Aumento de proeminência e maximização de contraste via epêntese de glide no português brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44765Palavras-chave:
Proeminência Posicional, Contraste, Resolução de hiatos, Apagamento de ditongos oraisResumo
Este estudo investiga os efeitos da proeminência posicional e da meta funcional de maximização de contrastes nos fenômenos de inserção e apagamento de glides orais em sequências vocálicas do português brasileiro, como, por exemplo, a epêntese como resolução de hiatos, “frear – fre[j]ar”/ “voa” – “vo[w]a”, e a redução de ditongos para uma vogal simples, “cadeira – cade[ ]ra”/ “roupa” – “ro[ ]pa”. Foram realizados um teste de julgamento de aceitabilidade, em que os participantes deveriam avaliar as diferentes pronúncias de palavras reais e inventadas como “natural” ou “não natural”, e um teste estatístico de regressão logística com efeitos mistos. A partir disso, atestou-se que a epêntese em hiatos foi preferida em posições de V1 acentuada ou inicial e que o apagamento de glides em ditongos foi menos preferido em monossílabos e em todas as posições de alta proeminência psicolinguística e/ou fonética. Além disso, também foi constatado que a não inserção ou perda do glide resultaria em uma carência de sonoridade demandada por essas posições. Em relação ao contraste, ditongos com maiores dispersões na dimensão de F2 são mais resistentes ao apagamento, enquanto os ditongos menos contrastivos são mais reduzidos por serem também menos perceptivos. Embora seja bastante defendido que a epêntese ocorra no ataque da V2 em função da restrição ONSET (todas as sílabas devem ter ataque), argumenta-se que o glide se adjunge à V1 como resultado da demanda de alta sonoridade em posição de V1 acentuada, que não é satisfeita pela vogal média-alta [e o]; além de que o glide possui traços semelhantes ao da vogal precedente (V1). Por fim, conclui-se que a proeminência posicional e o grau de contraste influenciam nos fenômenos de inserção e apagamento de glides no português brasileiro.
Downloads
Referências
ABAURRE, B. Ditongações e monotongações. In: DAHORA, D.; BATTISTI, E.; MONARETTO, V. D. (org.). História do Português 3: mudança fônica no português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2019. p. 78-107.
ALBANO, E. O gesto e suas bordas: esboço de fonologia acústico-articulatória do português brasileiro. Campinas: Mercado de Letras, 2001.
BARBOSA, P. A.; ALBANO, E. C. Brazilian Portuguese. Journal of the International Phonetic Association, [s. l.],v. 34, n. 2, p. 227-232, 2004. DOI: https://doi.org/10.1017/S0025100304001756
BARBOSA, P. A.; MADUREIRA, S. Manual de fonética acústica experimental: aplicações a dados do português. São Paulo: Cortez, 591 p. 2015.
BATES, D. et al. Fitting linear mixed-effects models using lme4. Journal of Statistical Software, [s. l.], v. 67, n. 1, p. 1-48, 2015. DOI: https://doi.org/10.18637/jss.v067.i01
BECKER, M.; CLEMENS, L. E.; NEVINS, A. A richer model is not always more accurate: the case of French and Portuguese plurals, 2011. (não publicado). Disponível em: https://ling.auf.net/lingbuzz/001336. Acesso em: 10 maio 2023.
BECKER, M.; LEVINE, J. Experigen: an online experimente platform. In: BECKER, M.; LEVINE, J. becker.phonologist.[S. l.], 2013. Disponível em: becker.phonologist.org/experigen. Acesso em: 10 maio 2023.
BECKER, M. et al. The Acquisition Path of [w]-final Plurals in Brazilian Portuguese. Journal of Portuguese Linguistics, [ s. l.], v. 17. n. 1, p. 1-22, 2018. http://doi.org/10.5334/jpl.189. BECKMAN, J. N. Positional faithfulness. 1998. Tese (Doutorado em Filosofia) – Departamento de Linguística, University Massachusetts Amherst, Amherst,1998. DOI: https://doi.org/10.5334/jpl.189
BISOL, L. Ditongos derivados. Documentação e Estudos em Linguística Teórica e Aplicada (DELTA), [s. l.], v. 10, n. 3, p. 123-140,1994.
BISOL, L. Ditongos derivados: um adendo. In: LEE, S. (org.). Vogais além de Belo Horizonte. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2012. p. 57-65.
BORROFF, M. L. Against an ONSET approach to hiatos resolution. In: ANNUAL MEETING OF THE LINGUISTIC
SOCIETY OF AMERICA, 77., 2003, Atlanta. Anais […]. Atlanta: Linguistic Society of America, 2003. p. 1-37. Disponível em: http://roa.rutgers.edu/article/view/596. Acesso em: 8 dez. 2023. (ROA-586).
