O desembrulhar das asas da guará vermelha
Estereótipo e subjetividade em Maria Valéria Rezende
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.45277Palavras-chave:
Representação, Prostituição, EstereótipoResumo
A presente pesquisa busca analisar a representação da prostituição feminina na obra de Maria Valéria Rezende, "O voo da guará vermelha” (2014). O romance traz a cuidadosa construção da protagonista Irene, através de um viés subjetivo, subvertendo as narrativas usuais acerca das personagens que exercem trabalho sexual. O foco da análise é o processo de construção do "eu" da personagem prostituta, levando em consideração as características que corroboram com o desenvolvimento da identidade. Ao decorrer do texto serão averiguados variados aspectos que contribuem para a ruptura do estereótipo na representação literária, questões essas que envolvem o corpo feminino, a transformação em mercadoria e demais rótulos imputados às trabalhadoras sexuais, indivíduos pouco célebres do submundo erótico. Nesse sentido, o romance abordará o estereótipo como âncora para sua própria anulação, expondo assim suas raízes e contradições. Já os elementos que sustentam a identidade da personagem, por sua vez, opõem-se à força do estereótipo e cimentam sua humanização. A autora utiliza recursos como a memória e a narrativa intimista, que buscam reaver o protagonismo da prostituta, figura estigmatizada tanto na sociedade quanto na literatura, e seu reconhecimento como sujeito. Por meio de lembranças e fluxos de consciência, a identidade da personagem é constituída, expondo seus desejos, sonhos, sentimentos e medos, sem que haja uma propensão a vitimizações ou condenações. Dessa forma, nos debruçaremos sob as manifestações de uma representação subjetiva, demonstrando como ela confronta intrinsecamente o estereótipo. Para tal, nos ampararemos em autores referências como Homi Bhabha, Pierre Bourdieu, Aleida Assmann e Judith Butler.
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