Deixar correr a tinta, estancar o sangue: Cartas de António Lobo Antunes em Angola
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-864X.2017.1.24678Palavras-chave:
Estado de exceção, Guerra, Cartas, António Lobo AntunesResumo
Em 1971, António Lobo Antunes é mobilizado para combater na África. Vê assim interrompido o curso dos dias em Lisboa: privado da companhia da mulher, privado também do contato com familiares e amigos, deixa em suspenso uma vida para dar início a outra –mas isso não é vida. A fragilidade causada pela guerra e a banalização da morte dão-lhe a conhecer um outro grau na manifestação da exceção. É desse lugar que começa a escrever cartas para Maria José, a sua mulher, numa escrita ansiosa que regressa repetidamente a questões ligadas a um cotidiano que pretende recuperar. Ao adentrar-nos na leitura destes breves momentos –tecido de relações cotidianas que constrói com a ida e volta das cartas– pretendemos com o presente trabalho, pensar a forma singular de resistência que oferecem estas cartas escritas em tempos de exceção: uma resistência que tem que ver com o particular, sendo, acima de tudo, palavras de pessoas comuns, situadas por fora do protagonismo militar ou político, que guardam a memória de acontecimentos traumáticos. Pretendemos igualmente contribuir para a abertura aos problemas historiográficos derivados da persistência de uma versão única e cristalizada da história, que insiste em passar a página de um tema que não se encontra encerrado, de uma justiça que tarda, considerando as vozes abaixo da superfície –por uma sociedade contra as políticas de desmemoria, pela recuperação da memória dos tempos da ditadura.
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Referências
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