Donas, pretas livres e escravas em Luanda (Séc. XIX)

Autores

  • Vanessa dos Santos Oliveira Universidade de Toronto

DOI:

https://doi.org/10.15448/1980-864X.2018.3.29583

Palavras-chave:

Luanda, escravidão, donas, pretas livres.

Resumo

Luanda, a capital da colônia portuguesa de Angola, era uma cidade de maioria feminina em meados do século XIX. A população feminina era composta de donas, pretas livres e escravas que ocupavam espaços diferenciados nessa sociedade colonial. As filhas da elite luso-africana eram desde a infância reconhecidas como donas, refletindo seu status social e econômico. Ao longo da vida, elas acumulavam escravos, terras e objetos de luxo através de heranças e da participação no comércio local e de longa distância como mercadoras e intermediárias entre comerciantes estrangeiros e fornecedores africanos. As pretas livres buscavam oportunidades no comércio ambulante como quitandeiras e oferecendo serviços aos habitantes da cidade. Escravas, por sua vez, também adentravam o pequeno comércio das ruas e mercados e desempenhavam atividades domésticas nas residências de estrangeiros e luso-africanos. Esse estudo se baseia em registros de escravos, batismos, óbitos e escrituras de compra e venda para explorar experiências de donas, pretas livres e escravas na Luanda dos oitocentos. Numa sociedade luso-africana e escravocrata, elementos como descendência portuguesa, posse de bens e adesão à cultura lusa conferiam prestígio e determinavam as trajetórias pessoais de mulheres livres e escravizadas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALEXANDRE, Valentim; DIAS, Jill (Eds.). O Império Africano (1825-1890). Lisboa: Estampa, 1998.

BERGER, Iris. African Women’s History: Themes and Perspectives. Journal of Colonialism and Colonial History, Baltimore, v. 4, n. 1, p. 1-11, 2003.

CALDEIRA, Carlos José. Apontamentos d’uma viagem de Lisbon à China e da China a Lisbon. Lisbon: Typograhia de Castro & Irmão, 1853. 2 v.

CANDIDO, Mariana P. Strategies for Social Mobility: Liaisons between Foreign Men and Slave Women in Benguela, c. 1770-1850. In: CAMPBELL, Gwynand; ELBOURNE, Elizabeth (Org.). Sex, Power and Slavery: The Dynamics of Carnal Relations under Enslavement. Athens: Ohio University Press, 2014. p. 272-288.

______. Os agentes não europeus na comunidade mercantil de Benguela, c. 1760-1820. Saeculum, João Pessoa, v. 29, p. 97-124, 2013a.

______. An African Slaving Port and the Atlantic World: Benguela and its Hinterland. New York: Cambridge University Press, 2013b.

https://doi.org/10.1017/CBO9780511997594

______. Aguida Gonçalves da Silva, une dona à Benguela à lafindu XVIIIe siécle. Brésil(s). Sciences humaines et sociales, Paris, v. 1, p. 33-54, 2012a.

______. Concubinage and Slavery in Benguela, ca. 1750-1850. In: HUNT, Nadine and OJO, Olatunji (Org.). Slavery and Africa and the Caribbean: A History of Enslavement and Identity since the 18th Century. London/New York: I.B. Tauris, 2012b. p. 66-84.

______. Trans-Atlantic Links: The Benguela-Bahian Connections, 1700-1850. In: ARAUJO, Ana Lúcia (Org.). Paths of the Atlantic Slave Trade. Interactions, Identities, andImages. Amherst, NY: Cambria Press, 2011. p. 239-272.

______. Merchants and the Business of the Slave Trade in Benguela, c. 1750-1850. African Economic History, Madison, v. 35, p. 1-30, 2008.

CARDOSO, Carlos Alberto Lopes. Ana Joaquina dos Santos Silva, industrial angolana da segunda metade do século XIX. Boletim Cultural da Câmara Municipal de Luanda, Luanda, v. 32, p. 5-14, 1972.

______. Estudo Genealógico da Família Matozo de Andrade e Câmara. Ocidente, Lisboa, v. 403, p. 311-322, 1971.

CORREA, Elias Alexandre da Silva. História de Angola. Lisbon: Editorial Ática, 1937. 2 v.

CUNHA, Anabela. Degredo para Angola na Segunda Metade do Século XIX. 2004. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade de Lisboa, Lisboa, 2004.

