A vida na rua como paradigma-matrioshka

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-7289.2019.1.30051

Palavras-chave:

Metodologia, Paradigma, Pobreza, Poder, Vida na rua.

Resumo

Este texto expõe uma posição metodológica. A vida na rua é menos interessante como objeto de estudo fechado sobre si mesmo do que como meio para aceder ao mundo em que existe. Enquanto objeto analítico, a vida na rua pode ser metodologicamente entendida como um paradigma (um exemplar) multidimensional cujo estudo permite compreender diversos dos fenómenos sociais mais relevantes no modelo societal moderno ocidental. Com este posicionamento em mente, a sociologia da vida na rua é substituída por uma sociologia que opera através da vida na rua, usando este fenómeno para abordar o universo de relações de poder que caracterizam este modelo societal. Sem pretender avançar uma lista exaustiva dos fenómenos que podem ser compreendidos através dela, entre as várias expressões do poder que são acessíveis pelo estudo da vida na rua, contemplam-se a pobreza, a vida do homo sacer na exceção permanente e o governo da alteridade desqualificada.

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Biografia do Autor

João Aldeia, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Doutor em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, com o acolhimento científico do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

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Publicado

2019-02-27

Como Citar

Aldeia, J. (2019). A vida na rua como paradigma-matrioshka. Civitas: Revista De Ciências Sociais, 19(1), 213–229. https://doi.org/10.15448/1984-7289.2019.1.30051

Edição

Seção

Dossiê: Vida na rua – contribuições analíticas do campo das ciências sociais