Janelas, câmeras e personas

a autoficção como gesto reflexivo de insurgência no cinema prisional de Jafar Panahi

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1980-3729.2023.1.41289

Palavras-chave:

Autobiografia, Autoficção, Reflexividade, Jafar Panahi, Isto não é um filme

Resumo

Desde que foi sentenciado à prisão domiciliar pelo governo iraniano, o cineasta Jafar Panahi vem realizando filmes que diluem as fronteiras entre documentário e ficção ao interpretar versões de si mesmo. A partir das limitações estéticas impostas por uma condição de censura e negação à imagem, este artigo analisa cenas e elementos dos filmes Isto não é um filme (2011) e Cortinas Fechadas (2013). Nesses filmes, ele coloca a própria subjetividade em um jogo que combina a reflexividade do “novo cinema iraniano” (MELEIRO, 2008; SADR, 2006; TAPPER, 2006) a um gesto de insurgência política contra seus repressores. Neste artigo, analisa-se como as dimensões autobiográfica (LEJEUNE, 2014; LANE, 2002), autoficcional (DOUBROVSKY, 1977; COLONNA, 2004) e reflexiva (GIDDENS, 2002; RUBY, 1996) se imprimem de formas distintas nesses filmes. Neles, entende-se a autoficção como um lugar que tensiona realidade e ficção, pessoa e personagem, negações e afirmações em torno dos filmes e do diretor.

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Biografia do Autor

Márcio Andrade, Universidade do Estado de Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Doutor em Comunicação pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), no Rio de Janeiro, RJ, Brasil, com período sanduíche na Universidad de Navarra, Espanha. Mestre em Educação Tecnológica e graduado em Rádio e TV pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife, PE, Brasil. Coordenador da produtora de conteúdo Combo Multimídia, em Recife, PE, Brasil.

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Publicado

2023-08-21

Como Citar

Andrade, M. (2023). Janelas, câmeras e personas: a autoficção como gesto reflexivo de insurgência no cinema prisional de Jafar Panahi. Revista FAMECOS, 30(1), e41289. https://doi.org/10.15448/1980-3729.2023.1.41289

Edição

Seção

Cinema