O Deus da “transcendência desviada"
uma leitura girardiana do “Pós-escrito numa carta de Padre Justino” na Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2023.1.44673Palavras-chave:
da casa assassinada, Teoria mimética, Lúcio CardosoResumo
Desde a sua publicação, em 1959, a Crônica da casa assassinada (2008), de Lúcio Cardoso, configura-se como a obra mais estudada do romancista. Muitos foram os críticos literários que demarcaram a importância desse romance na obra de Cardoso, tais como Álvaro Lins (1963), Alfredo Bosi (2015), Temístocles Linhares (1971), Massaud Moisés (2019) e Manuel Bandeira (1960). Além deles, Wilson Martins (1959) e André Seffrin (2008), em críticas realizadas sobre o romance, expõem o recuo dramático a que são sujeitas as personagens femininas centrais, Ana e Nina, no último capítulo da obra. No “Pós-escrito numa carta de Padre Justino”, o capítulo que arremata os acontecimentos na chácara dos Meneses, Ana confessa que André, reconhecido inicialmente como filho de Nina, é, na verdade, seu filho. Os críticos em questão compreendem o recurso dramático de Lúcio Cardoso, no capítulo final do romance, como um pedido de desculpas por abordar tema tão espinhoso quanto o incesto. Martins (1959) e Seffrin (2008) atribuem, também, lugar ao catolicismo do autor e ao moralismo e convencionalismo a que ele cedeu. Este artigo tem por objetivo, então, observar de que maneira o “Pós-escrito numa carta de Padre Justino”, diferentemente do que apontam os dois críticos, confere unidade à Crônica da casa assassinad quando lido a partir das orientações feitas em Mentira romântica e verdade romanesca (2009), de René Girard. Para tanto, analisa, de modo detido, a trajetória de Ana e Nina ao longo da narrativa e busca compreender, no pós-escrito, como as explicações obsequiadas na voz de Padre Justino gestam uma atmosfera menos conflitiva e maniqueísta no entendimento mimético dessas duas personagens.
Downloads
Referências
BANDEIRA, Manuel. Lúcio Cardoso. Folha de S. Paulo, Folha Ilustrada, Efemérides, São Paulo, 3 dez. 1960. p. 2. Disponível em: http://acervo.folha.uol.com.br/fsp/1960/12/03/21//4498698. Acesso: 2 dez. 2022.
BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 50. ed. São Paulo: Cultrix, 2015.
CARDOSO, Lúcio. Crônica da casa assassinada. 7. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
CARDOSO, Lúcio. Maleita. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
CARDOSO, Lúcio. Salgueiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
CONDE-SILVA, Alessandra F.; SANTOS, Thiago Gabriel Machado dos. Apontamentos girardianos na relação Ana e Nina na Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso. Hispanista, v. 23, n. 91, 2022. Disponível em: http://www.hispanista.com.br/artigos%20autores%20e%20pdfs/715.pdf. Acesso em: 29 jul. 2023.
GIRARD, René. Apresentação. In: ANSPACH, Mark R. Édipo mimético. Tradução: Ana Lúcia Costa. São Paulo: É Realizações, 2012. p. 11-18.
GIRARD, René. Mentira romântica e verdade romanesca. Tradução: Lília Ledon da Silva. São Paulo: É Realizações, 2009.
LINHARES, Temístocles. Itinerário de um romancista. O Estado de S. Paulo, Suplemento literário, São Paulo, 11 de jul. 1971, p. 5.
LINS, Álvaro. No subsolo da natureza humana. In: LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca: obras, autores e problemas da literatura brasileira: Ensaios e Estudos: 1940-1960. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. p. 107-122.
MARTINS, Wilson. Um romance brasileiro. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 1º ago. 1959, p. 2. Suplemento literário.
MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira, volume III: desvairismo e tendências contemporâneas. 3. ed. São Paulo: Pensamento Cultrix, 2019.
SEFFRIN, André. Uma gigantesca espiral colorida. In: CARDOSO, Lúcio. Crônica da casa assassinada. 7. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p. 7-12.
STENDHAL, Henri Marie Beyle. O vermelho e o negro. Tradução: Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2007.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Letras de Hoje
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Direitos Autorais
A submissão de originais para a Letras de Hoje implica na transferência, pelos autores, dos direitos de publicação. Os direitos autorais para os artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos da revista sobre a primeira publicação. Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente a Letras de Hoje como o meio da publicação original.
Licença Creative Commons
Exceto onde especificado diferentemente, aplicam-se à matéria publicada neste periódico os termos de uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, que permite o uso irrestrito, a distribuição e a reprodução em qualquer meio desde que a publicação original seja corretamente citada.