A história da independência do Brasil desenganada e as memórias sobre a Confederação do Equador na trajetória de João Soares Lisboa
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-864X.2022.1.41869Palavras-chave:
Independência do Brasil, Liberalismo, Imprensa, Confederação do EquadorResumo
A partir da trajetória de João Soares Lisboa, único dos réus “condenado por conluio republicano” na primeira devassa política do Império do Brasil, o artigo trata da construção e derrota política de projetos de Brasil que rivalizavam com o da centralização no governo do Rio de Janeiro, sob a dinastia de Bragança. Depois de condenado ao exílio do Brasil, Soares Lisboa aportou em Recife e se juntou à Confederação do Equador (1824), publicando o Desengano aos Brasileiros para “desenganar” seus leitores sobre o protagonismo da dinastia Bragança na história da independência do Brasil. Ao refletir sobre os eventos da história da independência do Brasil e a construção do projeto monárquico do Império pela dinastia de Bragança, Soares Lisboa disseminou no Desengano os princípios de outros projetos de Estado e de nação do Brasil que haviam sido derrotados até então e que ele defendia na organização do “governo Monarco-Democrático” no Correio do Rio de Janeiro em 1822-1823 e que em 1824 só via possível em uma república, tal como propunham os ideólogos da Confederação do Equador (1824). No Desengano, contestava o constitucionalismo de D. Pedro I e de D. João VI, descrevendo uma espécie de natureza dos monarcas que era incompatível com um governo de liberdade. Essas publicações e a participação na Confederação do Equador impactaram a memória sobre a trajetória de João Soares Lisboa na literatura histórica e esta funcionou como referencial para qualificar a radicalidade de outros personagens do período.
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