“Observações de uma cúmplice”
Análise dialógica do discurso autobiográfico de Svetlana Alexievich
DOI:
https://doi.org/10.15448/7726.2021.2.40332Palavras-chave:
Autobiografia, Autor, Memória, Identidade, Círculo de BakhtinResumo
A memória nostálgica é evocada em resposta a um presente aflitivo e, assim, orienta o futuro do sujeito reminiscente. De efeito contundente na construção da identidade – coletiva e individual – a nostalgia se mostra especialmente profícua na sociedade russa. Algo que se reflete notavelmente nos relatos mnemônicos da obra O fim do homem soviético (2016), da jornalista e escritora bielorrussa Svetlana Alexievich. Na obra, a narrativa coletiva privilegiada no interior dos mitos e ideologias que regiam a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) dá espaço a uma miríade de tonalidades através dos relatos particulares. Tendo isso em vista, o objetivo deste estudo foi analisar o capítulo autobiográfico “Observações de uma cúmplice”, a partir da perspectiva da análise dialógica do discurso, com atenção especial ao modo como Alexievich se posiciona discursivamente como autora. Para tanto, desenvolveram-se conceitos do Círculo de Bakhtin e apoiou-se na ambientação ideológica soviética examinada em obras de Svetlana Boym e Orlando Figes. Constatou-se uma voz autoral que reconhece seu poder de construção histórica em diálogo profundo com a comunidade da qual fez e faz parte. A partir disso, por mais que se distanciasse para dar certo acabamento estético à sua personagem autobiográfica, a autora desenvolveu discursivamente sua identidade ao aproximar-se empaticamente do outro com quem compartilhou as expectativas e dores do vigor e queda do regime soviético.
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