Trabalho e sofrimento: a extinção de cargos na universidade pública
DOI:
https://doi.org/10.15448/1981-2582.2018.1.26209Palavras-chave:
Saúde. Trabalho. Universidade pública. Extinção de cargos. Sofrimento.Resumo
Este artigo analisa os efeitos das transformações estruturais ocorridas nas universidades públicas federais e suas repercussões na saúde e no trabalho dos servidores ocupantes de cargos em extinção em uma universidade federal do sul do país. Para empreender esta análise, deu-se ênfase à abordagem qualitativa, à revisão do estado da arte sobre o tema e à realização de entrevistas semiestruturadas com a gestão superior da universidade, com a representação sindical e com nove servidores ativos ocupantes de cargos em processo de extinção. Os resultados evidenciam que as trajetórias desses servidores estão marcadas pelo sofrimento, pela discriminação e pela falta de alternativas para inserção no mercado de trabalho. As estratégias por eles empregadas para o enfrentamento das dificuldades em seu quotidiano de trabalho na universidade têm efeitos meramente paliativos, não sendo capazes de modificar a realidade em que se encontram. Tornam-se reféns e invisíveis, o que contribui para a produção do sofrimento e do adoecimento no trabalho.
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