Movimentos e estado como coletivos instáveis e heterogêneos

Uma agenda teórico-metodológica a partir de três estudos de casos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-7289.2020.2.36757

Palavras-chave:

Movimentos sociais, Estado, Teoria social, Política ontológica, Heterogeneidade

Resumo

Neste texto apresenta-se uma proposta teórico-metodológica para pesquisar movimentos e estado tomando como base as associações que estabelecem a partir de três pesquisas: sobre as transformações do Landless People's Movement (LPM) da África do Sul, as interações entre movimentos rurais brasileiros e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na implementação da política de reforma agrária, e a transnacionalização da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). O principal efeito do artigo é uma definição ontológica de movimentos e do estado como coletivos cuja existência é marcada por contínuos agenciamentos de elementos heterogêneos e instáveis. Não sendo possível tomá-los como unidades analíticas fechadas, cabe às pesquisas observar construções contínuas de grupos e coletivos contingentes às associações contextuais que se formam – desde antes, portanto, de sua expressão pública. Para tanto, propõe-se que sejam compreendidos quais elementos, agenciados de forma específica e descritível, permitem que as coisas tomem os cursos que normalmente observamos e analisamos. Sugere-se ainda o emprego metodológico das controvérsias como categorias analíticas e a observação dos processos na longa duração

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Biografia do Autor

Marcelo C. Rosa, Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil

Professor associado do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil. Doutor em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Mestre em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil e graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Porto Alegre, RS, Brasil.

Camila Penna, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Porto Alegre, RS, Brasil.

Professora Adjunta de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Porto Alegre, RS, Brasil. Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil. Mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil. Bacharel em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Belo Horizonte, MG, Brasil.

Priscila D. Carvalho, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil.

Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil. Mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil. Graduada em Comunicação Social pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), São Paulo, SP, Brasil. Pesquisadora de pós-doutorado no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Democracia e Democratização da Comunicação (INCT-IDDC), Belo Horizonte, MG, Brasil.

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Publicado

2020-11-13

Como Citar

C. Rosa, M., Penna, C., & D. Carvalho, P. . (2020). Movimentos e estado como coletivos instáveis e heterogêneos: Uma agenda teórico-metodológica a partir de três estudos de casos. Civitas: Revista De Ciências Sociais, 20(3), 499–512. https://doi.org/10.15448/1984-7289.2020.2.36757