A memória da ditadura no período da redemocratização brasileira
dos arquivos subterrâneos às mídias digitais
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2022.1.43504Palavras-chave:
discurso militarista no Brasil, arquivos midiáticos subterrâneos, discurso midiático digitalResumo
Propõe-se, neste estudo, uma análise do discurso do militarismo, com foco nas redes de memórias em funcionamento no período do restabelecimento da democracia brasileira após o regime militar, precisamente no ano de 1999. Especificamente, nosso objetivo é compreender como a ditadura militar e a democracia são discursivizadas no período de redemocratização pela mídia jornalística, e que efeitos de sentido são produzidos na atualidade, tendo em vista a retomada desse discurso com sua atualização/circulação nas mídias digitais da internet de nosso tempo. O trabalho respalda-se teoricamente na Análise de Discurso de filiação pecheuxtiana. O corpus se compõe de trechos de um vídeo com uma entrevista do então deputado federal Jair Bolsonaro, concedida ao programa Câmera Aberta, em 1999, na TV Band do Rio de Janeiro; a partir do vídeo, que foi republicado em 2017 no YouTube, que circula na atualidade, extraímos duas sequências discursivas para esta análise. Os resultados apontam que, mesmo sob os efeitos do discurso da redemocratização, em forte funcionamento naquele momento histórico de pós-ditadura, a memória discursiva do militarismo continuou a funcionar nas camadas subterrâneas dos arquivos da mídia jornalística da época. Entretanto, com o avanço das tecnologias digitais, esses discursos foram/são atualizados nas mídias e redes sociais, com uma nova força e outros embates e efeitos discursivos, tendo em vista as novas condições de produção e circulação dos discursos. Depreende-se também, por meio dos gestos de interpretação realizados neste estudo, que pelo efeito da circulação, esse discurso oriundo dos arquivos subterrâneos, agora em funcionamento na mídia digital, pode produzir efeitos nocivos que ameaçam a atual democracia brasileira.
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