A poesia do presente e a maquinaria realista
uma leitura dos poemas de Ana Guadalupe
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44474Palavras-chave:
Real, Poesia, Ana Guadalupe, Tamara Kamenszain, Josefina Ludmer.Resumo
A partir de duas antologias de poesia publicadas recentemente no Brasil– As 29 poetas hoje (2021), organizada por Heloisa Buarque de Hollanda, e É agora como nunca (2017), organizada por Adriana Calcanhotto – este artigo investiga o que Tamara Kamenszain, crítica e poeta argentina, chama de “maquinaria realista”, que estaria em funcionamento em certa produção poética desde a década de 1990. Essa maquinaria realista colocaria em cena uma poesia “profanada”, restituída ao uso, e que encena múltiplas vozes, performando um “pós-eu” que se deixa ver plenamente na poesia de Ana Guadalupe. Se em As 29 poetas hoje vemos em cena uma orquestração de vozes, um coro, pensando com Tamara Kamenszain, podemos dizer que essa pluralidade de vozes encontra um éthos comum, um eu que soma: um eu-tu-nós que apaga aquela voz unitária do eu lírico autocentrado. O artigo, assim, busca tornar visível na análise de alguns poemas de Ana Guadalupe que ali também está em cena uma espécie de eu que, na verdade, nunca é somente autoral ou autobiográfico: um eu que sabe e reconhece as marcas pelas quais passou; um eu provisório; um eu, por vezes, estrangeiro; um eu que se inaugura no instante-já do poema, no aqui-agora do poema; um eu que se retroalimenta numa possível releitura (do poema); um eu refém de outros eus. Esse coro de eus nos apresenta a tarefa de tentar entender os movimentos e as motivações que essa poesia profanada suscita, sendo ele mesmo uma boa amostra da poesia do presente que investe na captação de um real profanado.
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