A estetização do olhar infantil na narração de Cartucho

relatos de la lucha em el Norte de México, de Nellie Campobello

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-4301.2024.1.46014

Palavras-chave:

Literatura latino-americana, Nellie Campobello, Infância, Estetização, focalização

Resumo

O presente artigo tem por objetivo analisar como se dá a estetização do olhar e da voz infantis na narração de Cartucho: relatos de la lucha en el Norte de México, de Nellie Campobello (2016). Publicado no ano de 1931, Cartucho é uma obra ambientada na Revolução Mexicana, sendo integrada tardiamente ao conjunto das Novelas de la Revolución. Para tanto, apoiamo-nos no conceito de focalização, como teorizado por Mieke Bal (2017), para justificar a perspectiva infantil como escolha estética; no conceito de estetização do discurso, conforme teorizado por Mikhail Bakhtin (2015), para a reflexão sobre a manipulação do efeito estético a partir da escolha da autora de privilegiar uma visão infantil em detrimento da racionalidade da escritora já adulta; e no conceito de imaginários sociais, como elaborado por Brolislaw Baczko (1999), que nos auxilia a mostrar o jogo estético construído por Campobello. Observamos que a escritora utiliza o imaginário social da criança para, estetizando a perspectiva infantil, quebrar os preconceitos através do efeito de choque. É no balanço entre os efeitos de credibilidade e choque que Nellie desconstrói discursos e reconstrói um outro sentido para o ser criança na guerra e para os acontecimentos da própria Revolução.

Downloads

Biografia do Autor

Janara Laíza de Almeida Soares, Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Alagoinhas, Bahia, Brasil.

Professora do Departamento de Linguística, Literatura e Artes (DLLARTES) da Universidade do Estado da Bahia (Campus II – Alagoinhas). A pesquisadora é doutora em Literatura pela Universidade de Brasília. Faz parte do Grupo Epistemologia do Romance (UnB) e do Grupo de Pesquisa Literatura, Ensino e suas Interfaces (UNEB).

Referências

AGUILERA NAVARRETE, Flor E. La narrativa de la Revolución Mexicana: periodo literario de violencia. Acta Universitaria, México, n. 26, p. 91-102, ago. 2016. DOI: https://doi.org/10.15174/au.2016.928

ALCUBIERRE, Beatriz; KING, Tania Carreño. Los Niños Villistas: una mirada a la historia de la infancia en México, 1900-1920. México: Instituto Nacional de Estudios Históricos de la Revolución Mexicana, 1996.

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Tradução de Dora Flaksman. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

BACZKO, Bronislaw. Los Imaginarios Sociales: memorias y esperanzas colectivas. Tradução de Pablo Betesh. 2. ed. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 1999.

BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance I: a estilística. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: 34, 2015.

BAL, Mieke. Narration and Focalization. In: BAL, Mieke (org.). Narrative Theory: Critical Concepts in Literary and Cultural Studies. Volume I: Major Issues in Narrative Theory. London and New York: Routledge, 2007. p. 263-296.

BAL, Mieke. Narratology: introduction to the theory of narrative. 4. ed. Translated by Christine Van Boheemen. Toronto: University of Toronto Press, 2017.

BLOCH, Jean. Rousseauism and education in eighteenth-century France. Oxford: Voltaire Foundation, 1995.

CAIXETA, Ana Paula Aparecida; BARROSO, Maria Veralice (org.). Verbetes da epistemologia do romance. v. 2. Campinas: Pontes, 2021.

CAMPOBELLO, Nellie. Obra Reunida. 2. ed. México: FCE, 2016.

CARBALLO, Emanuel. Diecinueve Protagonistas de la Literatura Mexicana Del Siglo XX. México: Empresas Editoriales, 1965.

DERRIDA, Jacques. O animal que logo sou (A seguir). São Paulo: Unesp, 2002.

FERNANDES, Ronaldo Costa. O narrador do romance: e outras considerações sobre o romance. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996.

FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos, volume IV: estratégia, poder-saber. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.

GENETTE, Gérard. Discurso da Narrativa. Tradução de Fernando Cabral Martins. Lisboa: Vega, 1995.

MARCHI, Rita de Cássia; SARMENTO, Manuel Jacinto. Infância, normatividade e direitos das crianças: transições contemporâneas. Educ. Soc., Campinas, v. 38, n. 141, p. 951-964, out./dez., 2017. DOI: 10.1590/ES0101-73302017175137. Acesso em: 5 ago. 2024. DOI: https://doi.org/10.1590/es0101-73302017175137

RICOEUR, Paul. A memória, a história e o esquecimento. Tradução de Alan François et al. Campinas: Unicamp, 2007.

SILVEIRA BARBOSA, Maria Carmem; DELGADO, Ana Cristina Coll; TOMÁS, Catarina Almeida. Estudos da infância, estudos da criança: quais campos? Quais teorias? Quais questões? Quais métodos? Revista Inter-Ação, Goiânia, v. 41, n. 1, p. 103-122, 2016. DOI: 10.5216/ia.v41i1.36055. Disponível em: https://revistas.ufg.br/interacao/article/view/36055. Acesso em: 10 ago. 2024. DOI: https://doi.org/10.5216/ia.v41i1.36055

SOARES, Janara Laíza de Almeida. A constituição do efeito estético através do narrador: aspectos de credibilidade em Cartucho, de Nellie Campobello. 2021a. 189 f., il. Tese (Doutorado em Literatura) – Universidade de Brasília, Brasília, 2021.

SOARES, Janara Laíza de Almeida. Credibilidade. In: CAIXETA, Ana Paula Aparecida; BARROSO, Maria Veralice (org.). Verbetes da epistemologia do romance. v. 2. Campinas: Pontes, 2021b. p. 13-28.

SOARES, Janara Laíza de Almeida. Efeito Estético. In: CAIXETA, Ana Paula Aparecida; BARROSO, Maria Veralice; BARROSO Filho, Wilton (org.). Verbetes da Epistemologia do Romance. Brasília: Verbena, 2019. p. 25-34.

TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. Tradução de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Perspectiva, 2006.

Downloads

Publicado

2024-11-07

Como Citar

de Almeida Soares, J. L. (2024). A estetização do olhar infantil na narração de Cartucho: relatos de la lucha em el Norte de México, de Nellie Campobello. Letrônica, 17(1), e46014. https://doi.org/10.15448/1984-4301.2024.1.46014

Edição

Seção

Dossiê: Estas não são histórias para crianças – representações da infância na literatura, no audiovisual e nas artes