BROWMAN, C.; GOLDSTEIN, L. Tiers in articulatory phonology, with some implications for casual speech. In: KINGSTON, J.; BECKMAN, M. (org.). Papers in laboratory phonology: between the grammar and the physics of speech. Cambridge: Cambridge University Press, 1989. p. 341-376. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9780511627736.019
CALLOU, D.; MORAES, J. A.; LEITA, Y. As vogais orais: Um estudo acústico-variacionsita. In: DE CASTILHO, Ataliba Teixeira et al. (ed.). Gramática do português culto falado no Brasil. São Paulo: Contexto, 2013. v. 7, p. 75-93.
CASALI, R. F. Hiatus resolution. In: OOSTENDORP, M.; EWEN, C.; HUME, E.; RICE, K. (ed.). The Blackwell companion to phonology, [s. l.]: Blackwell Publishing, 2011.p. 1-27. DOI: https://doi.org/10.1002/9781444335262.wbctp0061
CHITORAN, I.; HUALDE, J. I. From hiatus to diphthong: the evolution of vowel sequences in Romance. Phonology, [s. l.], v. 24, n. 1, p. 37-75, 2007. DOI: https://doi.org/10.1017/S095267570700111X
COUTO, H. H. Ditongos crescentes e ambissilabicidade em português. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 29, n. 4, p. 129-141,1994.
EBERLE, L. P. Monotongação, ditongação e resolução de hiatos: um estudo com palavras reais e logatomas no português falado em São Paulo. 2022. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Instituto de Estudos Linguísticos, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2022.
FLEMMING, E. Contrast and perceptual distinctiveness. In: HAYES, B.; KIRCHNER, R.; STERIADE, D. (ed.). Phonetically-Based Phonology. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. p. 232-276. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9780511486401.008
HAAS, W. G. de. A formal theory of vowel coalescence: a case study of ancient Greek. 1988. Tese (Doutorado em Linguística) – Departamento/Faculdade, University of Nijmegen, Nimega, 1988. DOI: https://doi.org/10.1515/9783110869248
KENSTOWICZ, M. Sonority-driven stress. [S. l.]: Rutgers: MIT, ago. 1994. Disponível em: https://roa.rutgers.edu/article/view/34. Acesso em: 6 dez. 2023. (ROA-33).
KENSTOWICZ, M.; SANDALO, F. Pretonic vowel reduction in Brazilian Portuguese: Harmony and dispersion. Journal of Portuguese linguistics, [s. l.], v. 15, n. 1, p. 1-19, 2016. DOI: https://doi.org/10.5334/jpl.7
NEVINS, A. A utilidade de logatomas e línguas inventadas na fonologia experimental. Caderno de Squibs: temas em estudos formais da linguagem, [s. l.], v. 2, n. 1, p. 67-78, 2016.
NEVINS, A.; COSTA, P. P. Prominence Augmentation via Nasalization in Brazilian Portuguese. Catalan journal of linguistics, [s. l.], v. 18, p. 161-189, 2019. DOI: https://doi.org/10.5565/rev/catjl.291
PARKER, S. G. Quantifying the sonority hierarchy. 2002. Tese (Doutorado em Filosofia) – Departamento de Linguística, University of Massachusetts Amherst, Amherst, 2002.
PARKER, S. Sonority. Suprasegmental and Prosodic Phonology, [s. l.], v. 3, p. 1160-1184, 2011. Disponível em:https://doi.org/10.1002/9781444335262.wbctp0049.Acesso em: 8 maio 2023.
PRINCE, A.; SMOLENSKY, P. Optimality theory: constraint interaction in generative grammar. Technical Report TR-2. [s. l.]: Rutgers Center for Cognitive Science: Rutgers University, 1993.
RODRIGUES, M. C. O hiato no português: a tese da conspiração. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 42, n. 3,p. 7-26, 2007.
SILVA, A. H. P. Organização temporal de encontros vocálicos no Português Brasileiro e a relação entre Fonética e Fonologia. Letras de Hoje, Porto Alegre, v.49, n. 1, p. 11-18, 2014. DOI: https://doi.org/10.15448/1984-7726.2014.1.14891
SMITH, J. L. Phonological augmentation in prominent positions. New York: Routledge, 2005. DOI: https://doi.org/10.4324/9780203506394
TEAM, R. Development Core. R: a language and environment for statistical computing. In: The R Foundation for Statistical Computing. Vienna, Austria, 2022. Disponível em: https://www.R-project.org. Acesso em: 8 maio 2023.
UFFMANN, C. Intrusive [r] and optimal epenthetic consonants. Language Sciences, [s. l.], v. 29, p. 451-476, 2007. DOI: https://doi.org/10.1016/j.langsci.2006.12.017
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Letras de Hoje
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Direitos Autorais
A submissão de originais para a Letras de Hoje implica na transferência, pelos autores, dos direitos de publicação. Os direitos autorais para os artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos da revista sobre a primeira publicação. Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente a Letras de Hoje como o meio da publicação original.
Licença Creative Commons
Exceto onde especificado diferentemente, aplicam-se à matéria publicada neste periódico os termos de uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, que permite o uso irrestrito, a distribuição e a reprodução em qualquer meio desde que a publicação original seja corretamente citada.