O papel do item lexical e da estrutura social na direcionalidade da mudança sonora
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-4301.2017.1.24971Palavras-chave:
Mudança sonora, Condicionamento fonético, Item lexical.Resumo
A hipótese segundo a qual falantes estabelecem representações detalhadas dos itens lexicais baseadas nas suas experiências com o uso, relativas à produção e percepção, situa a variação sonora no plano representacional, possibilitando novas abordagens sobre a dinâmica sociolinguística de uma comunidade de fala (GOMES e SILVA, 2004; FOULKES e DOCHERTY, 2006). Este artigo compara o comportamento de dois grupos sociais da comunidade de fala do Rio de Janeiro em relação à variação da fricativa em coda: a) adolescentes moradores de favelas que diferem em termos de integração social (amostras EJLA e Fiocruz); b) subgrupo de falantes da classe média (amostra Censo 2000). O comportamento de falantes socialmente excluídos pode contribuir para a compreensão da dinâmica sociolinguística da comunidade de fala, especialmente em se tratando de adolescentes, os quais representam um grupo importante na delimitação e expansão do significado social de variantes e na propagação da mudança linguística (ECKERT, 1989, 2000; WAGNER, 2008). Os resultados observados revelam que o grau de integração de jovens socialmente excluídos pode afetar o comportamento linguístico deste grupo, bem como evidenciam a importância do item lexical para detectar se há diferentes direcionalidades de mudança entre grupos sociais de uma mesma comunidade de fala para variáveis sociofonéticas.
Downloads
Referências
AULER, Mônica. A difusão lexical num fenômeno de aspiração em português. In: Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, Faculdade de Letras da UFMG, 1992.
BIRMAN, Patrícia. “Favela é comunidade?”. In: SILVA, Luiz Antônio Machado da (Org.). Vida em cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
BRESCANCINI, Cláudia R. A palatalização da fricativa alveolar não morfêmica em posição de coda no português de influência açoriana do município de Florianópolis: uma abordagem não-linear. 1996. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1996.
BYBEE, Joan. Phonology and language use. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.
BYBEE, Joan. Word frequency and context of use in the lexical diffusion of phonetically conditioned sound changes. Language Variation and Change, v. 14, p. 261-290, 2002.
BYBEE, J. Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.
Bybee, Joan. Patterns of lexical diffusion and articulatory motivation for sound change. In: Solé, Maria-Josep; Recasens , Daniel (Ed.). The initiation of sound change: perception, production and social factors. Amsterdam and Philadephia: John Benjamins Publishing Co. p. 211-234, 2012.
CALLOU, Dinah I.; BRANDÃO, Silvia F. Sobre o /s/ em coda silábica no Rio e Janeiro: falas culta e popular. In: Salgado , Ana Claudia Peters; Barretto , Mônica M. Guimarães Savedra (Org.). Sociolinguística no Brasil: uma contribuição dos estudos sobre línguas em/ de contato: homenagem ao Prof. Jürgen Heye. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2009. p. 27-34.
CALLOU, Dinah I.; MARQUES, Maria Helena D. O -s implosivo na linguagem do Rio de Janeiro. Littera, n. 14, p. 9-137, 1975.
CALLOU, Dinah I.; MORAES, João A. de. A norma de pronúncia do S e R pós-vocálicos: distribuição por áreas regionais. In: CARDOSO, Suzana A. M. (Org.). Diversidade lingüística e ensino. Salvador: EDUFBA, 1996. p. 133-147.
CANOVAS, Maria I. F. Variação fônica de /S/ pós-vocálico e de /v, z, / cabeças de sílaba, na fala de Salvador. Dissertação (Mestrado em Língua Portuguesa) – Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1991.
CARVALHO, Rosana Siqueira de. Variação do /S/ pós-vocálico na fala de Belém. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal do Pará, 2000.
DOCHERTY, Gerard J.; FOULKES, Paul. An evaluation of usage-based approaches to the modelling of sociophonetic variability. Lingua, v. 142, p. 42-56, 2014. https://doi.org/10.1016/j.lingua.2013.01.011
ECKERT, Penelope. Age as a sociolinguistic variable. In: Coulmas , Florian (Ed.). The Handbook of Sociolinguistics. Malden, MA/Oxford: Blackwell, 1998. p. 151-167.
FOULKES, Paul; DOCHERTY, Gerard J. The social life of phonetics and phonology. Journal of Phonetics, v. 34, p. 151-167, 2006.
FOULKES, Paul; VIHMAN, Marilyn. Language acquisition and phonological change. In: Honeybone , P.; Salmons , J. C. (Ed.). The Handbook of Historical Phonology. Oxford University Press, 2013.
GOMES, Christina A. Para além dos pacotes estatísticos VARBRUL/GOLDVARB e RBRUL: qual a concepção de gramática? Revista do GELNE, v. 13, n. 1, p. 259-272, 2011.
GOMES, Christina A.; PAIVA, Maria da Conceição de. Variação no grupo, no indivíduo e relação implicacional entre variáveis linguísticas. Veredas, Editora da UFJF, Juiz de Fora, v. 11, n. 1, p. 105-113, 2002.
GOMES, Christina A.; SILVA, Thais C. Variação linguística: questão antiga e novas perspectivas. Lingua(gem), ILAPEC/Macapá, v. 1, n. 2, p. 31-41, 2004.
