919-951, 2016b. https://doi.org/10.1590/0102-44508205042893915
GLÓRIA, Julianna Silva. A alfabetização e sua relação com o uso do computador: o suporte digital como mais um instrumento de alfabetização na escola. Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, [s. l.], v. 5, n. 2, p. 61-70, 2012. https://doi.org/10.17851/1983-3652.5.2.61-70
ISAACSON, Walter. Os inovadores: uma biografia da revolução digital. Tradução de Berilo Vargas, Luciano Vieria Machado e Pedro Maria Soares. São Paulo: Companhia da Letras, 2014.
IZQUIERDO, Ivan. Memória. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018.
KOLINSKY, Régine. How Learning to Read Influences Language and Cognition. In: POLLATSEK, A.; TREIMAN, R. The Oxford Handbook of Reading. Oxford: Oxford University Press, 2015. p. 377-393.
LONGCAMP, Marieke; ZERBATO-POUDOU, Marie-Thérèse; VELAY, Jean-Luc. The influence of writing practice on letter recognition in preschool children: A comparison between handwriting and typing. Acta Psychologica, [s. l.], 119, p. 67–79, 2005. https://doi.org/10.1016/j.actpsy.2004.10.019
LONGCAMP, Marieke; BOUCARD, Céline; GILHODES, Jean-Claude; ANTON, Jean-Luc; ROTH, Muriel; NAZARIAN, Bruno; VELAY, Jean-Luc. Learning through hand-or typewriting influences visual recognition of new graphic shapes: Behavioral and functional imaging evidence. Journal of cognitive neuroscience, [s. l.], v. 20, n. 5, p. 802 815, 2008. https://doi.org/10.1162/jocn.2008.20504
MANGEN, Anne; VELAY, Jean-Luc. Digitizing literacy: reflections on the haptics of writing. In: ZADEH, Mehrdad Hosseini. Advances in haptics. [s. l.: s. n.], 2010. p. 385-401. https://doi.org/10.5772/8710
MANGEN, Anne; ANDA, Liss G.; OXBOROUGH, Gunn H.; BRØNNICK, Kolbjørn. Handwriting versus keyboard writing: effect on word recall. Journal of writing research, [s. l.], v. 7, n. 2, 2015. https://doi.org/10.17239/jowr-2015.07.02.01
MORAIS, José. Criar leitores: para professores e educadores. Barueri: Manole, 2013.
MUELLER, Pam A.; OPPENHEIMER, Daniel M. The pen is mightier than the keyboard: Advantages of longhand over laptop note taking. Psychological science, [s. l.], v. 25, n. 6, p. 1159-1168, 2014.
NYÍRI, J. C. Thinking with a Word Processor. In: CASATI, Roberto; SMITH, Barry; WHITE, Graham (org.). Philosophy and the Cognitive Sciences: proceedings of the 16th International Wittgenstein Symposium, 15 - 22 August 1993, Kirchberg am Wechsel (Austria). Viena: Holder-Pichler-Tempsky, 1994. p. 63-74.
OLSON, David R. O mundo no papel: as implicações conceituais e cognitivas da leitura e da escrita. São Paulo: Ática, 1997.
PHREE: conheça a caneta digital que pode ser usada em qualquer superfície. Canaltech, 20 maio 2015. Disponível em:https://canaltech.com.br/gadgets/phree-conheca-a-caneta-digital-que-pode-ser-usada-em-qualquer-superficie-41737/. Acesso em: 21 maio 2019.
POERSCH, José Marcellino. O que a Lingüística tem a ver com o teclado de microcomputadores. Letras de Hoje, Porto Alegre, v.25, n.4, p. 117-170, dez. 1990.
SCLIAR-CABRAL, Leonor. Avanços das neurociências para a alfabetização e a leitura. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 48, n. 3, p. 277-282, jul/set, 2013.
SOUSA, Lucilene Bender de; GABRIEL, Rosângela. Aprendendo palavras através da leitura. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2011.
SOUZA, Marcela Tavares de; SILVA, Michelly Dias da; CARVALHO, Rachel de. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein (São Paulo), São Paulo, v. 8, n. 1, p. 102-106, mar. 2010. https://doi.org/10.1590/s1679-45082010rw1134
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2020 Letrônica
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución 4.0.
Direitos Autorais
La sumisión de originales para la Letrônica implica la transferencia, por los autores, de los derechos de publicación. El copyright de los artículos de esta revista es el autor, junto con los derechos de la revista a la primera publicación. Los autores sólo podrán utilizar los mismos resultados en otras publicaciones indicando claramente a Letrônica como el medio de la publicación original.
Licença Creative Commons
Excepto donde especificado de modo diferente, se aplican a la materia publicada en este periódico los términos de una licencia Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, que permite el uso irrestricto, la distribución y la reproducción en cualquier medio siempre y cuando la publicación original sea correctamente citada.