'O soldadinho de chumbo’ e a naturalização do preconceito com a deficiência
O fenômeno do dizer a infelicidade como felicidade e a pressuposição intertextual
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2024.1.45642Palavras-chave:
pressuposição intertextual, contos de fadas, deficiência, beleza padrão, soldadinho de chumboResumo
Esta pesquisa2 analisa o corpus de uma animação de “O soldadinho de chumbo”, e objetiva: (i) elucidar que existe um conteúdo-pressuposto de “não ser pessoa com deficiência e dever possuir beleza padrão para se casar nos contos de fadas”, que está inscrito no conteúdo-posto “casar-se nos contos de fadas”; e, em detrimento deste, o segundo objetivo é (ii) defender a categoria de pressuposição intertextual, entre o leque de conceitos da Semântica Argumentativa; e também (iii) investigar o fenômeno enunciativo da inversão argumentativa, isto é, dizer o fenômeno de o trágico como romântico, próprio da enunciação de O soldadinho de chumbo. Para tal, nosso referencial teórico será a Semântica Argumentativa, sobretudo operando os conceitos de pressuposição, modificador desrealizante e modificador realizante, de Oswald Ducrot. Com a finesse de uma concepção textual, intertextual e imagética desses conceitos, dado que nosso corpus é uma animação. Nossa principal hipótese coincide com o pressuposto intertextual inscrito nessa animação: em versões dos contos de fadas de animações para público infantil, o happy end é um pressuposto (intertextual) reservado aos corpos privilegiados, já que no posto “felizes para sempre” inscreve-se o pressuposto “não ser pessoa com deficiência e possuir beleza padrão” para ter direito ao ‘felizes para sempre’. Nossos resultados impactam sobretudo as áreas da linguagem e do ensino, porque se constituem por uma crítica a uma prática de leitura/perpetuação prescritivas de contos de fadas, acríticas e vazias, que apenas romantizam e naturalizam a tragédia da erradicação da pessoa com deficiência e a perpetuação do happy end enquanto pressuposto da elite.
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