Questões de gênero nos grupos bolsonaristas no Whatsapp

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1980-3729.2023.1.44017

Palavras-chave:

Conservadorismo, WhatsApp, Gênero

Resumo

Este paper investiga a disseminação de discursos depreciativos envolvendo questões de gênero em grupos conservadores no aplicativo de mensagens WhatsApp. A reflexão teórica aciona as recentes discussões sobre o conservadorismo de gênero e o papel do WhatsApp como plataforma de compartilhamento desses discursos, à luz de Biroli et al. (2020), Chagas et al. (2019), Santos et al. (2021), Faludi (2009) e Brown (2019). Por meio de uma análise qualitativa de uma amostra de mensagens de 70 grupos bolsonaristas, evidenciamos como argumentos antifeministas e antiLGBTQIA+, a construção da mulher violenta/traidora e a elaborações sobre a mulher ideal endossam uma concepção conservadora das relações de gênero.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Guilherme Popolin, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brasil.

Mestre em Comunicação, Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo e especialista em Comunicação
com o Mercado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), em Londrina, PR, Brasil. Doutorando em
Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense
(UFF), em Niterói, RJ, Brasil.

Letícia Sabbatini, Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.

Mestre em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal
Fluminense (PPGCOM/UFF), em Niterói, RJ, Brasil. Pesquisadora na Fundação Getúlio Vargas (FGV), na
Escola de Comunicação, Mídia e Informação (ECMI). Associada ao Laboratório de Comunicação, Culturas Políticas e Economia da Colaboração (coLAB/UFF). Doutoranda no PPGCOM/UFF, onde integra a linha de pesquisa Estéticas e Tecnologias da Comunicação.

Rayza Sarmento, Universidade Federal do Pará, (UFPA), Belém, PA, Brasil.

Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, MG, Brasil. Professora Adjunta da Faculdade de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, PA, Brasil. Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Gênero, Comunicação, Democracia e Sociedade (GCODES) – vinculado ao CNPq – e pesquisadora associada ao Margem/UFMG – Grupo de Pesquisa em Democracia e Justiça.

Referências

AUMENTA em 1.200% a participação de CACs em ocorrências envolvendo Lei Maria da Penha. In: Partido dos Trabalhadores. [S. l.], 22 mar. 2023. Disponível em: https://pt.org.br/aumenta-em-1-200-a-participacao-de-cacs-em-ocorrencias-envolvendo-lei-maria-da-penha. Acesso em: 18 jul. 2023.

BIROLI, F. et al. Gênero, neoconservadorismo e democracia: disputas e retrocessos na América Latina. São Paulo: Boitempo Editorial, 2020.

BIROLI, F. O público e o privado. In: BIROLI, F.; MIGUEL, L. F. Feminismo e política: uma introdução. São Paulo: Boitempo Editorial, 2015. p. 31-46.

BIROLI, F. Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil. São Paulo: Boitempo Editorial, 2018a.

BIROLI, F. Reação conservadora, democracia e conhecimento. Revista de Antropologia, [S. l.], v. 61, n. 1, p. 83-94, 2018b.

BIROLI, F. Gênero, “valores familiares” e democracia. In: BIROLI, F.; VAGGIONE, J. M.; MACHADO, M. das D. C. Gênero, neoconservadorismo e democracia: disputas e retrocessos na América Latina. São Paulo: Boitempo Editorial, 2020. p. 135-188.

BROWN, W. Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no ocidente. São Paulo: Politeia, 2019.

CARREIRO, R.; GOMES, W. Discussão política online no Brasil: Ocorrência e manutenção da discordância política no Facebook. In: COMPOLÍTICA, 7., 2017, Porto Alegre. Anais [...]. Porto Alegre: 2017.

CHADWICK, A. Digital network repertoires and organizational hybridity. Political Communication, [S. l.], v. 24, n. 3, p. 283-301, 2007.

CHAGAS, Viktor. Dolce farmeme: a retórica da brincadeira política. Revista Brasileira de Ciências Sociais, [S. l.], v. 38, p. 1-15, 2023.

