Testemunhos de pessoas em situação de rua

quais são suas histórias de resistência?

Resumo

Neste artigo, visamos a apresentar análises linguístico-discursivas de testemunhos colhidos junto a pessoas em situação de rua na cidade de Paris, desenvolvidas no quadro de um projeto de pós-doutorado mais amplo sobre o gênero testemunho como discurso de resistência no Brasil e na França. Para tanto, baseamo-nos nos saberes advindos do quadro teórico da análise do discurso francesa de base enunciativa (Maingueneau, 2005, 2006, 2008, 2015), circunvizinhados pelas ideias desenvolvidas pela semiótica greimasiana (Barros, 2008; Fiorin, 2008, 2009; Greimas; Courtés, 2006) e pelos estudos sobre questões relacionadas ao preconceito, à intolerância na/pela linguagem (Barros, 2011; Tocaia, 2018, 2023). Metodologicamente, em uma abordagem qualitativo-interpretativista, por meio de quatro planos propostos pela “semântica global” associados a questões de “sintaxe e semântica discursiva”, consideramos os testemunhos como discursos, e buscamos examinar como se dão as projeções da enunciação no enunciado, definir o quadro de valores ideológicos nos quais esses discursos se inserem, verificar como se reproduzem nos testemunhos alguns imaginários sociais e, em rápidas pinceladas, depreender o ator da enunciação (um éthos) de um grupo minoritarizado considerado sem voz. Os resultados permitem apreender, nos textos analisados, as mazelas e dificuldades de pessoas que, em situação de vulnerabilidade, buscam resistir a inúmeras desigualdades sociais.