Os Vandrés do sertão: música sertaneja, ufanismo e reconstruções da memória na redemocratização
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-864X.2017.2.25062Palavras-chave:
Música sertaneja, Ditadura, Redemocratização, ResistênciaResumo
A música sertaneja foi, em grande parte, embora não somente, marcada pelo apoio ao regime ditatorial inaugurado em 1964. Assim como a quase totalidade dos gêneros musicais brasileiros, muitos artistas sertanejos apoiaram ufanistamente o regime. Este artigo visa mostrar como os músicos sertanejos reconstruíram sua relação com a memória do período ditatorial, especialmente a partir dos anos 1980, quando se engajaram no processo de redemocratização, apagando laços com o passado apologeta. Mesmo fazendo tal percurso comum a quase totalidade da sociedade brasileira, os sertanejos não conseguiram ser vistos como artistas “politizados” e permaneceram com a pecha de “adesistas” por longos anos, tema que será problematizado neste artigo.
Downloads
Referências
ALONSO, Gustavo. Simonal: quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga. Rio de Janeiro: Record, 2011a.
______. Bob Dylans do sertão: tropicália, MPB e música sertaneja. In: REDD – Revista Espaço de Diálogo e Desconexão. Araraquara, v. 3, n.2, jan.-jul., 2011b. p. 222-235.
______. O sertão na televisão: música sertaneja e Rede Globo. In: Revista Contemporânea, Niterói, v. 1, n. 1, p. 222-235, 2011c.
______. Jeca Tatu e Jeca Total: a construção da oposição entre música caipira e música sertaneja na academia paulista (1954- 1977). In: Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar, São Carlos, v. 2, n. 2, p. 439-463, 2012a.
______. O sertão vai à faculdade: o sertanejo universitário e o Brasil dos anos 2000. In: Revista Perspectiva Histórica. Salvador, v.2, n.2, 2012b. p. 99-111.
______. Ame-o ou ame-o: música popular e ufanismo durante a ditadura nos anos 70. In: Boletim Tempo Presente (UFRJ). v. 7, 2013a.
______. O píer da resistência: contracultura, tropicália e memória no Rio de Janeiro. In: Achegas.net, v. 1, p. 44-71, 2013b.
______. Oposição no sertão: a construção da distinção entre música caipira e música sertaneja. In: Outros Tempos, São Luis, v. 10, n. 15, p. 122-145, 2013c.
______. Os caipiras chiques: a relação da música rural e a MPB nos anos 80. In: Tempo da Ciência (Unioeste), Cascavel, v. 20, n. 39, p. 113-140, 2013d.
______. Cowboys do asfalto: música sertaneja e modernização brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
ALEM, João Marcos. O caipira e o country: a nova ruralidade brasileira. Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.
ARAÚJO, Paulo Cesar de. Eu não sou cachorro, não: música popular
cafona e ditadura militar. Rio de Janeiro: Record, 2003.
BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, M. M.; AMADO, J. (Coord.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1996.
CALDAS, Waldenyr. Acorde na aurora: música sertaneja e indústria cultural. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1977.
COUGO JUNIOR, Francisco Alcides. Canta meu povo: uma interpretação histórica sobre a produção musical de Teixeirinha (1959-1985). Dissertação (Mestrado em História) – Departamento de História, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.
FICO, Carlos. Reinventando o otimismo: ditadura, propaganda e imaginário social no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1997.
GUIMARÃES, Juarez Rocha; PAULA, Delsy Gonçalves de; STARLING, Heloisa Maria Murgel (Org.). Sentimento de reforma agrária, sentimento de República. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.
MARTINS, José de Souza. Música sertaneja: a dissimulação na linguagem dos humilhados. In: Capitalismo e tradicionalismo. São Paulo: Pioneira, 1975. p. 103‑161.
MÉDICI, Emílio Garrastazu. A verdadeira paz. Brasília: Imprensa Nacional, 1970.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. As universidades e o regime militar. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
MOORE JR., Barrington. Injustiça: as bases sociais da obediência e da revolta. São Paulo: Brasiliense, 1987.
MOREIRA, José Roberto; COSTA, Luíz Flávio de Carvalho (Org.). Mundo rural e cultura. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.
