São Tomé e Príncipe

uma terra maldita para as oposições?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15448/1980-864X.2024.1.45497

Palavras-chave:

São Tomé e Príncipe, democracia, competição política, deriva autoritária, oposições

Resumo

A tentação da neutralização da oposição, “herdada” do colonialismo ditatorial, subsiste desde os primórdios da independência. Ainda durante a transição política após o 25 de Abril, beneficiando de uma conjuntura favorável e, em particular, do reconhecimento da OUA, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, partido histórico da independência, neutralizou a Frente Popular Livre, uma débil formação conservadora, e a Associação Cívica Pró-MLSTP, um grupo de jovens radicalizados que passou subitamente de útil a incómodo. Antes da independência, a bem da imperiosa unidade, cerceou-se a mínima expressão da divergência dos intentos, mais intuídos do que explícitos, do MLSTP. À independência, seguiram-se quinze anos de regime de partido único. Após a adoção da democracia representativa em 1990, passou a existir alternância no poder resultante de eleições livres e justas. Em todo o caso, ocasionais locuções indiciavam a menor acomodação com as regras democráticas. Vários atos denunciaram o desejo de neutralização política dos opositores. Recentemente, corolário da sageza de uma estratégia política de longo prazo, poderá ter chegado o momento de maior dificuldade para a democracia, o mesmo é dizer, para qualquer oposição. Neste texto, para além de uma perspetiva histórica, ensaiaremos identificar os fatores avessos – entre outros, provações e carências, pulsões para a adesão à figura redentora e ao “pulso forte”, relativa facilidade de captura e de desvio de finalidade das instituições – à performance das oposições numa exígua sociedade islenha.

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Biografia do Autor

Augusto Nascimento, Centro de História da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.

Investigador do Centro de História da Universidade de Lisboa. Licenciado em História, foi cooperante em São Tomé e Príncipe de 1981 a 1987. Regressado a Portugal, em 1992, obteve o grau de mestre, em 2000, o de doutor em Sociologia pela Universidade Nova de Lisboa. Em 2015 obteve a agregação em História Contemporânea. Foi investigador auxiliar do Instituto de Investigação Científica Tropical, de Lisboa. Colabora com o Centro de Estudos Internacionais (CEI-IUL), com o Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto e com o Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. Publicou textos científicos sobre São Tomé e Príncipe e Cabo Verde em livros e em revistas nacionais e internacionais. Tem como principais áreas de interesse a história política africana, a história recente e a actualidade de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe.

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Publicado

2024-11-22

Como Citar

Nascimento, A. (2024). São Tomé e Príncipe: uma terra maldita para as oposições?. Estudos Ibero-Americanos, 50(1), e45497. https://doi.org/10.15448/1980-864X.2024.1.45497

Edição

Seção

Dossiê - As oposições políticas nos PALOP: formação, evolução e perspetivas