São Tomé e Príncipe
uma terra maldita para as oposições?
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-864X.2024.1.45497Palavras-chave:
São Tomé e Príncipe, democracia, competição política, deriva autoritária, oposiçõesResumo
A tentação da neutralização da oposição, “herdada” do colonialismo ditatorial, subsiste desde os primórdios da independência. Ainda durante a transição política após o 25 de Abril, beneficiando de uma conjuntura favorável e, em particular, do reconhecimento da OUA, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, partido histórico da independência, neutralizou a Frente Popular Livre, uma débil formação conservadora, e a Associação Cívica Pró-MLSTP, um grupo de jovens radicalizados que passou subitamente de útil a incómodo. Antes da independência, a bem da imperiosa unidade, cerceou-se a mínima expressão da divergência dos intentos, mais intuídos do que explícitos, do MLSTP. À independência, seguiram-se quinze anos de regime de partido único. Após a adoção da democracia representativa em 1990, passou a existir alternância no poder resultante de eleições livres e justas. Em todo o caso, ocasionais locuções indiciavam a menor acomodação com as regras democráticas. Vários atos denunciaram o desejo de neutralização política dos opositores. Recentemente, corolário da sageza de uma estratégia política de longo prazo, poderá ter chegado o momento de maior dificuldade para a democracia, o mesmo é dizer, para qualquer oposição. Neste texto, para além de uma perspetiva histórica, ensaiaremos identificar os fatores avessos – entre outros, provações e carências, pulsões para a adesão à figura redentora e ao “pulso forte”, relativa facilidade de captura e de desvio de finalidade das instituições – à performance das oposições numa exígua sociedade islenha.
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