TWO MODERN AUTOS BY ARIANO SUASSUNA
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-864X.1978.1.30855Abstract
Neste artigo discutem-se duas peças de Suassuna, revelando este como um dos chefes duma corrente cultural e literária que é ao mesmo tempo que continuação do Modernismo paralela do romance nordestino. Apesar de se ter escrito muito sobre o Auto da Compadecida, a crítica ainda não examinou detalhadamente a técnica, o estilo, nem a humanidade das personagens, criadas principalmente pela estilização cômica que é também base importante da universalidade da obra. Antes de discutir mais a universalidade desta, é necessário, portanto, assinalar os elementos regionais a que se deve seu grande sucesso. É evidente, porém, que o uso do termo “auto” sugere alguma coisa além do regional, e o leitor pensa naturalmente em Gil Vicente. Vários elementos do Auto da Compadecida parecem ter se originado do teatro vicentino, como, por exemplo, o papel do Palhaço e os diálogos cômicos de João Grilo e Chicó. A segunda parte lembra especialmente os julgamentos, tanto quanto outros elementos dos autos das Barcas. O papel dos diabos é interessante no teatro dos dois teatrólogos. Uma semelhança importante existe entre o Papa da Barca da Glória e o Bispo da Compadecida, descrevendo as duas obras, seja pelo Cristo da primeira, seja pelo Encourado da segunda, as virtudes que deveriam ter os mais altos representantes da Igreja contrastadas com os defeitos que na realidade eles possuem. Em A Pena e a Lei Suassuna volta à mesma inspiração eclética e propõe-se os mesmo motivos da Compadecida. A obra tem uma evolução comprida, sendo o primeiro ato essencialmente uma pequena farsa de 1951, com muitos elementos regionais, como a primeira versão da Compadecida, como também o terceiro ato de A Pena e a Lei, com o título de “Auto da Virtude da Esperança”. Os dois atos têm muito do auto tradicional, embora seja duma maneira geral e misturada, como é normal no teatro total moderno que se parece tanto com o teatro medieval e vicentino. Como na época medieval, tudo na obra de Suassuna procura demonstrar a identidade básica do sobrenatural e do natural. Como Gil Vicente, Suassuna é um satirista suave, esforçando-se por esclarecer os motivos humanos das personagens mais indignas, e para que sejam julgadas e perdoadas com compaixão.
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