CHAGAS, V. Eleições no WhatsApp: a atuação de redes conservadoras em ambientes de campanha opaca e ecossistemas midiáticos híbridos. In: CONGRESO INTERNACIONAL ALAS, 32., 2019, Lima. Anales [...]. Lima, Peru, 2019.

CHAGAS, V. Meu malvado favorito: os memes bolsonaristas de WhatsApp e os acontecimentos políticos no Brasil. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 34, n. 72, p.169-196, jan./abr. 2021.

CHAGAS, V.; CARREIRO, R.; SANTOS, N.; POPOLIN, G. Far-right digital activism in polarized contexts: A comparative analysis of engagement in hashtag wars. Media and communication, [S. l.], v. 10, n. 4, p. 42-55, 2022.

CHAGAS, V.; MODESTO, M.; MAGALHÃES, D. O Brasil vai virar Venezuela: medo, memes e enquadramentos emocionais no WhatsApp pró-Bolsonaro. Esferas, [S. l.], v. 8, n. 4, p. 1-17, 2019.

CHIODI, H. Ao contrário do que Bolsonaro disse, feminicídio aumentou em seu governo. In: Hoje em Dia. [S. l.], 28 out. 2022. Disponível em: https://www.hojeemdia.com.br/politica/ao-contrario-do-que-bolsonaro-disse-feminicidio-aumentou-em-seu-governo-1.929509. Acesso em: 18 jul. 2023.

CLÉBICAR, T.; BRASILIENSE, D. "Nosso gênero vem de Deus": Normatividade heterossexual e cisgênera em vídeos religiosos infantis no YouTube. ALCEU, [S. l.], v. 21, n. 45, p. 72-91, 2021.

COHEN, S. Deviance and moral panics. In: COHEN, S. Folk Devils and Moral Panics. Londres: Routledge, 2011. p. 45-64.

CORREA, S. (ed.). Políticas antigênero na América Latina: resumos dos estudos de casos nacionais. Rio de Janeiro: Associação Brasileira Interdisciplinas de Aids – ABIA, 2021.

D'ANDRÉA, C. Para além dos dados coletados: Políticas das APIs nas plataformas de mídias digitais. Matrizes, [S. l.], v. 15, n. 1, p. 103-122, 2021.

DOURADO, T. Fake News na eleição presidencial de 2018 no Brasil. 2020. Tese (Doutorado em Comunicação) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Comunicação, 2020.

EVANGELISTA, R.; BRUNO, F. WhatsApp and political instability in Brazil: targeted messages and political radicalisation. Internet Policy Review, [S. l.], v. 8, p. 1-23, 2019.

FALUDI, S. Backlash: The undeclared war against American women. New York: Crown, 2009.

FEITOSA, C. Do “Kit Gay” ao “Ministério da Família”: a desinstitucionalização das políticas públicas LGBTI+ no Brasil. Cadernos de gênero e tecnologia, [S. l.], v. 14, n. 43, p. 74-89, 2021.

FEMINICÍDIOS batem recorde, enquanto Bolsonaro corta verba de combate à violência contra a mulher. In: Rede Brasil Atual. [S. l.], 7 dez. 2022. Disponível em: https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/feminicidios-batem-recorde-enquanto-bolsonaro-corta-verba-de-combate-a-violencia-contra-a-mulher. Acesso em: 18 jul. 2023.

GIRARDET, R. Mitos e mitologias políticas. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

JUNQUEIRA, R. D. “Ideologia de gênero”: a gênese de uma categoria política reacionária – ou: a promoção dos direitos humanos se tornou uma “ameaça à família natural”? In: RIBEIRO, P.; MAGALHÃES, J. (org.). Debates contemporâneos sobre educação para a sexualidade. Rio Grande: Ed. da FURG, 2017. p. 25-52.

KOVÁTS, E.; PÕIM, M (org.). Gender as symbolic glue: the position and role of conservative and far right parties in the anti-gender mobilizations in Europe. Budapest: FEPS – Foundation for European Progressive Studies: Friedrich-Ebert-Stiftung, 2015.

