Uma sociologia da compreensão a partir do par crítica e jocosidade

Autores

  • Alexandre Werneck Universidade Federal do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-7289.2016.3.21941

Palavras-chave:

Compreensão. Crítica. Jocosidade. Efetivação. Moral.

Resumo

O objetivo deste artigo é analisar o papel desempenhado pela compreensão nas situações críticas, a partir de momentos nos quais a jocosidade seja o elemento central da crítica. Para tanto, o texto entrecruza duas pesquisas nas quais o humor serve como forma de operacionalizar a crítica: 1) observações nas ruas de dois bairros do Rio de Janeiro em busca da operacionalização da crítica por meio de dispositivos de jocosidade, o que produz modulação da crítica; e 2) grupos focais com estudantes a respeito de cartazes jocosos das manifestações políticas de 2013 no Brasil, analisando críticas baseadas na ridicularização pela ironia. Estuda-se, então, como os atores compreendem (ou não) uns aos outros na definição das situações em que se inserem e o papel da ideia de compreensão, isto é, da contemplação dos quadros de referência abstratos do outro, nessas situações. Depreendem-se três dimensões da compreensão de elementos situacionais a partir desses signos: cognitiva, contextual e moral.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Alexandre Werneck, Universidade Federal do Rio de Janeiro

É professor adjunto do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da UFRJ, coordenador efetivo de pesquisa do Núcleo de Estudos de Cidadania, Conflito e Violência Urbana (Necvu), integrante do INCT/CNPq Violência, Democracia e Segurança Cidadã, e editor de Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social. Fez pós-doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ e tem doutorado (2009) em sociologia pelo PPGSA da UFRJ (com estágio doutoral na École des Hautes Études en Sciences Sociales, EHESS), produzindo um trabalho recebedor de Menção Honrosa no Prêmio Capes de Tese 2010 e que resultou no livro "A desculpa: As circunstâncias e a moral das relações sociais" (2012). Graduou-se em Comunicação Social na Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ (2001) e tem mestrado em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ (2004). Tem experiência na área de sociologia, com ênfase em sociologia dos conflitos e sociologia da moral. Tem também experiência em comunicação, com ênfase em jornalismo e edição, e é tradutor de inglês e francês, especializado na área de ciências sociais.

Referências

AUSTIN, John L. How to do things with words. Boston: Harvard University Press, 1975.

AUSTIN, John L. A plea for excuses. In: Philosophical papers. Londres: Oxford University Press, 1979 [1956-1957]. p. 175- 204 <10.1093/019283021X.003.0008>.

BILLIG, Michael. Laughter and ridicule: towards a social critique of humour. Londres: Sage, 2005.

BOLTANSKI, Luc. L’amour et la justice comme compétences: trois essais de sociologie de l’action. Paris: Métailié, 1990 <10.3917/meta.bolta.1990.01>.

BOLTANSKI, Luc. De la critique: précis de sociologie de l’émancipation. Paris: Gallimard, 2009.

BOLTANSKI, Luc; THÉVENOT, Laurent. De la justification: les économies de la grandeur. Paris: Gallimard, 1991.

BOLTANSKI, Luc; THÉVENOT, Laurent. The sociology of critical capacity. European Journal of Social Theory, v. 2, n. 3, p. 359-377, 1999 <10.1177/136843199002003010>.

BRENMAN, Ilan. A condenação de Emilia: o politicamente correto na literatura infantil. Belo Horizonte: Aletria, 2012.

CARDOSO DE OLIVEIRA, Luis Roberto. Concretude simbólica e descrição etnográfica (sobre a relação entre antropologia e filosofia). In: Alexandre Werneck; Luis Roberto Cardoso de Oliveira (orgs.). Pensando bem: estudos de sociologia e antropologia da moral. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014. p. 49-77.

CARTER, Judy. The comedy bible: from stand-up to sitcom – the comedy writer’s ultimate ‘how to’ guide. Nova York: Touchstone, 2001.

CICOUREL, Aaron V. Method and measurement in sociology. Nova York: The Free Press, 1964.

CLARK, Candace. Misery and company: sympathy in everyday life. Chicago: University of Chicago Press, 1998.

COLEBROOK, Claire. Irony. Londres e Nova York: Routledge, 2004.

COLLINS, Randall. On the micro-foundations of macro-sociology. American Journal of Sociology, n. 86, p. 984-1014, 1981.

COMERFORD, John Cunha. Fazendo a luta: sociabilidade, falas e rituais na construção de organizações camponesas. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999.

DAVIES, Christie. Jokes and targets. Bloomington: Indiana University Presss, 2011.

ERMIDA, Isabel. The language of comic narratives: humor construction in short stories. Berlim e Nova York: Mouton de Gruyter, 2008 <10.1515/9783110208337>.

GARFINKEL, Harold. Studies in Ethnometodology. Englewood Cliffs: The Free Press, 1967.

GOFFMAN, Erving. Relations in public: microstudies of the public order. Nova York: Basic Books, 1971.

GOHN, Maria da Glória. Manifestações de junho de 2013 no Brasil e praças dos indignados no mundo. Petrópolis: Vozes, 2014.

GREIMAS, Algirdas J. Semantique structurale: recherche de methode. Paris, Larousse, 1966.

HERZFELD, Michael. Irony and power: toward a politics of mockery in Greece. In: The poetics of Manhood: contest and identity in a Cretan Mountain Village. Princeton:

Princeton University Press, 1985.

HUTCHEON, Linda. Irony’s Edge: The theory and politics of irony. Nova York: Routledge, 1995.

