O poeta plugado
a utilização da técnica e da tecnologia nas versões de tvgrama
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2024.1.45794Palavras-chave:
Corpo plugado, Ciborgue, Antropoceno, Poética experimentalResumo
A série de poemas denominada tvgrama, elaborada pelo poeta Augusto de Campos, indicia um horizonte criativo em atrito crítico com o universo digital, lido por nós a partir da noção de hibridização (CANCLINI, 2001). Neste estudo, refletimos acerca da postura performática de Campos nas versões dos poemas que compõem a série – englobando, inclusive, as adaptações para vídeo das obras, efetivadas pelo próprio artista e pela documentarista Cristina Fonseca – sob amplo cerco teórico, desde a antropologia, a semiótica de linhagem peirceana, a crítica literária, a filosofia e a teoria da comunicação, no sentido de dinamizar os jogos de forças antitéticos propostos pelas concepções modernas, resultando em uma análise terrana (LATOUR, 2014) da incursão do autor nos domínios da tecnocultura (VIRILIO, 1999). Concluímos, então, que o corpo de Campos adere ao paradigma ciborgue em postura experimental: trata-se da apropriação das técnicas das ferramentas tecnológicas precisamente para tramar um embate acerca da linguagem, em contínua condição de contrariedade no que diz respeito a um código único e universal. Nesse sentido, valer-nos-emos da categorização de Lucia Santaella (2003) para amparar criticamente a inserção do criador no contexto ciber: o corpo plugado de Augusto de Campos, na esteira do mal-estar que a era-limite do Antropoceno (HARAWAY, 2009) nos impõe, parece estabelecer uma relação entre arte e tecnologia em que ética e estética são plasmadas, redimensionando o estatuto de objetividade construtivista contrária à expressão subjetiva e hedonística que a ortodoxia concretista promoveu, tutelado pelo manifesto Plano-Piloto para Poesia Concreta, e do próprio modernismo brasileiro. Campos, nessa mirada de pesquisa, desconcretiza-se.
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