“Não é competência do professor ser sexólogo”: o debate público sobre gênero e sexualidade no Plano Nacional de Educação

Autores

  • Elaine Reis Brandão Instituto de Estudos em Saúde Coletiva Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Rebecca Faray Ferreira Lopes Instituto de Estudos em Saúde Coletiva Universidade Federal do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.15448/1984-7289.2018.1.28265

Palavras-chave:

Gênero. Sexualidade. Educação. Política sexual. Moralidade.

Resumo

O trabalho discute as premissas que regem o debate público na sociedade brasileira sobre a inclusão dos conteúdos relativos ao gênero e à sexualidade no Plano Nacional de Educação. Trata-se de pesquisa socioantropológica documental, com documentos extraídos de fontes públicas na internet, no período 2011-2017, compreendendo órgãos governamentais, organizações não governamentais, portais de notícias diversos. A perspectiva de construção social do gênero e da sexualidade é questionada por ser considerada disruptiva à família para certos segmentos religiosos e políticos, não devendo ser tratada na escola. Outra visão se apoia nas discriminações e violências sofridas por estudantes devido ao estigma e desigualdade de gênero persistente nos espaços escolares. Assim, tais conteúdos ajudariam no processo educativo de convivência com a diversidade sexual, de gênero, e racial. Nesse debate, a dimensão sociocultural e política do gênero e da sexualidade se afirmam. Aspectos intervenientes na aprovação das políticas públicas sinalizam dificuldades para se garantir o Estado laico, denotando o que Carrara designa como “nova geografia do mal e do perigo sexual” ao discutir as politicas sexuais e seus peculiares estilos de regulação moral.

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Publicado

2018-04-13

Como Citar

Brandão, E. R., & Lopes, R. F. F. (2018). “Não é competência do professor ser sexólogo”: o debate público sobre gênero e sexualidade no Plano Nacional de Educação. Civitas: Revista De Ciências Sociais, 18(1), 100–123. https://doi.org/10.15448/1984-7289.2018.1.28265

Edição

Seção

Gênero e sexualidade: entre a explosão do pluralismo e os embates da normalização