Recusa da vacinação em área urbana do norte de Portugal
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-6108.2018.4.32152Palavras-chave:
recusa de vacinação, hesitação vacinal, programas de imunização, pediatria, criança, adolescente.Resumo
OBJETIVOS: Conhecer o número de recusas vacinais e investigar os motivos de não adesão à vacinação pelos pais de crianças e adolescentes residentes numa área urbana do norte de Portugal.
MÉTODOS: Estudo transversal com amostra obtida dos registros de crianças/adolescentes até os 14 anos, inscritos em unidades de saúde de uma área metropolitana da cidade do Porto, Portugal, pertencentes aos agrupamentos de centros de saúde Porto Ocidental, Porto Oriental, Gaia, Gondomar e Matosinhos, cujos pais recusaram alguma vacina do Programa Nacional de Vacinação, no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2015. A caraterização da amostra e os motivos de recusa vacinal foram estudados através da aplicação de um questionário aos pais.
RESULTADOS: Foram identificados 150 casos de crianças/adolescentes aos quais os pais recusaram alguma vacina, numa população global de 103.406 crianças, resultando em uma taxa de recusa vacinal de 0,14%. A maior taxa ocorreu no agrupamento de centros de saúde Porto Ocidental: 0,31%. Entre os 150 casos, 86 pais aceitaram responder ao questionário, correspondendo a uma taxa de adesão de 64%. A mediana da idade das crianças/adolescentes cujos pais recusaram a vacinação foi de sete anos, sendo a maioria saudável e sem problemas perinatais. Todos os pais eram adultos, a maioria casados e do gênero feminino. A maioria tinha curso superior e encontrava-se em atividade profissional. O agrupamento de centros de saúde do Porto Ocidental foi aquele onde os pais que recusaram vacinas eram majoritariamente do sexo masculino, tinham nível acadêmico mais alto e eram mais ativos profissionalmente. A vacina com maior taxa de recusa foi a BCG, seguida da anti-papilomavírus humano e da vacina contra sarampo, caxumba e rubéola. Os quatro principiais motivos de recusa vacinal referidos pelos pais foram: "as vacinas não são uma prioridade", "as vacinas são pouco seguras", "indicação do médico assistente" e "receio de efeitos colaterais". O motivo "indicação do médico assistente" referiu-se, em todos os casos, à vacina BCG.
CONCLUSÕES: Nesta população foi pequena a taxa de recusa vacinal; no entanto, com base nos resultados obtidos, podem ser dirigidos esforços de intervenção junto às famílias, visando combater os argumentos sem base científica e obter uma adesão inequívoca ao Programa Nacional de Vacinação em Portugal.
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