Sollertinsky, entre o património e a (re)descoberta
Génese e desenvolvimento do pensamento tripartido e destotalizante
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-7726.2021.3.41839Palavras-chave:
Musicologia soviética, Crítica soviética, Estética, Interdisciplinaridade, Metodologia TripartiçãoResumo
O problema daquilo que se poderia definir como uma adequada e necessária revisão histórica referente à figura de Ivan Sollertínski (1902-1944) se apresenta ainda hoje, uma vez que a musicologia contemporânea (Ocidental) evitou deliberadamente qualquer profunda investigação sobre a atividade crítica bem como seu processo ideológico-cognitivo que particularizou a obra criativa desse estudioso. A falta de fontes, as barreiras linguísticas e a pouca disponibilidade dos textos favoreceram uma transmissão parcial desse importante legado do autor. A produção ensaística e, também, divulgada de Sollertínski é enriquecida de análises e reflexões capazes de englobar o que se poderia definir como um processo sintático de constructo artístico-compositivo. O presente artigo coloca em questão, então, a influência exercida do eixo Sollertínski Bakhtin nas obras do primeiro Chostakóvich, nas quais a simbologia crítico-literária nos permite individualizar modelos cognitivos-perceptivos (Dostoiévski-Shakespeare), assim como elementos folclóricos populares (Rabelais) distanciados dos preconceitos impostos pelo realismo socialista. A escolha das obras, como veremos, recairá em algumas composições de Chostakóvich que, mais do que outras, têm a tendência de oscilar com maior evidência em territórios extramusicais, promovendo uma linguagem de clara matriz bakhtiniana. Trata-se de uma grande “parábola composicional” de aproximadamente dez anos e que dificilmente se afasta da subjetividade de um processo criativo arquitetado, mas que oferece, especialmente nessas primeiras obras do compositor, um estilo musical imbuído de léxicos e sintaxes crítico-literárias. Deparamo-nos, dessa forma, com um envolvimento interdisciplinar que não prevê uma sobreposição de uma área sobre a outra, mas, o exato contrário, de modo a favorecer uma intertextualidade estrutural capaz de mostrar tanto as relações musicais quanto as extramusicais. O processo tripartite-detotalizante [tripartitico detotalizzante], o emblemático modelo crítico introduzido por Sollertínski, apresenta-se, portanto, como um instrumento analítico de fundamental importância historiográfica, o qual é capaz de reler a arquitetônica composicional do mesmo modo que o projeto estilístico.
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