Formatação, visibilidade e exclusão de pessoas trans* no Tinder
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-3729.2024.1.45778Palavras-chave:
Plataformas, Gênero, Materialidade, Infopoder, Formul´ário de DadosResumo
Para criar um perfil no aplicativo de relacionamento Tinder, deve-se inserir nome, idade e informar a autoidentificação de gênero e orientação sexual. Esses dados (recursos mandatórios para a construção da identidade algorítmica do usuário) podem ser anonimizados nas informações do perfil. Ao mesmo tempo que aplicativos para encontros majoritariamente heterossexuais passaram a se adequar, oferecendo novas formas de identificação de gênero nesses formulários, pessoas trans* continuaram sendo potenciais alvos da combinação entre misoginia e transfobia, vítimas da aplicação injusta ou descontextualizada de regras, termos de serviços e códigos de conduta. Formulários são instrumentos de formatação da informação, produzindo o que Koopman (2019) chama de “infopoder” e que cria uma “pessoa informacional”. Esse artigo investiga o formulário de entrada do Tinder analisando o infopoder que se estabelece pela formatação dessa pessoa. Conclui-se que, ao obrigar a identificação, os formulários produzem um regime de visibilidade próprio que incide na exclusão de pessoas transgênero. É essa obrigação, esse infopoder, que produz a formatação da pessoa informacional visível (como “trans*”, no caso analisado). Isso gera perturbação, ampliando formas de denúncia, podendo chegar ao banimento, também administrado por outro formulário. O problema não é mais o da invisibilidade, mas o da visibilidade formatada no infopoder.
Downloads
Referências
ALVES, Soraia. Tinder lança opções “Identidade de Gêneros” e “Orientações Sexuais” no Brasil. B9, São Paulo, jun. 2020. Disponível em: https://www.b9.com.br/128112/tinder-lanca-opcoes-identidade-de-generos-e-orientacoes-sexuais-no-brasil. Acesso em: 9 nov. 2023.
AMOORE, Louise. Cloud ethics: algorithms and the attributes of ourselves and others. Durham: Duke University Press, 2020. DOI: https://doi.org/10.1215/9781478009276
BAGAGLI, Beatriz Pagliarini. “Cisgênero” nos discursos feministas: uma palavra “tão defendida; tão atacada; tão pouco entendida”. Campinas: Iel - Unicamp, 2018.
BARAD, K. Performatividade pós-humanista: para entender como a matéria chega à matéria. Vazantes, Fortaleza, v. 1, n. 1, p. 6-34, 2017.
BELLANOVA, Rocco et al. Toward a Critique of Algorithmic Violence. International Political Sociology, London, v. 15, n. 1, p. 121-150, mar. 2021. DOI: https://doi.org/10.1093/ips/olab003
BERRY, David M. Introduction: Understanding the digital humanities. In: BERRY, David M. (org.). Understanding digital humanities. London: Palgrave Macmillan, 2012. p. 1-20. DOI: https://doi.org/10.1057/9780230371934_1
BIVENS, Rena. The gender binary will not be deprogrammed: Ten years of coding gender on Facebook. New Media and Society, London, v. 19, n. 6, p. 880-898, 2017. DOI: https://doi.org/10.1177/1461444815621527
BUCHER, Taina. If... Then: Algorithmic Power and Politics. New York: Oxford University Press, 2018. DOI: https://doi.org/10.1093/oso/9780190493028.001.0001
CHENEY-LIPPOLD, John. We Are Data: Algorithms and the Making of Our Digital Selves. New York: New York University Press, 2017. DOI: https://doi.org/10.2307/j.ctt1gk0941
DEVITO, Michael Ann. How Transfeminine TikTok Creators Navigate the Algorithmic Trap of Visibility Via Folk Theorization. Proceedings of the ACM on Human-Computer Interaction, New York, v. 6, n. CSCW2, p. 1-31, 7 nov. 2022. DOI: https://doi.org/10.1145/3555105
DIJCK, José Van; POELL, Thomas; WAAL, Martijn De. The Platform Society. New York: Oxford University Press, 2018.
GILLESPIE, Tarleton. Custodians of the Internet: platforms, content moderation, and the hidden decisions that shape social media. New Haven, CT: Yale University Press, 2018. DOI: https://doi.org/10.12987/9780300235029
HALBERSTAM, J. Trans*: uma abordagem curta e curiosa sobre a variabilidade de gênero. Salvador: Devires, 2023.