REIS FILHO, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo; MOTTA, Rodrigo Patto Sá (Org.). O golpe e a ditadura militar: 40 anos depois (1964-2004). Bauru, SP: Edusc, 2004.
REIS FILHO, Daniel Aarão. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
ROLLEMBERG, Denise. Esquecimento das memórias. In: MARTINS FILHO, J. R. (Org.). O golpe de 1964 e o regime militar: novas perspectivas. São Carlos: EdUFSCar, 2006.
SCHWARZ, Roberto. Remarques surlaculture et la politique au Brésil, 1964-1969. In: Les Temps Modernes, Paris, n. 288, jul. 1970.
STARLING, Heloísa. Canto do povo de um lugar. In: PAULA, Delsy Gonçalves de; STARLING, Heloisa Maria Murgel; GUIMARÃES, Juarez (Org.). Sentimento de Reforma Agrária, Sentimento de República. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006. p. 302-345.
Fontes
Artigos de revista ou colunas de jornal:
O Globo, Rio de Janeiro, 25 abr. 1972.
Sem autor. “Ouro para o bem do Brasil – São Paulo repete 32”, O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 13 jun. 1964, p. 64.
Sem autor. “A toada engajada”, Veja, São Paulo, 17 ago. 1988, p. 116-117.4
Sem autor. “Teixeirinha quer eleições diretas”, Folha da Tarde, São Paulo, 17 jan. 1984. Apud: COUGO JR., 2010, p. 139.
Músicas citadas:
“A bailarina” (Marciano/Darci Rossi/Sargento Oliveira), João Mineiro & Marciano, LP Esta noite como lembrança, Copacabana, 1980.
“A coisa tá feia” (Tião Carreiro/Lourival dos Santos) Tião Carreiro & Pardinho, LP No som da viola, Continental, 1983.
“A grande esperança” (Goiá/Francisco Lázaro), Chico Rey & Paraná, LP Quem será seu outro amor?, Sertanejo/ Chantecler, 1987.
“A grande esperança” (Goiá/Francisco Lázaro), Mary Terezinha, LP Kilômetro 1, Musicolor/ Continental, 1987.
“Amigo lavrador” (Moacyr dos Santos e Jacozinho), LP Jacó & Jacozinho 76, Continental.
“Anistia de amor” (Darci Rossi/Dalvan/Marciano), LP Anistia de amor, Sertanejo/Chantecler, 1983.
“Bendito seja o Mobral” (Tonico/Tinoco/José Caetano Erba), Tonico & Tinoco, Cp., Continental, 1972.
“Boia‑fria” (Moacyr dos Santos/Jacó), Jacó & Jacozinho, LP Jacó & Jacozinho, Continental, 1973.
“Brasil caboclo exportação” (Miltinho), LP Jacó & Jacozinho, Continental, 1973.
“Cavalo enxuto” (Moacyr dos Santos/Lourival dos Santos), Jacó & Jacozinho, LP Novos sucessos, Continental, 1969.
“Diretas já” (Mary Terezinha/Ivan Trilha), Mary Terezinha, LP Kilômetro1, Musicolor/ Continental, 1987.
“É isto que o povo quer” (Lourival dos Santos/Tião Carreiro/ Carlos Compri), LP Tião Carreiro e Pardinho: A caminho do sol, Chantecler, 1973.
“Esperança do Brasil" (Nhô Crispim/Tonico), Tonico & Tinoco, LP 20 anos, Continental, 1964.
“Esperança do Brasil" (Nhô Crispim/Tonico), Tonico & Tinoco, LP A marca da ferradura, Continental, 1971.
“Espinheira” (Manoelito Nunes/Dalvan), Duduca & Dalvan, LP Espinheira, 1984.
“Filho de pobre” (Moacyr dos Santos/Jacó), Jacó & Jacozinho, LP Ninho de cobra, Continental, 1975.
“Gente da minha terra” (Goiá/Almir/Pereirinha), Jacó & Jacozinho, LP Jacó & Jacozinho, Continental, 1973.
“Herói da pátria” (Dino Franco), Biá & Dino Franco, LP O preço da ambição, Chantecler, 1973.
“Homem de cor” (Roceri/Barrerito/Paulo Roberto Aiello), Trio Parada Dura, LP Último adeus, Copacabana, 1981.
