Educação (histórica) modeladora e negação do outro no Sul do Brasil

Reflexões sobre as possibilidades de diálogo e superação do etnocentrismo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/2179-8435.2021.1.39515

Palavras-chave:

Memória, Educação histórica, Diálogo

Resumo

O presente artigo apresenta questões sobre a educação histórica e as relações Eu-Outro baseadas na realidade de três municípios do Sul do Brasil, Arroio Trinta (SC), Treze Tílias (SC) e Áurea (RS), marcados pela (re)produção de uma história pública que enfatiza traços da cultura europeia imigrante. Problematiza essas narrativas, disponíveis em sites oficiais dos municípios, com base em pesquisa bibliográfica, especialmente Levinas e Gur-Ze’ev. Identifica a existência de uma educação modeladora e de histórias públicas, em cada um desses municípios, que negam e/ou atacam a outridade e criam obstáculos para o convívio pacífico entre diferentes. Conclui-se que, para a superação do etnocentrismo, é necessário o esforço para a construção de uma contramemória como ponto de partida para a contraeducação histórica, especialmente em tais localidades, distantes dos grandes centros urbanos, criando as oportunidades para o diálogo, para a ética e para a paz positiva.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Bruno Antonio Picoli, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Chapecó, SC, Brasil.

Doutor em Educação, Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e Líder do Grupo de Pesquisa em Educação, Violência e Democracia (GRUPEVD).

Lara Andrade Camine, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Chapecó, SC, Brasil.

Acadêmica do curso de História da Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Chapecó, Graduanda do curso de História

Milena Caregnato, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Chapecó, SC, Brasil.

Acadêmica do curso de História da Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Chapecó, Graduanda do curso de História.

Referências

ADORNO, Theodor. Educação e emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.

ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

ARENDT, Hannah. A condição humana. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2017.

______. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

______. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2016.

ARROIO TRINTA. História de Arroio Trinta. Município de Arroio Trinta. Disponível em: https://www.arroiotrinta.sc.gov.br/municipio/index/codMapaItem/19314

ÁUREA. Seção História. Município de Áurea. Disponível em: https://aurea.rs.gov.br/pg.php?area=HISTORIA

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e História da cultura. 7ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

______. Para a crítica da violência. In: ______. Escritos sobre mito e linguagem. 2ª Ed. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2013.

BICKMORE, Kathy. Teacher development for conflict participation: Facilitating learning for ‘difficult citizenship’ education. International Journal of Citizenship and Teacher Education, v. 1, n. 2, p. 1-15, 2005. Disponível em: http://www.citized.info/ejournal/Vol%201%20Number%202/007.pdf

BIESTA, Gert. O dever de resistir: sobre escolas, professores e sociedade. Educação, v. 41, n. 1, p. 21-29, 2018. ______ http://doi.org/10.15448/1981-2582.2018.1.29749

BIESTA, Gert. Para além da aprendizagem: educação democrática para o futuro humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

CARBONERA, Mirian. Notas sobre a História das sociedades pré-coloniais do oeste-catarinense. Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, Criciúma, n. 11, 2013. Disponível em: http://periodicos.unesc.net/historia/article/view/1129

CASTRO, Janio R. B. A proposição do conceito de centralidade cultural e a promoção de eventos festivos como estratégia de turistificação de pequenas cidades: reflexões a partir de alguns estudos de caso. In: HENRIQUE, Wendel; LOPES, Diva M. F. (Orgs.). Cidades médias e pequenas: teorias, conceitos e estudos de caso. Salvador: SEI, 2010. p. 109-122.

CREMIN, Hilary; GUILHERME, Alexandre Anselmo. Violence in schools: Perspectives (and hope) from Galtung and Buber. Educational Philosophy and Theory, v. 1, p. 1-15, 2015. https://doi.org/10.1080/00131857.2015.1102038

CREMIN, Hilary; SELLMAN, Edward; MCCLUSKEY, Gillean. Interdisciplinary perspectives on restorative justice: Developing insights for education. British Journal of Educational Studies, v. 60, p. 421-437, 2012. https://doi.org/10.2307/23359844

CURLE, Adan; FREIRE, Paulo; GALTUNG, Johan. What can education contribute towards peace and social justice? Curle, Freire, Galtung panel. In: HAAVELSRUD, Magnus. (Org.). Education for Peace: Reflection and Action. Keele: University of Keele, 1974. p. 64-97.