JOAS, Hans. The creativity of action. Chicago: The University of Chicago Press, 1996.

JOSEPH, Isaac. Le passant considérable. Paris: Librairie des Méridiens, 1984.

KAPLAN, Steve. The hidden tools of comedy: the serious business of being funny. Los Angeles: Michael Wiese Productions, 2013.

KNORR-CETINA, Karin. The micro-sociological change of the macro-sociology: towards a reconstruction of social theory and methodology. In: Karin Knorr-Cetina; Aaron V. Cicourel (orgs.). Advances in social theory and methodology: toward an integration of micro- and macro-sociologies. Boston e Londres: Routledge/Keegan Paul, 1981. p. 1-47.

KUIPERS, Giselinde. Good humor, bad taste: a sociology of the joke. Berlim e Nova York: Mouton de Gruyter, 2006 <10.1515/9783110898996>.

LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: Unesp, 1997 [1987]. MCEVOY, Sebastian. L’invention défensive: poétique, linguistique, droit. Paris: Métailié, 1995.

MISSE, Michel; WERNECK, Alexandre. O interesse no conflito. In: Michel Misse e Alexandre Werneck (orgs.). Conflitos de (grande) interesse: estudos sobre crimes, violências e outras disputas conflituosas. Rio de Janeiro: Garamond, 2012. p. 7-25.

PELZ, Werner. The scope of understanding in Sociology. Londres: Routledge, 1974.

PEIRCE, Charles S. The essential Peirce: selected philosophical writings (1893- 1913). 2. v. Bloomington: Indiana University Press, 1998 [1893].

RASKIN, Victor (org.). The primer of humor research. Berlim e Nova York: Mouton de Gruyter, 2008.

RITZER, George; GINDOFF, Pamela. Agency-structure, micro-macro, individualismholism- relativism: a metatheoretical explanation of theoretical convergence between the United States and Europe. In: Piotr Sztompka (org.). Agency and structure: reorienting social theory. Londres: Routledge, 2014. p. 3-24.

SCOTT, Marvin B.; LYMAN, Stanford M. “Accounts”. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, v. 1, n. 2, 2008 [1968], p. 139-172.

SZTOMPKA, Piotr. Evolving focus on human agency in contemporary social theory. In: Piotr Sztompka (org.). Agency and structure: reorienting social theory. Londres: Routledge, 2014. p. 25-60.

THÉVENOT, Laurent.. L’action qui convient. In: Patrick Pharo e Louis Quéré. Les formes de l’action: sémantique et sociologie. Paris: Éditions de l’EHESS, 1990. p. 39-69.

THOMAS, William I. Unadjusted girl: with cases and standpoint for behavior analysis. Nova York: Patterson Smith, 1969 [1923].

THOMAS, William I.; THOMAS, Dorothy Swaine. The child in America: behavior problems and programs. Nova York: A. A. Knopf, 1938 [1928].

VORHAUS, John. The comic toolbox: how to be funny even if you’re not. Los Angeles: Silman-James, 1994.

WATSON, Cate. A sociologist walks into a bar (and other academic challenges): towards a methodology of humour. Sociology, v. 49, n. 3, p. 407-421, 2015 <10.1177/ 0038038513516694>.

WEBER, Max. “A ‘objetividade’ do conhecimento na Ciência Social e na Ciência Política”, in: Metodologia das Ciências Sociais. São Paulo: Cortez, 2001 [1904]. p. 107-154.

WEBER, Max. The theory of social and economic organization. Glencoe: The free Press, 1947 [1922].

WERNECK, Alexandre. A velhice como competência de efetivação de ações moralmente questionadas: situações em supermercados no Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, v. 10, n. 28, p. 10-44, 2011.

WERNECK, Alexandre. A desculpa: as circunstâncias e a moral as relações sociais. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.

WERNECK, Alexandre. Sociologia da moral, agência social e criatividade. In: Alexandre Werneck e Luís Roberto Cardoso de Oliveira (orgs.). Pensando bem: estudos de sociologia e antropologia da moral. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014. p. 25-48.

WERNECK, Alexandre. Dar uma zoada, botar a maior marra: dispositivos morais de jocosidade como formas de efetivação e sua relação com a crítica. Dados: Revista de Ciências Sociais, v. 58, n. 1, p. 187-222, 2015 <10.1590/00115258201542>.

WERNECK, Alexandre; GORINI, Gabriel. Dispositivos morais de jocosidade como moduladores da crítica: um estudo sobre o humor nos cartazes de manifestações. In: Alexandre Werneck (org.). Violências moduladas: gramáticas e dispositivos da crítica e da negociação na conflitualidade urbana no Rio de Janeiro. Relatório de pesquisa, Faperj, 2016.

WERNECK, Alexandre; LORETTI, Pricila. Forma-crítica, formas da crítica: um estudo do papel das diferentes dimensões do discurso crítico em sua efetivação. Trabalho apresentado no I Colóquio Crítica e pragmatismo na sociologia: Diálogos entre Brasil e França. Brasília, UnB, 2016.

WRIGHT MILLS, Charles. Situated actions and vocabularies of motive. American Sociological Review, v. 5, n. 6, p. 904-913, 1940 <10.2307/2084524>.

Downloads

Publicado

2016-11-28

Como Citar

Werneck, A. (2016). Uma sociologia da compreensão a partir do par crítica e jocosidade. Civitas: Revista De Ciências Sociais, 16(3), 482–503. https://doi.org/10.15448/1984-7289.2016.3.21941