“Ladrão de terra” (Teddy Vieira/Moacir dos Santos), Luisinho & Limeira, Cp. 78 RPM, Odeon, 1958.
“Levanta patrão” (Lourival dos Santos/Tião Carreiro), Tião Carreiro & Pardinho, Tião Carreiro e Pardinho: Duelo de amor, Chantecler, 1975.
“Longe do asfalto” (Moacyr dos Santos/Jacozinho), Jacó & Jacozinho, LP Ninho de cobra, Continental, 1975.
“Mágoa de boiadeiro” (Nonô Basílio/Índio Vago), Pedro Bento, Zé da Estrada & Celinho, LP Mágoas de boiadeiro, Beverly, 1971.
“Marcha do tri” (Tonico/Tinoco/Pedro Capeche), Tonico & Tinoco, Cp., Continental, 1970.
“Massa falida” (Domiciano), Duduca & Dalvan, LP Massa falida, Chantecler, 1986.
“Natal de um órfão” (Alvimar de Oliveira/Creone/Barrerito), Trio Parada Dura, LP Mineiro não perde trem, Copacabana, 1974.
“Ninguém quis dormir” (Darci Rossi/Chitãozinho), Chitãozinho & Xororó, LP Sessenta dias apaixonado, Copacabana, 1979.
“Novo rumo” (Dalvan), Dalvan, LP Novo rumo, Alvorada/Chantecler, 1986.
“O caipira que foi na Lua” (Martins Neto/Moreno), Moreno & Moreninho, LP 20 anos, Continental, 1970.
“O dinheiro compra tudo” (Luis de Castro/Benedito Seviero), Chitãozinho & Xororó, LP Chitãozinho & Xororó, Copacabana, 1986.
“O doutor e a empregada” (Roniel/Augusto Alves Pinto), Trio Parada Dura, LP Barco de papel, Copacabana, 1984.
“Osso duro de roer” (Antônio Ventura Filho/Zé Paulo/Milton José), Tião Carreiro & Pardinho, LP A majestade o “pagode”, Continental, 1988.
“Ouro para o bem do Brasil” (Moreno e Moreninho) Moreno & Moreninho, Cp. 78 RPM, Sertanejo, 1964.
“Papai Noel” (Teixeirinha), Teixeirinha, LP Última tropeada, Copacabana, 1968.
“Para não dizer que não falei de flores” (Geraldo Vandré), Duduca & Dalvan, LP Espinheira, 1984.
“Pensão da rua Aurora” (Tony Damito/Sebastião Ferreira da Silva), Jacó & Jacozinho, LP Jacó & Jacozinho, Continental, 1972.
“Presidente Médici” (Teixeirinha), Teixeirinha, LP O internacional, Continental, 1973, LPS 22001.
“Quero terra” (Dalvan/José Sanches), Dalvan, LP Desencontros, 1988, Alvorada/Chantecler, 1988.
“Saudade de minha terra” (Belmonte/Goiá), Belmonte e Amaraí, LP Saudade de minha terra, Continental, 1967.
“Sesquicentenário” (Tonico/Tinoco), Tonico & Tinoco, Cps. Continental, 1972, CS‑ 674.
“Transamazônica” (Tapuã/Geraldo Aparecido Borges), LP Minha Terra, RCA, 1971.
“Trem da vida (Estação da Luz)” (Nino/Dalvan), Dalvan, LP Dalvan, Alvorada/Chantecler, 1987.
“Vida de operário” (Marumby/D. Hilário/Nhô Neco), LP Tonico & Tinoco: 28 ANOS: Minha terra, minha gente, Continental, 1970.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2017 Gustavo Alves Alonso Ferreira
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Direitos Autorais
A submissão de originais para a Estudos Ibero-Americanos implica na transferência, pelos autores, dos direitos de publicação. Os direitos autorais para os artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos da revista sobre a primeira publicação. Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente a Estudos Ibero-Americanos como o meio da publicação original.
Licença Creative Commons
Exceto onde especificado diferentemente, aplicam-se à matéria publicada neste periódico os termos de uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, que permite o uso irrestrito, a distribuição e a reprodução em qualquer meio desde que a publicação original seja corretamente citada.