A descolonização da Bíblia, da “Palavra de Deus”: O desafio primeiro e urgente para uma teologia descolonial

Autores

Palavras-chave:

Descolonização, Descolonização da Teologia, Bíblia e Colonialismo, Bíblia e imperialismo. Descolonização da Bíblia.

Resumo

Este artigo quer contribuir nas tarefas de descolonização da teologia. Atividade considerada urgente e necessária. Considerando que a colonização do pensamento influenciou todas as áreas do conhecimento, este trabalho acrescenta um pouco mais de complexidade e profundidade à tarefa. A partir de uma série de referenciais da descolonização das ciências sociais, dos dados recentes da arqueologia e de uma revisão crítica da história de Israel e da história da redação da própria Bíblia Hebraica, afirma que é necessário buscar também uma descolonização da Bíblia e do próprio conceito de “Palavra de Deus” bem como dos dogmas da Inspiração e da Revelação. Pois, as pesquisas mais recentes deixam claro que grande parte dos textos bíblicos, especialmente do Pentateuco, dos Livros Históricos e Proféticos, foi elaborada em aliança com reis e imperadores, dentro de projetos com índole imperialista e colonialista. Ao final, o artigo sugere que uma leitura descolonizada e descolonizadora deveria buscar formular um conceito de palavra de Deus mais ligado à função do que à origem ou à autoridade a qual o texto é atribuído.

Biografia do Autor

Luiz José Dietrich, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, PR

Doutorado Ciências da Religião - Concentração Sociedade e Literatura do Mundo Bíblico - UMESP. áreas de Pesquisa: História de Israel pré-Exílio; Pentateuco; História da Religião de Israel; Tradução e Exegese da Bíblia; Bíblia, Monoteísmo e Direitos Humanos; Monoteísmo, Bíblia e violências; Cristianismos originários.

Referências

COMBLIN, José. O que é a verdade? São Paulo: Paulus, 2005b.

COMBLIN, José. Quais os desafios dos temas teológicos atuais? São Paulo: Paulus, 2005a.

CORONIL, Fernando. Beyond Occidentalism: Toward Nonimperial Geohistorical Categories. In: Cultural Anthropology, v. 11, n. 1, 1996.

DE PURY, Albert. O Cânon do Antigo Testamento, in: RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (orgs.) Antigo Testamento, história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2010. p. 23-50.

DIETRICH, Luiz José. A formação do Antigo Testamento. In: Nova Bíblia Pastoral, São Paulo: Paulus, 2014, p. 9-18.

DIETRICH, Luiz José. Os pobres: “meu povo” – Miqueias 3,1-4. In: ROSSI, Luiz Alexandre Solano (org.). Miqueias. Memórias libertadoras de um camponês. São Paulo: Paulinas, 2016. p. 63-83.

DUSSEL, Enrique. Introducción a la filosofía de la liberación. Bogotá: Nueva América, 1988.

FINKELSTEIN, Israel e SILBERMAN, Neil Asher. A Bíblia não tinha razão. São Paulo: A Girafa, 2003.

FINKELSTEIN, Israel. History of Ancient Israel: Archaeology and Biblical record – the wiew from 2015. In: Rivista Biblica, anno LXIII, p. 371-392, luglio-sett. 2015.

FINKELSTEIN, Israel. The forgotten kingdom. The archaeology and history of northern Israel. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2013. (Tradução brasileira: FINKELSTEIN, Israel. O reino esquecido. Arqueologia e história de Israel Norte. São Paulo: Paulus, 2015).

FINKELSTEIN, Israel; MAZAR, Amihai. The quest for historical Israel. Debating archaeology and the history of early Israel. Lectures delivered at the Annual Colloquium of the Institute for Secular Humanistic Judaism, Detroit, October 2015. Edited by Brian B. Schmidt. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2007. (Society of Biblical Literature Archaeology and Bible Studies, 17).

FORNET-BETANCOURT, Raul. Religião e interculturalidade. São Leopoldo: Sinodal/Nova Harmonia. 2007.

FÜRST, Alfons. Ética da paz e disposição à violência. Sobre a ambivalência do monoteísmo cristão em seus primórdios. In: FÜRST, Alfons (org.). Paz na terra? As religiões universais entre a renúncia e a disposição à violência. Aparecida: Ideias & Letras, 2009. p. 65-125.

