O conceito hegeliano de “Fenomenologia” e o problema do ceticismo
DOI:
https://doi.org/10.15448/1984-6746.2006.1.1882Resumo
A relação de Hegel com o ceticismo está longe de ser clara. A par de existirem alguns poucos trabalhos sobre o assunto, e de Hegel abordar o tema em várias obras, não está bem determinado se Hegel possui uma teoria global sobre o ceticismo ou se apenas é um mero crítico de posturas céticas clássicas na antiguidade e na modernidade. Em que pese Hegel ser um crítico ferrenho do ceticismo moderno (por ex., em textos como Sobre a relação do Ceticismo com a Filosofia, as Preleções sobre História da Filosofia e a Enciclopédia das Ciências Filosóficas), a sua crítica não se restringe a esta ou aquela forma de ceticismo, mas se funda numa teoria geral do saber que compreende o ceticismo como uma atividade negativa constitutiva da consciência e pretende refutá-lo enquanto ele reifica essa negatividade numa pretensão de verdade. A refutação consiste na descrição do modo como o ceticismo filosófico seria um saber parcial, e por isso auto-refutativo. O presente trabalho pretende sugerir que isto ocorre, sobretudo, na Fenomenologia do Espírito, cujo caráter “fenomenológico” propriamente dito não parece poder ser bem compreendido, sem tomar como pano de fundo o problema do ceticismo.
PALAVRAS-CHAVE – Hegel. Fenomenologia. Ceticismo. Refutação.
ABSTRACT
Hegel’s position towards skepticism is far from being clear. On the one hand, there are just a few studies on the subject and Hegel faces the issue in several of his writings; on the other hand, it is not established yet if Hegel has a global theory about skepticism or if he is just a critic of Ancient and Modern skeptical attitudes. In spite of Hegel being known as a sharp critic of Modern skepticism (for example, in works like On the relationship of skepticism to philosophy, Lectures on the history of philosophy and Encyclopedia of philosophical sciences), his criticism is not restricted to specific forms of skepticism, but it is rather founded upon a general theory of knowledge which takes skepticism as a negative activity constitutive of our natural consciousness and intends to refute the skeptical attitude as that negative activity of self-consciousness is reified and turned out into a special kind of truth claim. Hegel’s refutation consists in describing the way philosophical skepticism would be understood as a partial and self-defeating attitude of knowing. The present study suggests that this procedure is to be seen above all in the Phenomenology of Mind, whose “phenomenological” character cannot be rightly understood without taking properly into account the problem of skepticism.
KEY WORDS: Hegel. Phenomenology. Skepticism. Refutation.
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