GRYNER, Helena; MACEDO, Alzira V. T. A pronúncia do -S pós-vocálico na região de Cordeiro – RJ. In: MOLLLICA, Maria Cecilia; MARTELOTTA, Mário Eduardo (Org.). Análises linguísticas: a contribuição de Alzira Macedo. Rio de Janeiro: Serviço de Publicações -– FL/UFRJ, 2000. p. 26-51.
GUY, Gregory R. Linguistic Variation in Brazilian Portuguese: aspects of the phonology, syntax, and language history. PhD Dissertation. University of Pennsylvania, 1981.
GUY, Gregory R. As comunidades de fala: fronteiras internas e externas. In: Congresso Internacional da ABRALIN, II., Fortaleza, março de 2001. Anais do ... Fortaleza, 2001.
HINSKENS, Frans; Berman S, Ben; OOSTENDORP, Marc van. Grammar or lexicon or grammar and lexicon? Rule-based and usage-based approaches to phonological variation. Lingua, v. 142, p. 1-26, 2014. https://doi.org/10.1016/j.lingua.2014.01.005
JOHNSON, Keith. Speech perception without speaker normalization. In: Johnson , K.; Mullennix (Ed.). Talker Variability in Speech Processing. San Diego. Academic Press, 1996.
LABOV, William. Sociolinguistic Patters. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1972.
LABOV, William. Resolving the neogrammarian controversy. Language, 57, p. 267-308, 1981. https://doi.org/10.2307/413692
LABOV, William. Principles of Linguistic Change: Internal factors. Oxford: Blackwell Ed, 1994.
MACEDO, Sandra S. A palatalização do /s/ em coda silábica no falar culto recifense. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004.
MELO, Marcelo A. S. L. Desenvolvendo novos padrões na comunidade de fala: um estudo sobre a fricativa em coda na comunidade de fala do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012. https://doi.org/10.1017/CBO9780511750526
MOTA, J. A. O em coda silábica na norma culta de Salvador. 2002. Tese (Doutorado em Língua Portuguesa) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.
NARO, Anthony J.; SCHERRE, Maria Marta P. Variação e mudança linguística: fluxos e contrafluxos na comunidade de fala. Cadernos de Estudos Linguísticos, v. 20, Campinas, UNICAMP/IEL. 1991. p. 9-16.
PAIVA, Maria da Conceição de. A variável gênero/sexo. In: MOLLICA, Maria Cecília; BRAGA, Maria Luiza (Org.). Introdução à Sociolinguística – o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003. p. 33-42.
PAIVA, Maria da Conceição de; DUARTE, Maria Eugênia L. Introdução: a mudança lingüística em curso. In: PAIVA, Maria da Conceição de; DUARTE, Maria Eugênia L. (Org.). Mudança linguística em tempo real. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2003. v. 1. p. 13-29.
PATRICK, Peter L. The Speech Community. In: Chambers , J. K.; Trudgill , P.; Schilling - Estes , N. (Ed.). The Handbook of Language Variation and Change. Oxford: Blackwell Publishing, 2002. p. 573-597.
PIERREHUMBERT, Janet B. Probabilistic Phonology: discrimination and robustness. In: BOD, Rens; HAY, Jennifer, JANNEDY, Stefanie (Ed.). Probability Theory in Linguistic. The MIT Press, Cambridge MA, 2003. p. 177-228.
Pierrehumbert , Janet B. Phonological representation: Beyond abstract versus episodic. Annual Review of Linguistics, v. 2, p. 33-52, 2016. https://doi.org/10.1146/ annurev-linguistics-030514-125050
RONCARATI, Cláudia N. Variação fonológica e morfossintática na fala cearense. In: Jornada de Estudos Linguísticos do GELNE, 17., 1999, Fortaleza. Anais... Fortaleza: UFC, 1999. p. 1-12.
SANTOS, Deisiane R. dos. A Variação do /S/ pós-vocálico fa fala de Petrópolis, Itaperuna e Paraty. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2009.
SCHERRE, Maria Marta P. Reanálise da Concordância Nominal em Português. Tese (Doutorado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.
SCHERRE, Maria Marta Pereira e MACEDO, Alzira V. T. Restrições fonético-fonológicas e lexicais: o -S pós-vocálico no Rio de Janeiro. In: Mollica ; Maria Cecília; Martelotta , Mário Eduardo T. (Org.). Análises linguísticas: a contribuição de Alzira Macedo. Rio de Janeiro: Serviço de Publicações – FL/UFRJ, p. 52-64, 2000.
WEINREICH, Uriel; LABOV, William; HERZOG, Marvin. Empirical Foundations of a Theory of Language Change. In: Lehmann , Winfred P.; Malkiel , Yakov (Ed.). Directions for Historical Linguistics. Austin: University of Texas, 1968, p. 97-195.
WANG, William S.-Y. Competing changes as a cause of residue. Language, v. 45, p. 9-25, 1969. https://doi.org/10.2307/411748
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Direitos Autorais
A submissão de originais para a Letrônica implica na transferência, pelos autores, dos direitos de publicação. Os direitos autorais para os artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos da revista sobre a primeira publicação. Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente a Letrônica como o meio da publicação original.
Licença Creative Commons
Exceto onde especificado diferentemente, aplicam-se à matéria publicada neste periódico os termos de uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, que permite o uso irrestrito, a distribuição e a reprodução em qualquer meio desde que a publicação original seja corretamente citada.