A cidade temperou a alma do morro
A receita de Orestes Barbosa para nacionalizar o samba carioca (1933)
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-864X.2022.1.42423Palavras-chave:
Samba, Identidade nacional, Nação, NacionalismoResumo
Este trabalho busca demonstrar a historicidade da construção do samba carioca como símbolo da nação brasileira analisando a obra Samba, sua história, seus poetas, seus músicos e seus cantores, de autoria de Orestes Barbosa, publicada em 1933. Inserida no contexto de intensa discussão acerca da definição dos elementos que poderiam ser considerados nacionais durante os anos 1920 e 1930, a obra é analisada enquanto formação discursiva nacionalista de inspiração romântica no âmbito da música. O discurso ali presente expõe uma tensão no interior do debate daquele contexto, observada através da articulação entre distintas temporalidades, que evocam a tradição ou a modernidade enquanto categorias de “tempo-espaço” qualificadoras do samba carioca como símbolo da nacionalidade. Contudo, mais do que se colocarem em posições diametralmente opostas, as temporalidades ali evocadas interpenetram-se como se estivessem em uma zona de intersecção. Ao sugerir que nos morros da cidade do Rio de Janeiro se preserva a pureza do samba, Orestes Barbosa transforma o gênero musical numa espécie de “folclore urbano”, já que idealiza um espaço da cidade como lócus da tradição, à semelhança das áreas rurais produtoras de manifestações folclóricas tidas como nacionais no contexto das décadas de 1920 e 1930.
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