ELIAS, Norbert; SCOTSON, John L. Os Estabelecidos e os Outsiders. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.

FAGUNDES, Bruno F. L. História pública brasileira e internacional: seu desenvolvimento no tempo, possíveis consensos e dissensos. Revista NUPEM, Campo Mourão, v. 11, n. 23, p. 29-47, 2019. https://doi.org/10.33871/nupem.v11i23.635

G1. Suíça baiana: conheça cidade que tem PIB de 6,2 bilhões e o maior rebanho de equinos do estado. G1 Bahia, 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/ba/bahia/avanca/noticia/2019/06/01/suica-baiana-conheca-cidade-que-tem-pib-de-62-bilhoes-e-o-maior-rebanho-de-equinos-do-estado.ghtml

GALTUNG, Johan. Peace by peaceful means: Peace and conflict, development, & civilization. London: Sage Publications & International Peace Research Association, 1996.

______. Peace: Research, education, action. Essays in peace, Research Vol. I. Copenhagen: Christan Ejlers, 1975.

GILL, Scherto; NIENS, Ulrike. Education as humanisation: A theoretical review on the role of dialogic pedagogy in peacebuilding education. Compare: A journal of comparative and international education, v. 41, 10-31, 2014. https://doi.org/10.1080/03057925.2013.859879

GUILHERME, Alexandre Anselmo; MORGAN, W. John. Filosofia, diálogo e educação: Nove Filósofos Europeus Modernos. Brasília: UNESCO, 2020.

GUR-ZE’EV, Ilan. Adorno and Horkheimer: Diasporic Philosophy, Negative Theology, and Counter‐education. Educational theory, v. 55, n. 3, 343-365, 2005. https://doi.org/10.2304%2Fpfie.2010.8.3.298

______. É possível uma educação crítica no ciberespaço? Comunicações, v. 9, n. 1, p. 72-98, 2002. https://doi.org/10.15600/2238-121X/comunicacoes.v9n1p72-98

______. The Morality of Acknowledging/Not-Acknowledging of the Other’s Holocaust/Genocide. Journal of Moral Education, v. 27, n. 2, p. 161-177, 1998. https://doi.org/10.1080/0305724980270203

______. The Possibility/Impossibility of a New Critical Language in Education. Rotterdan: Sense Publishers, 2010a.

______. The Nomadic Existence of the Eternal Improviser and Diasporic Co-Poiesis Today. In: ______. (Ed.). Diasporic Philosophy and Counter Education. Rotterdan: Sense Publishers, 2010b.

______. The Production of Self and the Destruction of the Other’s Memory and Identity in Israeli/Palestinian Education on the Holocaust/Nakbah. Studies in Philosophy and Education, v. 20, p. 255-266, 2001. https://doi.org/10.1023/A:1010367128782

GUR-ZE’EV, Ilan; PAPPÉ, Ilan. Beyond the Destruction of the Other’s Colletive Memory: Blueprints for a Palestinian/Israeli Dialogue. Theory, Culture & Society, v. 20, n. 1, p. 93-108, 2003. https://doi.org/10.1177/0263276403020001922

GUR-ZE’EV, Ilan; MASSCHELEIN, Jan; BLAKE, Nigel. Reflection. In: Proceedings of the Philosophy of Education of Great Britain. Oxford: Oxford University, 1998. p. 223-233.

______. Reflectivity, reflexion, and counter-education. Studies in Philosophy and Education, v. 20, n. 2, p. 93-106, 2001. https://doi.org/10.1023/A:1010303001871

IBGE. IBGE cidades. 2020. Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/

LÉVINAS, Emmanuel. Autrement qu’être ou Au-delà de l’Essence. Paris: Martinus Nijhoff, 1978.