GRABBE, Lester Lee. Ancient Israel. What do we know and how do we know it? New York: T&T Clark, 2007.

KAEFER, José Ademar. Arqueologia das terras da Bíblia II. São Paulo: Paulus, 2016. p. 119-126.

LANDER, Edgar. (org.) A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO. 2005. Disponível em: .

LANDER, Edgar. Ciências sociais: saberes coloniais e eurocêntricos. In: LANDER, Edgar. (org.) A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO. 2005. p. 8-23. Disponível em: .

LEFF, Enrique. Ecologia, Capital e Cultura: a Territorialização da Racionalidade Ambiental. Petrópolis: Vozes, 2009.

LIVERANI, Mario. Para além da Bíblia. História antiga de Israel. São Paulo: Paulus/Loyola, 2008.

MIGNOLO, Walter. Histórias Locais/Projetos Globais. Belo Horizonte: UFMG, 2003.

MONTERO, Maritza. Paradigmas, conceptos y relaciones para una nueva era. Cómo pensar las Ciencias Sociales desde América Latina. Caracas: Facultad de Ciencias Económicas y Sociales, 1998.

NIHAN, Christophe. RÖMER, Thomas. O debate atual sobre a formação do Pentateuco, in: RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (orgs.). Antigo Testamento, história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2010. p.108-143.

NOVA BÍBLIA PASTORAL. São Paulo: Paulus, 2014. PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

QUIJANO, Aníbal. Crise imperialista e classe operaria na América Latina. Coimbra: Centelha, 1976.

REIMER, Haroldo. Inefável e sem forma. Estudos sobre o monoteísmo hebraico. São Leopoldo: Oikos; Goiânia: UCG, 2009. p. 21-52.

RIBEIRO, Gustavo Lins, ESCOBAR, Arturo. Antropologias Mundiais: Transformações da Disciplina em Sistemas de Poder. Brasília: UNB, 2012.

RICHARD, Pablo. Memoria del “Movimiento Histórico de Jesús”, desde sus orígenes (años 30) hasta la crisis del Sacro Imperio Romano Cristiano (siglos IV y V), San José de Costa Rica: DEI, 2009.

RIVERA CUSICANQUI, Silvia. Oprimidos, pero no Derrotados: La lucha campesina entre los Aimaras y Quechuas en Bolivia. Genebra: UNRISD, 1984.

RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (orgs.). Antigo Testamento, história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2010.

RÖSEL, Martin. Panorama do Antigo Testamento. História. Contexto. Teologia. São Leopoldo: Sinodal EST, 2009.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2002. Vol. 1: Para um novo senso comum. A ciência, o direito e a política na transição paradigmática.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Una epistemología del sur. La reinvención del conocimiento. México: Siglo XXI/CLACSO, 2009.

SCHNIEDEWIND, William M. Como a Bíblia tornou-se um livro. A textualização do Antigo Israel. São Paulo: Loyola, 2011.

SMITH, Mark Stratton. The Early History of God: Yahweh and the Other Deities in Ancient Israel. Michigan: Eerdmans, 1990.

SMITH, Mark Stratton. The Origins of Biblical Monotheism: Israel’s Polytheistic Background and the Ugaritic Texts. New York: Oxford University Press, 2001 <https://doi.org/10.1093/019513480X.001.0001>.

WALLERSTEIN, Immanuel. Impensar las ciencias sociales. México: Siglo XXI, 1998.

ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares. Uma história cultural de Israel. São Paulo: Paulus, 2013.

ZENGER, Erich. Violência em nome de Deus. O preço necessário do monoteísmo bíblico? In: FÜRST, Alfons (org.). Paz na terra? As religiões universais entre a renúncia e a disposição à violência. Aparecida: Ideias & Letras, 2009. p.15-63.

ZWETSCH, Roberto E. Teologias da libertação e interculturalidade, in:

Protestantismo em Revista. São Leopoldo, v. 30, jan./abr. 2013, p. 32-49. Disponível em: <http://periodicos.est.edu.br/index.php/nepp>, acessado em: 01 jun. 2016.

Downloads

Publicado

2018-08-21

Edição

Seção

Interpretação e Hermenêutica