CURTO, José C. The Donas of Benguela, 1797: A Preliminary Analysisof a Colonial Female Elite. In: BERGAMO, Edvaldo, PANTOJA, Selma; SILVA, Ana Claudia (Org.). Angola e as Angolanas: Memória, Sociedade e Cultura. São Paulo: Intermeios, 2016. p. 99-120.

______. Resistência à Escravidão na África: O Caso dos Escravos Fugitivos Recapturados em Angola, 1846-1876. Afro-Ásia, Salvador, v. 33, p. 67-86, 2005.

______. Enslaving Spirits: The Portuguese-Brazilian Alcohol Trade at Luanda and Its Hinterland, c.1550-1830. Leiden: Brill, 2004.

______. ‘As If From A Free Womb’: Baptismal Manumissions in the Conceição Parish, Luanda, 1778-1807. Portuguese Studies Review, Peterborough, v. 10, n. 1, p. 26-57, 2002.

______. The Anatomy of a Demographic Explosion: Luanda, 1844-1850. International Journal of African Historical Studies, Boston, v. 32, p. 381-405, 1999.

https://doi.org/10.2307/220347

CURTO, José C.; GERVAIS, Raymond R. The Population History of Luanda during the late Atlantic Slave Trade, 1781-1844. African Economic History, Madison, v. 29, p. 1-59, 2001.

ELBL, Ivana. Men Without Wives: Sexual Arrangements in the Early Portuguese Expansion in West Africa. In: MURRAY, Jacquelline; EISENBICHLER, Konrad (Org.). Desire and Discipline: Sex and Sexuality in the Premodern West. University of Toronto Press, 1996. p. 61-86.

ELTIS, David; RICHARDSON, David. Atlas of the Transatlantic Slave Trade. New Haven: Yale University Press, 2010.

Eltis , David et al. “Voyages: The Trans-Atlantic Slave Trade Database,” Online Database, 2008.

www.slavevoyages.org/

FERREIRA, Roquinaldo A. Cross-Cultural Exchange in the Atlantic World: Angola and Brazil during the Era of the Slave Trade. New York: Cambridge University Press, 2012.

https://doi.org/10.1017/CBO9781139025096

______. Slaving and Resistance to Slaving in West Central Africa. In: ELTIS, David; ENGERMAN, Stanley (Org.). The Cambridge World History of Slavery. Cambridge: Cambridge University Press, 2011. v. 3. p. 111-131.

______. The Suppression of the Slave Trade and Slave Departures from Angola, 1830s-1860s. In: ELTIS, David; RICHARDSON, David (Org.). Extending the Frontiers: Essay on the New Transatlantic Slave Trade Database. New Haven: Yare University Press, 2008. p. 313-334.

______. Brasil e Angola no tráfico ilegal de escravos. In: PANTOJA, Selma (Org.). Brasil e Angola nas Rotas do Atlântico Sul. Rio de Janeiro: Bertrand, 1999. p. 143-194.

GREAT BRITAIN. Parliament. House of Commons. Accounts and Papers of the House of Commons. v. 47, p. I. (1852-53). Cambridge: Harvard College Library, 1880.

HAY, Margaret J. Queens, Prostitutes and Peasants Historical Perspectives on African Women, 1971-1986. Canadian Journal of African History, London, v. 24, p. 431-447, 1983.

HEYWOOD, Linda M. Portuguese into African: The Eighteenth-Century Central African Background to Atlantic Creole Cultures. In: HEYWOOD, Linda M.; THORNTON, John K. Central Africans and Cultural Transformations in the American Diaspora. London: Cambridge University Press, 2002. p. 91-114.

KARASCH, Mary C. The Brazilian Slavers and the Illegal Slave Trade, 1836-1851. Dissertação (Mestrado em História) – University of Wisconsin, Madison, 1967.

LIMA, José J. Lopes de. Ensaios sobre a Statistica das Possessões Portuguezas. Lisboa: Imprensa Nacional, 1846. v. 1-3.

LIVINGSTONE, David. Family Letters, 1841-1850. London: Chatto & Windus, 1859. v. I.

MARQUES, João Pedro. Arsénio Pompílio Pompeu de Carpo: um percurso negreiro no século XIX. Análise Social, Lisboa, v. 36, n. 160, p. 609-638, 2001.

MILLER, Joseph C. Way of Death: Merchant Capitalism and the Angolan Slave Trade, 1730-1830. Madison: University of Wisconsin Press, 1988.

OLIVEIRA, Luiz da Silva Pereira. Privilégios da Nobreza e Fidalguia de Portugal. Lisboa: João Rodrigues Neves, 1806.

