Paisagem e sublime na poesia de Marcos Siscar

Autores

  • Masé Lemos

Resumo

Lygia Clark, no começo dos anos sessenta, concebeu as obras intituladas Abrigo poético e O dentro é o fora, onde “deixa entrever sua noção ambiental e a problemática do dentro/fora, interioridade/exterioridade do sujeito.”2 Creio que essas noções são fundamentais para pensarmos a questão da paisagem na arte contemporânea. Paisagem como construção de um espaço-tempo realizado no entrelaçamento do dentro e do fora, sem que haja, transferência do sujeito no objeto ou vice e versa, instaurando a articulação dupla de sujeito como agente/paciente. Nelson Brissac Peixoto em seu livro “Paisagens urbanas” desenvolve a noção de paisagem para pensar a arte contemporânea a partir da noção de campo ampliado que “coloca a questão da localização, da relação da obra com o entorno”3 em contraposição à obra de arte modernista “tomada como um objeto fechado em si próprio e isolado no espaço”. Para Brissac Peixoto a “grade e as nuvens – categorias centrais da crítica da arte contemporânea – estabelecem este recorte mais amplo em que a obra se inscreve: a paisagem.” E a partir da leitura que faz de Merleau-Ponty sugere a complexidade da relação interior/exterior, ou seja, que “é preciso que aquele que vê não seja estranho ao mundo que ele olha. Ele deve ser visto de fora, instalado em meio às coisas, surpreendido no ato de considerá-las de determinado lugar.” 4 A paisagem se propõe assim como maneira de vivenciar o espaço/natureza, a partir de um interior que se faz exterior, paisagem como ambiente, ou tomando as palavras de Lygia Clark, como “um abrigo poético onde o habitar é o equivalente do comunicar.” Habitar para comunicar, para estabelecer comunidade – a arte se quer construção deste espaço do comum, de uma dobra que se abre a uma alteridade radical. É nesse sentido que pretendemos pensar, nesse breve ensaio, a poesia de Marcos Siscar, poeta rigoroso, que constrói poemas como esculturas, como abrigos poéticos, como maneira de habitar a terra. Sobre essas questões, Siscar mantém um importante diálogo com o poeta e filósofo francês, Michel Deguy, e é sobretudo esse dialogo que tentarei traçar aqui algumas relações com a poesia de Siscar.

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Publicado

2012-02-16

Como Citar

Lemos, M. (2012). Paisagem e sublime na poesia de Marcos Siscar. Letrônica, 5(1), 63–71. Recuperado de https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/article/view/10682

Edição

Seção

Artigos