Entre hostilidades e prazeres efêmeros
racionalização instrumental e sofrimento psíquico no trabalho de publicitários
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-3729.2025.1.44933Palavras-chave:
capitalismo neoliberal, gestão flexível, racionalização instrumental/do desejo, sociologia clínica, pesquisa narrativaResumo
Este artigo tem como objetivo identificar os nexos entre a lógica do capitalismo neoliberal, a racionalização instrumental, que marca o modelo de gestão dominante nesse sistema econômico, e o sofrimento psíquico no trabalho. Foram utilizados aportes teóricos da sociologia crítica, da sociologia clínica e da psicodinâmica do trabalho para abordar o entrelaçamento das dimensões macrossocial, mesossocial e microssocial desse fenômeno e compreender a adesão dos indivíduos que vivenciam o sofrimento psíquico nas organizações. Uma pesquisa qualitativa, com base em 12 narrativas de vida, foi empreendida com profissionais de publicidade da cidade de São Paulo. Essa categoria foi escolhida porque, na dimensão macrossocial, ela é responsável pela comunicação que sustenta a reprodutibilidade do sistema econômico; na dimensão mesossocial, as agências espelham as tensões da concorrência do mundo empresarial; e na dimensão microssocial, a relação de trabalho no setor é permeada pela informalidade e pela criatividade. Os achados da pesquisa evidenciam que, diante do crescente individualismo e competitividade que marcam o capitalismo neoliberal, os trabalhadores projetam ideais pessoais no quadro organizacional, racionalizando seu desejo em prol das metas das empresas. Consequentemente, eles extrapolam os seus limites físicos e psíquicos. A investigação também mostrou que, ao delegar responsabilidade e autonomia para os trabalhadores, a gestão flexível funciona como agente estressor na dinâmica da psiqué no contexto contemporâneo.
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