“Só o Zé Lador se lembra deles”: etos e novas formas de produzir notícia
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2019.3.30943Palavras-chave:
Etos. Análise do discurso. Jornalismo popular. WhatsApp.Resumo
As novas tecnologias, em particular, as redes sociais têm desempenhado um papel fundamental na disseminação das notícias em ambientes virtuais e interativos. Junto a esse processo, observa-se também uma preocupação crescente dos jornais impressos de concorrerem com esse espaço e imprimirem um tom interativo às suas notícias. Alguns jornais vêm utilizando as novas plataformas para disseminar seus conteúdos e, com isso, alavancar sua audiência para além das páginas impressas. O contrário também pode ser observado, as redes ocupando as folhas de papel. É justamente esse segundo movimento que nos chama a atenção para a análise no presente artigo. Nesse sentido, buscamos investigar a produção de etos que o Jornal Extra (2015) constrói por meio da interação entre leitores e jornal para a elaboração de suas notícias na rubrica “Serviços”. Esta rubrica recebe notícias de seus leitores pelo aplicativo WhatsApp, afirmando que a interação entre ambos é facilitada por esse suporte digital. Nossa análise, foi feita utilizando-se o conceito de etos nos estudos de Maingueneau (1997, 2005, 2008, 2010, 2013). O córpus consta de três notícias publicadas no ano de 2015 e, mostraram que, em princípio, o jornal tenta construir um etos de interação e espaço democrático às críticas sociais enviadas pelo leitor por sua abertura à interação. Entretanto, por trás dessas denúncias, o veículo reivindica para si, através de seu super-heroi, um papel de intermediador de problemas de utilidade pública, esvaziando, desse modo, a potência da organização dos cidadãos para a reivindicação de suas demandas.
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