Clarice Lispector, o sublime feminino e as influências da crítica feminista
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44198Palavras-chave:
Clarice Lispector, Crítica Feminista, Crítica LiteráriaResumo
A crítica à obra da escritora Clarice Lispector é marcada pela análise de aspectos existencialistas presentes em várias passagens de seus romances e contos. No entanto, há uma face de suas obras ainda pouco explorada: a relação da escritora com a crítica feminista. Segundo Nunes (2019), a produção jornalística de Lispector, de 1952, apresenta uma intertextualidade com a obra de Virginia Woolf e de Simone de Beauvoir. Enquanto atuou no jornal Comício, Lispector publicou passagens de livros destas escritoras. No mesmo ano, foi publicado o livro Alguns Contos. Nele podemos perceber a intertextualidade ressalvada por Nunes (2019), com destaque para o conto “Amor”. Propomos a leitura do conto a partir da crítica literária feminista que, com base na noção de sublime (Longino, 2019; Kant, 2002), desenvolve a reflexão sobre o sublime feminino (Freeman, 1995; Kamita, 2016) para destacar posições críticas à opressão das mulheres. O texto é construído na tensão entre a rotina experimentada pela personagem Ana, uma dona de casa, diante de um conjunto de possibilidades disponíveis para aquelas que não possuíam as obrigações de se dedicarem às exigências da casa, do marido e dos filhos. O sentimento do sublime, despertado após a visão de um cego que mascava chicles na rua, faz emergir a consciência da personagem sobre as regras que regulavam sua vida. A partir dessa passagem, é apresentada a tensão imposta pelos limites aos quais as mulheres estavam submetidas, notadamente as mulheres brancas, de extratos da classe média, da cidade do Rio de Janeiro, da década de 1950. Diante de um cenário em que o casamento parece ser a alternativa mais segura para as mulheres, Ana acaba por submeter-se à rotina, embora desejasse outras possibilidades de vida.
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