OLIVEIRA,Vanessa S. Mulher e comércio: A participação feminina nas redes comerciais em Luanda (século XIX). In: BERGAMANO, Edvaldo; PANTOJA, Selma; SILVA, Ana Claudia (Org.). Angola e as Angolanas: Memória, Sociedade e Cultura. São Paulo: Intermeios, 2016. p. 133-152.

______. The Gendered Dimension of Trade: Female Traders in Nineteenth Century Luanda. Portuguese Studies Review, Peterborough, v. 23, n. 2, p. 93-121, 2015a.

______. Gender, Foodstuff Production and Trade in Late-Eighteenth Century Luanda. African Economic History, Madison, v. 43, p. 57-81, 2015b.

______. Trabalho escravo e ocupações urbanas em Luanda na segunda metade do século XIX. In: PANTOJA, Selma; THOMPSON, Estevam C. (Org.). Em torno de Angola: narrativas, identidades e as conexões atlânticas. São Paulo: Intermeios, 2014. p. 249-275.

PACHECO, Carlos. Arsénio Pompílio Pompeu de Carpo. Uma vida de luta contra as prepotências do Poder Colonial em Angola. Revista Internacional de Estudos Africanos, Lisboa, v. 16/17, p. 49-102, 1992-1994.

PANTOJA, Selma. Women’s Work in the Fairs and Markets of Luanda. In: SARMENTO, Clara (Org.). Women in the Portuguese Colonial Empire: The Theatre of Shadows. Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing, 2008. p. 81-94.

______. Gênero e comércio: as traficantes de escravos na região de Angola. Travessias, Cascavel, v. 4/5, p. 79-97, 2004.

______. A dimensão atlântica das quitandeiras. In: FURTADO, Júnia Ferreira (Org.). Diálogos Oceânicos. Minas Gerais e as novas abordagens para uma história do Império Ultramarino Português. Belo Horizonte: UFMG, 2001a. p. 45-67.

PANTOJA, Selma. Donas de ‘Arimos’: um negócio feminino no abastecimento de gêneros alimentícios em Luanda (séculos XVIII e XIX). In: PANTOJA, Selma Pantoja; PAULA, Carlos Alberto Reis de (Org.). Entre Áfricas e Brasis. Brasília: Paralelo 15 Editores, 2001b. p. 35-49.

PIERONI, Geraldo. Os Excluídos do Reino. Brasília: Universidade de Brasília, 2000.

RAMOS, Donald. Marriage and the Family in Colonial Vila Rica. In: SILVA, Maria Beatriz Nizza da (Org.). Families in the Expansion of Europe, 1500-1800. Brookfield: Ashgate, 1998. p. 39-64.

REIS, João José. O cotidiano da morte no Brasil oitocentista. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe de (Org.) História da Vida Privada no Brasil: Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

SHELDON, Kathleen. Writing about Women: Approaches to a Gendered Perspective in African History. In: PHILIPS, John Edward (Org.). Writing African History. Rochester: University of Rochester Press, 2005. p. 465-489.

SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Donas e plebeias na sociedade colonial. Lisboa: Estampa, 2002.

STROBEL, Margaret. African Women’s History. The History Teacher, Long Beach, v. 15, n. 4, p. 509-522, 1982.

https://doi.org/10.2307/493441

TAMS, Gustav. Visit to the Portuguese Possessions in South-Western Africa. London: T. C. Newby, 1845. 2 v.

THOMPSON, Estevam C. Negreiros nos mares do Sul: Famílias traficantes nas rotas entre Angola e Brasil em fins do século XVIII. 2006. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade de Brasília, Brasília 2006.

VALDEZ, Francisco Travassos. Six Years of a Traveller’s Life in Western Africa. London: Hurstand Blackett, 1861. 2 v.

WHEELER, Douglas L. Angolan Woman of Means: D. Ana Joaquina dos Santos e Silva, Mid-Nineteenth Century Luso-African Merchant-Capitalist of Luanda. Santa Bárbara Portuguese Studies, v. 3, p. 284-297, 1996.

ZERO, Arethuza Helena. Escravidão e liberdade: as alforrias em Campinas no século XIX (1830-1888). 2009. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Econômico) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas 2009.

Downloads

Publicado

2018-12-21

Como Citar

Oliveira, V. dos S. (2018). Donas, pretas livres e escravas em Luanda (Séc. XIX). Estudos Ibero-Americanos, 44(3), 447–456. https://doi.org/10.15448/1980-864X.2018.3.29583

Edição

Seção

Dossiê: Cores, classificações e categorias sociais: os africanos nos impérios ibéricos, séculos XVI a XIX