______. Humanismo do outro homem. 3ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

______. Totalidade e infinito. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1988.

MELO, Diogo Neves et al. Regularização fundiária na região Meio Oeste Contestado de Santa Catarina. Campo-Território: Revista de Geografia Agrária, v. 12, n. 27, 2018. https://doi.org/10.14393/RCT122710

PICOLI, Bruno Antonio. Base Nacional Comum Curricular e o canto da sereia da educação normalizante: a articulação neoliberal-neoconservadora e o dever ético-estético da resistência. Revista de Estudios Teoricos y Epistemológicos em Política Educativa, v. 5, p. 1-23, 2020. https://doi.org/10.5212/retepe.v.5.15036.007

PICOLI, Bruno Antonio; GUILHERME, Alexandre Anselmo. É possível Educação em Educação a Distância? Reflexões a partir da ética da responsabilidade de Levinas e do Eros transcendental de Gur-Ze’ev. Práxis Educativa, v. 15, p. 1-21, 2020a. https://doi.org/10.5212/PraxEduc.v.16244.089

______. Memória, ética e estética: algumas considerações a partir de Adrono, Levinas e Gur-Ze’ev. Veritas, v. 65, n. 2, p. 1-11, 2020b. https://doi.org/10.15448/1984-6746.2020.2.37851

RADIN, José Carlos. (Org.). Cultura e Identidade Italiana no Brasil: algumas abordagens. Joaçaba, Itajai: UNOESC, Editora Maria do Cais, 2005.

______. Imigração Italiana em Santa Catarina e no Paraná: fontes diplomáticas italianas (1875-1927). Chapecó: Ed. UFFS, 2020.

______. Italianos e Ítalo-brasileiros na Colonização do Oeste Catarinense. Joaçaba: Edições UNOESC, 2001.

______. Representações da colonização. Chapecó-SC: Argos, 2009.

SAID, Edward. The Politics of Dispossession. Londres: Chatto and Windus, 1994.

TREZE TÍLIAS. Apresentação. Município de Treze Tílias. Disponível em: https://www.trezetilias.sc.gov.br/municipio/index/codMapaItem/17377

______. Estrutura organizacional. Município de Treze Tílias. Disponível em: https://www.trezetilias.sc.gov.br/estruturaorganizacional/index/index/codMapaItem/110535

VALENTINI, Delmir José. A Guerra do Contestado (1912–1916). In: VALENTINI, Delmir José; RADIN,José Carlos; ZARTH, Paulo Afonso. (Orgs.). História da Fronteira Sul. Porto Alegre RS / Chapecó SC: Letra e Vida / UFFS, 2015. p. 222-248.

VERONEZ, Kelly. Conheça Áurea, um pedaço da Polônia no Rio Grande do Sul. GZH Viagem, 2017. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/viagem/noticia/2017/04/conheca-aurea-um-pedaco-da-polonia-no-rio-grande-do-sul-9779226.html.

VICENZI, Renilda. Mito e história na colonização do oeste catarinense. Chapecó-SC: Argos, 2008.

VICENZI, Renilda; PICOLI, Bruno Antonio. “Uma cidade branca”: desafios para uma educação étnico-racial. In: BUENO, André; ESTACHESKI, Dulceli; SATLER, Carla. (Orgs.). Ensino de História e Etnicidades. Rio de Janeiro/Nova Andradina: Sobre Ontens/UFMS, 2020. p. 31-37.

WENCZENOVICZ, Thais Janaina. Montanhas que furam as nuvens: Imigração Polonesa em Áurea. Passo Fundo/RS: EDIUPF, 2002.

WENCZENOVICZ, Thais Janaina. Pequeninos Poloneses: cotidiano das crianças polonesas (1920-1960). Xanxerê: Editora News Print, 2010.

WERLANG, Alceu Antonio. Disputas e ocupação do espaço no oeste catarinense. Chapecó-SC: Argos, 2006.

Downloads

Publicado

2021-08-09

Como Citar

Picoli, B. A., Camine, L. A., & Caregnato, M. (2021). Educação (histórica) modeladora e negação do outro no Sul do Brasil: Reflexões sobre as possibilidades de diálogo e superação do etnocentrismo. Educação Por Escrito, 12(1), e39515. https://doi.org/10.15448/2179-8435.2021.1.39515

Edição

Seção

Artigos

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)