Sob a veridicção do discurso midiático

Subjetividades segregadas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-7726.2022.1.43371

Palavras-chave:

notícia, discurso, subjetividade, discriminação

Resumo

O presente artigo desdobra um olhar sobre a notícia policial jornalística, à luz da Análise do Discurso francesa e dos estudos sobre gêneros discursivos. Entre alguns autores que fundamentam nossa discussão, Foucault (2002a, 2002b, 2008) e Quinalha (2017) postulam percepções sobre a relação entre o sujeito e o seu lugar histórica e simbolicamente marcado nos discursos. Entre os dados coletados, constituídos por um conjunto de notícias extraídas da mídia nacional, veiculadas em jornais impressos, nos anos 1980, e digitais, na atualidade, analisamos uma notícia de 1984. Observamos como os sentidos de crimes cometidos contra homossexuais eram enunciados pela mídia brasileira e como inscreviam, de modo regulador e capcioso, esses sujeitos em um processo identitário de discriminação e marginalidade. Ponderamos como os discursos se alinham, entre passado e presente, em uma dada regularidade, e como retomam, cotidianamente, efeitos de exclusão do homossexual, na medida em que, em sua estrutura, lhe assinalam um lugar de enunciação segregado em estereótipos. O enunciado midiático, portanto, é o objeto a se perscrutar em suas condições de produção, para que se torne possível desmistificar sentidos incrustrados na opacidade de suas notícias sobre homossexuais assassinados. Somamos a isso uma reflexão sobre o papel da escola ante as questões de gênero e sexualidade, bem como sobre a transversalidade desse tema no campo da educação, especialmente, em diretrizes curriculares oficiais. Afinal, ao lermos essas notícias, estamos em uma constante busca para entendermos o olhar que elas lançam sobre o homossexual e que, de modo gradual, empreendem uma história sobre sua existência em diferentes esferas sociais. Trata-se de um jogo enunciativo de poder que enreda o homossexual em uma visibilidade conflitante, segregada e silenciada pela violência, ao instituir sentidos que, particularmente, aprimoram sua exclusão e sua humilhação. 

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Biografia do Autor

Fernanda Fernandes Pimenta de Almeida Lima, Universidade Estadual de Goiás (UEG), Inhumas, GO, Brasil.

Doutora em Linguística pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), em Araraquara, SP, Brasil; pós-doutorado em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em Campinas, SP, Brasil; mestre em Linguística pela Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia, GO, Brasil. Professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em Inhumas, GO, Brasil.

Valdivino Pereira Mendanha Júnior, Universidade Estadual de Goiás (UEG), Inhumas, GO, Brasil.

Graduado em Letras pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), em Inhumas, GO, Brasil. Professor da Educação Básica, em Inhumas, GO, Brasil.

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Publicado

2022-11-17

Como Citar

Lima, F. F. P. de A., & Júnior, V. P. M. (2022). Sob a veridicção do discurso midiático: Subjetividades segregadas. Letras De Hoje, 57(1), e43371. https://doi.org/10.15448/1984-7726.2022.1.43371

Edição

Seção

Dossiê: Discursos Discriminatórios como Fratura da Sociedade Brasileira