IGUAL, Roberto. Tinder addresses complaints of transgender discrimination. Mambagirl News, Johannesburg, nov. 2019. Disponível em: https://www.mambaonline.com/2019/11/13/tinder-addresses-complaints-of-transgender-discrimination. Acesso em: 9 nov. 2023.
KOOPMAN, Colin. How We Became Our Data: A Genealogy of the Informational Person. Chicago: The University of Chicago Press, 2019. DOI: https://doi.org/10.7208/chicago/9780226626611.001.0001
LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução à teoria do ator-rede. Salvador: Edufba, 2012.
LEMOS, André. Dataficação da vida. Civitas, Porto Alegre, v. 21, n. 2, p. 193-202, 2021. DOI: https://doi.org/10.15448/1984-7289.2021.2.39638
LEMOS, André. Epistemologia da Comunicação, Neomaterialismo e Cultura Digital. Galáxia, São Paulo, n. 43, p. 54-66, jan./abr. 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/1982-25532020143970
LEMOS, André. Privacidade e Infopoder. In: SANTAELLA, Lucia. (org.). Simbioses do Humano e Tecnologias. São Paulo: EdUSP, IEA-USP, 2022. p. 33-50.
LEMOS, André; OLIVEIRA, Amanda. Banida por ser trans? Enviesamentos algorítmicos, plataformas e denúncia no Tinder. Comunicação & Sociedade, São Paulo, v. 45, n. 2, p. 129-160, 2023. DOI: https://doi.org/10.15603/2176-0985/cs.v45n2p129-160
LIGHT, Ben; BURGESS, Jean; DUGUAY, Stefanie. The walkthrough method: An approach to the study of apps. New Media and Society, London, v. 20, n. 3, p. 881-900, 2018. DOI: https://doi.org/10.1177/1461444816675438
LUNARDI, Augusta. Tinder faz campanha contra LGBTfobia, mas continua a banir perfis de pessoas trans. Agência Pública, São Paulo, maio. 2022. Disponível em: https://apublica.org/2022/05/tinder-faz-campanha-contra-lgbtfobia-mas-continua-a-banir-perfis-de-pessoas-trans. Acesso em: 9 nov. 2023.
MENON, Isabella. Em 10 anos, Tinder transformou paquera em jogo e deu mais poder às mulheres. Folha de S.Paulo, São Paulo, set. 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/09/em-10-anos-tinder-transformou-paquera-em-jogo-e-deu-mais-poder-as-mulheres.shtml. Acesso em: 9 nov. 2023.
MISKOLCI, Richard. Batalhas morais: política identitária na esfera pública técnico-midiatizadora. São Paulo: Autêntica Editora, 2021.
MULKERIN, Tim. A trans woman said she was banned from Tinder because of transphobic men — again. MIC, New York, dez. 2017. Disponível em: https://www.mic.com/articles/186550/a-trans-woman-said-she-was-banned-from-tinder-because-of-transphobic-men-again#.NRNF1ufUv. Acesso em: 9 nov. 2023.
PASQUALE, Frank. The Black Box Society: The Secret Algorithms That Control Money and Information. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2015. DOI: https://doi.org/10.4159/harvard.9780674736061
REARICK, Lauren. Transgender People Say They’re Being Banned From Tinder. TeenVogue, New York, dez. 2017. Disponível em: https://www.teenvogue.com/story/transgender-people-tinder-ban. Acesso em: 9 nov. 2023.
SILVA, Mariah Rafaela. Zonas de ten(s)ão entre desejo e nojo: cisgeneridade como paradigma de subjetivação sexual. Salvador: Devires, 2023.
TIERNEY, Allison. Why Are Trans People Being Banned From Tinder? Vice, New York, dez. 2017. Disponível em: https://www.vice.com/en/article/xwvaaz/why-do-trans-people-keep-being-banned-from-tinder. Acesso em: 9 nov. 2023.
VINCENT, Addison Rose. Does Tinder Have a Transphobia Problem? Huffpost, New York, mar. 2016. Disponível em: https://www.huffpost.com/entry/does-tinder-have-a-transp_b_9528554. Acesso em: 9 nov. 2023.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Revista FAMECOS
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Direitos Autorais
A submissão de originais para a Revista Famecos implica na transferência, pelos autores, dos direitos de publicação. Os direitos autorais para os artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos da revista sobre a primeira publicação. Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente a Revista Famecos como o meio da publicação original.
Licença Creative Commons
Exceto onde especificado diferentemente, aplicam-se à matéria publicada neste periódico os termos de uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, que permite o uso irrestrito, a distribuição e a reprodução em qualquer meio desde que a publicação original seja corretamente citada.