A (não) cobertura dos riscos ambientais: debate sobre silenciamentos do jornalismo
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-3729.2017.3.26545Palavras-chave:
Jornalismo, Riscos ambientais, SilenciamentosResumo
Este artigo propõe um debate a respeito do papel do jornalismo no que tange dar visibilidade aos riscos ambientais, ainda que se saiba das dificuldades encontradas na cultura jornalística a respeito do tratamento preventivo dos assuntos. A partir da perspectiva da percepção de riscos, reforça-se a ideia de que o jornalismo participa como um dos fatores que podem gerar ação frente às questões ambientais em razão de seu poder amplificador ou, pelo contrário, contribuir para a não compreensão dos riscos, quando os ignora. Após revisão de literatura e discussão a partir de casos de cobertura sobre riscos ambientais, verifica-se que há muitos silenciamentos no jornalismo. Dentre as considerações, aponta-se que os próprios valores que guiam a construção da notícia impedem a emergência de um jornalismo comprometido com a percepção dos riscos, fato este que – por sua vez – dificulta o enfrentamento dos mesmos. Logo, argumenta-se que as mudanças da sociedade devem implicar também em transformações das lógicas jornalísticas.
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