LARSSON, A. The rise of Instagram as a tool for political communication: A longitudinal study of European political parties and their followers. New Media & Society, [S. l.], v. 25, n. 10, p. 2744-2762, 2021.

LIMA, R. WhatsApp está em 99% dos celulares do Brasil, diz pesquisa. In: TecMundo. [S. l.], 28 fev. 2020. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/software/150647-whatsapp-99-celulares-brasil-diz-pesquisa.htm#:~:text=WhatsApp%20est%C3%A1%20em%2099%25%20dos,do%20Brasil%2C%20diz%20pesquisa%20%2D%20TecMundo. Acesso em: 19 fev. 2022.

LIONÇO, T.; ALVES, A. C.; MATTIELLO, F.; FREIRE, A. M. Ideologia de gênero: estratégia argumentativa que forja cientificidade para o fundamentalismo religioso. Revista Psicologia Política, São Paulo, v. 18, n. 43, p. 599-621, 2018.

MASSUCHIN, M. G.; TAVARES, C. Q.; MITOZO, I. B.; CHAGAS, V. A estrutura argumentativa do descrédito na ciência: uma análise de mensagens de grupos bolsonaristas de WhatsApp na pandemia da COVID-19. Revista Fronteiras – estudos midiáticos, [S. l.], v. 23, n. 2, p. 160-174, 2021.

MATOS, M.; PARADIS, C. Desafios à despatriarcalização do Estado brasileiro. Cadernos Pagu, [S. l.], n. 43, p. 57-118, 2014.

MELLO, P. A máquina do ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

MIGUEL, L. F.; BIROLI, F. Caleidoscópio convexo: mulheres, política e mídia. São Paulo: Editora Unesp, 2011.

MONT’ALVERNE, C.; MITOZO, I. Muito além da mamadeira erótica: As notícias compartilhadas nas redes de apoio a presidenciáveis em grupos de WhatsApp, nas eleições brasileiras de 2018. In: COMPOLÍTICA, 8., 2019, Brasília. Anais […]. Brasília: UnB, 2019.

MOURA, M.; MICHELSON, M. R. WhatsApp in Brazil: mobilising voters through door-to-door and persona messages. Internet Policy Review, [S. l.], v. 6, n. 4, p. 1-18, 2018.

NICOLAU, J. O Brasil dobrou à direita: uma radiografia da eleição de Bolsonaro em 2018. Rio de Janeiro: Editora Zahar: Companhia das Letras, 2020.

OKIN, S. M. Gênero: o público e o privado. Revista estudos feministas, [S. l.], v. 16, p. 305-332, 2008.

PEREIRA, M. Políticas para LGBTI+ no governo federal: ascensão e queda. In: Nexo. [S. l.], 19 abr. 2022. Disponível em: https://pp.nexojornal.com.br/linha-do-tempo/2022/Pol%C3%ADticas-para-LGBTI-no-governo-federal-ascens%C3%A3o-e-queda. Acesso em: 30 mar. 2023.

PIAIA, V.; ALVES, M. Abrindo a caixa preta: análise exploratória da rede bolsonarista no WhatsApp. Intercom, [S. l.], v. 43, n. 3, p. 135-154, 2020.

POPOLIN, G. Anticomunismo no Brasil contemporâneo: o mito do comunismo em memes de internet. Curitiba: Appris, 2023.

POPOLIN, G. Masculinizar a mulher e feminilizar o homem: o conluio entre LGBT+ e a esquerda para implantar a “ideologia de gênero” no Brasil. In: COMPÓS, 30., 2021, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), 2021b.

POPOLIN, G. Projeto maléfico: a sexualização de crianças e o pânico moral difundidos no WhatsApp bolsonarista. In: COMPOLÍTICA, 9., 2021, [S. I.]. Anais [...]. 2021a.

PRADO, D. et al. Anitta, #elenão e as cobranças por representatividade e coerência. Tropos: Comunicação, Sociedade e Cultura, [S. l.], v. 9, p. 1-28, 2020.

