O chicote do discurso
Um olhar bakhtiniano para a institucionalização do racismo no Brasil contemporâneo
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-4301.2021.s.42561Palavras-chave:
Discurso racista, Círculo de Bakhtin, Fundação Palmares, Racismo institucionalResumo
Considerando o recrudescimento de discursos com contornos conservadores e intolerantes na atmosfera sociopolítica do Brasil pós-2018, este artigo tem por objetivo analisar a maneira como o racismo se configura no discurso institucional atual. Ancorando-se nos pressupostos teórico-metodológicos bakhtinianos, foram mobilizadas as noções de palavra e contrapalavra, tendo como objeto de escrutínio um projeto de dizer do atual presidente da Fundação Palmares, instituição atrelada ao poder executivo federal. Visto que o discurso é uma prática social que revela a maneira como a sociedade de uma determinada época se configura ideologicamente, durante o movimento analítico, observou-se que o projeto enunciativo analisado sugere a proeminência de uma visão institucional racista, marcada explicitamente pelo uso discursivo de palavras ofensivas e violentas. Em contrapartida, percebeu-se que a comunidade negra nacional, mesmo vilipendiada institucionalmente, demostra, pelo indício fenomênico da contrapalavra, um arquétipo identitário permeado pelo campo semântico-axiológico da resistência.
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