Vulnerabilidade ao estresse e alimentação: um estudo no contexto do trabalho
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-6108.2015.2.20372Palavras-chave:
comportamento alimentar, esgotamento profissional, saúde do trabalhador, vulnerabilidade em saúde, estresse psicológico.Resumo
Objetivos: Analisar a vulnerabilidade ao estresse no contexto do trabalho e suas implicações com a alimentação.
Métodos: Estudo transversal com trabalhadores de uma indústria do estado de Santa Catarina. Os instrumentos utilizados foram a Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho (EVENT) e um questionário estruturado. Foram analisadas seis variáveis sociodemográficas e ocupacionais (idade, sexo, escolaridade, turno de trabalho, setor/unidade de trabalho, tempo de trabalho), nível de vulnerabilidade ao estresse (segundo a EVENT) e, ainda, cinco variáveis alimentares onde o nível de estresse considerado foi o autorreferido e não a vulnerabilidade avaliada pela EVENT. A análise de dados empregou o teste t de Student e o qui-quadrado de Pearson e de tendência linear, sendo adotado o nível de significância de 5% (p≤0,05).
Resultados: Foram avaliados 309 industriários, com média de idade de 30,9±10,1 anos e predomínio de mulheres (60,2%). Tinham ensino médio completo 44,7% e ensino fundamental completo 25,5%. O tempo de trabalho na empresa teve mediana de 23 meses (intervalo interquartil 7-57); 81,6% trabalhavam no período diurno e 18,4% no noturno. O escore médio de vulnerabilidade ao estresse foi 22±11,6 pontos; 249 (80,6%) participantes foram classificados nos níveis inferiores de vulnerabilidade ao estresse e 60 (19,4%) nos superiores. Houve associação entre elevada vulnerabilidade ao estresse pela EVENT e alteração autorreferida na alimentação em condições de estresse (p=0,028). A prevalência de elevada vulnerabilidade ao estresse aumentou com o tempo de empresa (p=0,034). Sob estresse autorreferido, as mulheres relataram ter mais fome, alteração na alimentação e preferência por doces (p<0,001).
Conclusões: O grupo de trabalhadores na indústria apresentou prevalência de níveis inferiores de vulnerabilidade ao estresse, com a pressão no trabalho representando o principal fator estressor. Níveis superiores de vulnerabilidade ao estresse estiveram associados ao aumento do tempo de trabalho na empresa, assim como à percepção de que o trabalho causa estresse e interfere na alimentação. A constatação de que, sob condição de estresse autorreferido relacionado ao trabalho, a prevalência de alteração percebida na alimentação foi maior entre as mulheres, associada ao aumento da fome e à preferência por doces, indica uma maior suscetibilidade deste grupo a essas alterações, com potenciais riscos de agravos à saúde.
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