DOUBLE PERSPECTIVE IN TWO WORKS OF JORGE AMADO
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-864X.1978.1.30852Abstract
O rico filão irônico que pervaga a ficção recente de Jorge Amado tem se manifestado frequentemente na presença de uma dupla perspectiva, ora de ação ora de personagem. Isto é evidente sobretudo nas duas novelas do livro Os Velhos Marinheiros. O presente trabalho analisa os vários tipos de dupla perspectiva existentes em “Quincas” e “Comandante”, confrontando-os entre si de acordo com os critérios assinalados por quatro críticos de renome. Seguindo as declarações de Northrop Frye, observa-se em ambas peças a ironia decorrente do triunfo dentro da catástrofe, o que implica uma certa postura sectária da parte do autor. Daí a simples aparência da neutralidade, gerada pela visão binária. Nota-se , ao mesmo tempo, com Wayne C. Booth, que a criação de duas perspectivas ambíguas difere da “ironia estável” por sua falta de univocidade e que a ambiguidade de ambas perspectivas redunda em sua “irrealização” individual. Assim, verificamos nas duas novelas que cada uma das perspectivas sacrifica um pouco de sua verossimilhança interna para encaixar-se mais plausivelmente com a outra. A existência na mesma narrativa de duas perspectivas mutuamente exclusivas nos leva a sintetizar uma terceira que as reconcilie, segundo Sharon Spencer. A ambiguidade, tanto de “Quincas” como de “Comandante”, obriga cada leitor, portanto, a inventar a própria verdade particular. Deduzimos uma quarta abordagem da opinião de Roland Barthes sobre o duplo sentido. Se bem que desempenhe principalmente a função do recurso dilatório, adiando a resolução dos enigmas do texto, o duplo sentido em si também constitui uma espécie de “contracomunicação” da parte do autor. Dessa maneira, Amado, valendo-se do que poderia ser considerado como um tipo de duplo sentido de perspectiva, parece afirmar-nos que a verdade não é recuperável em sua totalidade, que sempre existirão discrepâncias internas- mesmo nas chamadas sínteses- e que, afinal de contas, cada um há de resolver a questão da verdade a parti das próprias tendências e da própria razão. Conclui-se que, apesar de certas diferenças superficiais, ambas as novelas utilizam a dupla perspectiva de uma maneira semelhante. A associação das perspectivas deficientes com classes sociais ou éticas divergentes enfatiza a incapacidade de qualquer classe ou ética para satisfazer todas as necessidades humanas. A verdade fica indeterminada e as resoluções- a sugerida ressuição de Quincas e a milagrosa tempestade de Vasco- revelam-se como imposições sentimentais do novelista saído de sua deliciosa mas simulada imparcialidade.Downloads
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