Primeiras notas sobre o teor testemunhal em Ela e a reclusão
O condenado poderia ser você, de Vera Tereza de Jesus
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2022.1.43221Palavras-chave:
teor testemunhal, escrita de cárcere, Ela e a reclusão, Vera Tereza de JesusResumo
Partindo do pressuposto de que em toda literatura é possível identificar teor testemunhal (SELIGMANN-SILVA, 2003a), o presente artigo tem o objetivo de explanar as primeiras considerações sobre pesquisa referida ao testemunho na obra Ela e a reclusão: o condenado poderia ser você (1965), de Vera Tereza de Jesus. Ao apresentar a publicação, retomamos pontos importantes acerca do seu contexto de produção (PENTEADO, 2018), tentando compreender alguns elementos ausentes na própria forma material do livro. Além disso, trazemos questões necessárias, ainda que iniciais, sobre a relação entre o teor testemunhal e a narrativa de cárcere de Vera Tereza, partindo de uma problematização do título da obra e de marcas temporais nos enunciados dessa escrita autobiográfica fortemente definida pelas opressões de gênero e pelas violências do Estado brasileiro. Com a reflexão empreendida, concluímos que é possível observar a forma como a narrativa dá forma ao tempo e ao teor testemunhal, imbricando passado, presente e futuro na escrita que é possível à autora. Conforme diz, o texto traz a realidade da sua vida, inscrita no crime, na violência, no desamparo, no abandono, e essa sua realidade é a mesma história de muitas outras pessoas figurada na sua pessoa. Seu texto antecipa todos os escritos referidos como literatura marginal de cárcere, os quais protagonizaram a cena editorial brasileira no início dos anos 2000, ganhando ainda mais relevância por fugir do padrão branco-burguês da época em que foi escrita, em plena ditadura civil-militar; a obra de Vera Tereza se mostra, então, como um acontecimento na historiografia literária brasileira.
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