Compreensão da prescrição de medicamentos em uma unidade básica de saúde: autorrelato do usuário e aferição pelo pesquisador

Autores

  • Cristiane Olinda Coradi Programa de Pós-Graduação em Medicamentos e Assistência Farmacêutica da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG – Brasil.
  • Jussara dos Santos Cardoso Curso de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG – Brasil.
  • Ronara Camila de Souza Groia Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte. Belo Horizonte, MG – Brasil.
  • Karina Cristina Lima Silva Hospital Risoleta Tolentino Neves. Belo Horizonte, MG – Brasil.
  • Maria das Graças Braga Ceccato Departamento de Farmácia Social da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Belo Horizonte, MG – Brasil.
  • Marina Guimarães Lima Departamento de Farmácia Social, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.15448/1980-6108.2016.4.24934

Palavras-chave:

assistência farmacêutica, atenção primária à saúde, avaliação em saúde, farmacoterapia.

Resumo

Objetivos: Avaliar a compreensão das receitas de medicamentos por parte dos pacientes, comparando o autorrelato do usuário com a aferição do pesquisador.

Métodos: Um estudo transversal foi realizado no período de novembro de 2013 a fevereiro de 2014 em uma Unidade Básica de Saúde do município de Belo Horizonte, Minas Gerais. Foram entrevistados os usuários com 18 anos de idade ou mais que buscaram medicamentos na farmácia da unidade, para si ou para menores sob sua responsabilidade. A seleção da amostra foi por conveniência, não probabilística. Durante a entrevista, os usuários declaravam se haviam entendido os seguintes dados das prescrições: nome do medicamento, dose e frequência. Posteriormente, os participantes repetiam para os pesquisadores os dados das receitas, podendo consultá-las no mesmo momento. Após as entrevistas, as respostas às perguntas foram interpretadas pelos pesquisadores, que avaliaram a concordância entre as informações fornecidas pelos usuários e as reais instruções das receitas, utilizando o teste de Kappa.

Resultados: Foram coletados dados de 69 usuários da farmácia da unidade (correspondentes a 69 receitas dispensadas). Cinquenta e nove (85,5%) usuários relataram ter compreendido todos os dados das prescrições (autorrelato), enquanto segundo a aferição dos pesquisadores, foram 23 (33,3%) entrevistados que compreenderam simultaneamente todos os dados, referentes ao nome do medicamento, número de doses diárias e horário de administração. O teste de Kappa indicou um grau de concordância entre o autorrelato e a aferição dos pesquisadores de 0,138 (ligeira) considerando todos os itens da receita, sendo que especificamente sobre o número de doses a concordância foi de -0,055 (fraca).

Conclusões: A taxa de compreensão das prescrições de medicamentos autorrelatada pelos pacientes não concordou com a avaliação dos pesquisadores, a qual indicou uma taxa de compreensão menor do que a autorrelatada. Este resultado sugere que o autorrelato dos pacientes com relação à compreensão da prescrição apresenta limitações e deve ser interpretado com cautela na pesquisa e na prática clínica. Recomenda-se que sejam aprimorados os meios de fornecer a informação ao paciente a fim de contribuir para a compreensão adequada da prescrição de medicamentos.

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Publicado

2016-11-24

Como Citar

Coradi, C. O., Cardoso, J. dos S., Groia, R. C. de S., Silva, K. C. L., Ceccato, M. das G. B., & Guimarães Lima, M. (2016). Compreensão da prescrição de medicamentos em uma unidade básica de saúde: autorrelato do usuário e aferição pelo pesquisador. Scientia Medica, 26(4), ID24934. https://doi.org/10.15448/1980-6108.2016.4.24934

Edição

Seção

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