SABBATINI, L. “Feminista nem é gente”: uma análise sobre o antifeminismo em grupos bolsonaristas no WhatsApp. In: ENCONTRO ANUAL ANPOCS, 44., 2020, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: USP, 2020. p. 1-20.

SABBATINI, L. Chatbots Feministas: um estudo de caso das robôs Fabi Grossi e Beta Feminista. 2022. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2022.

SAMPAIO, R. C.; NICHOLS, B. W.; KLEINA, N. C. M.; MARIOTO, D. J. F. A produção de artigos e papers apresentados em eventos acadêmicos brasileiros sobre o YouTube na área de Internet & Política entre 2005 e 2019. E-Compós, [S. l.], v. 24, 2021.

SANTOS, J. G. B. dos. “Mobile Networks and the Brazilian 2018 Presidential Election: From Technological Design to Social Appropriation.” Brazilian Studies Program One Pager, Oklahoma, n. 2, p. 1-2, 2019.

SANTOS, J. G. B. dos; FREITAS, M.; ALDÉ, A.; SANTOS, K.; CUNHA, V. C. C. WhatsApp, política mobile e desinformação: A hidra nas eleições presidenciais de 2018. In: Impactos político-comunicacionais nas eleições brasileiras de 2018. CERVI, E. U.; WEBER, M. H. (org.). Curitiba: CPOP: Carvalho Comunicação, 2021. p. 113-135.

SANTOS, J. G. B.; SANTOS, K. Das Bancadas ao WhatsApp: Redes de Desinformação como Arma Política. In: GALLEGO, E. S. (org.). Brasil em colapso. 1. ed. São Paulo: Unifesp, 2019. v. 1, p. 45-60.

SARMENTO, R. Das sufragistas às ativistas 2.0: feminismo, mídia e política no Brasil (1921 a 2016). 2017. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.

SARMENTO, R. Mídia, gênero e política: Um balanço das pesquisas nacionais. In: MIGUEL, L. F.; BALLESTRIN, L. (org.). Teoria e Política Feminista. 1. ed. Porto Alegre: Zouk, 2020. p. 179-195.

SARMENTO, R. et al. A comunicação digital e as pautas das deputadas brasileiras “de direita” no Instagram. Terceiro Milênio: Revista Crítica de Sociologia e Política, [S. l.], v. 20, n. 1, p. 59-83, 2023.

SOARES, F. Polarização, fragmentação, desinformação e intolerância: dinâmicas problemáticas para a esfera pública nas discussões políticas no Twitter. 2020. Tese (Doutorado em Comunicação e Informação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, Porto Alegre, BR-RS, 2020.

VACCARI, C.; VALERIANI, A. Digital Political Talk and Political Participation: Comparing Established and Third Wave Democracies. Special Collection: SMaPP Global, Special Issue, p. 1-14, 2018.

VAN DIJCK, J.; POELL, T.; DE WAAL, M. The platform society: Public values in a connective world. Oxford: Oxford University Press, 2018.

VASCONCELOS, C. Os retrocessos para população LGBT+ em 2019. In: Ponte. [S. l.], 30 dez. 2019. Disponível em: https://ponte.org/os-retrocessos-do-governo-bolsonaro-para-lgbt-em-2019/. Acesso em: 30 mar. 2023.

VERENICZ, M. Orçamento de combate à violência contra mulheres foi reduzido na gestão Bolsonaro. Carta Capital, [S. l.], 8 mar. 2023. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/orcamento-de-combate-a-violencia-contra-mulheres-foi-reduzido-na-gestao-bolsonaro. Acesso em: 18 jul. 2023.

Downloads

Publicado

2024-01-11

Como Citar

Popolin, G., Sabbatini Malta Amaral da Silva, L., & Sarmento, R. (2024). Questões de gênero nos grupos bolsonaristas no Whatsapp. Revista FAMECOS, 31(1), e44017. https://doi.org/10.15448/1980-3729.2023.1.44017