Risco de lesões de ombro em cortadores de cana-de-açúcar: análise baseada na simulação dos movimentos
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-6108.2017.3.27610Palavras-chave:
saúde do trabalhador, trabalhadores rurais, articulação do ombro, síndrome de colisão do ombro, riscos ocupacionais.Resumo
***Risco de lesões de ombro em cortadores de cana-de-açúcar: análise baseada na simulação dos movimentos***
OBJETIVOS: Avaliar se os ângulos de amplitude da flexão e abdução de ombro, nos movimentos realizados durante uma simulação da tarefa do corte de cana-de-açúcar, ultrapassam os limites considerados seguros.
MÉTODOS: Foram realizadas simulações controladas não randomizadas do movimento do corte de cana-de-açúcar em voluntários recrutados entre estudantes universitários. Os critérios de inclusão foram (a) sexo masculino; (b) idade entre 21 e 40 anos; (c) destro; (d) sem alterações ortopédicas e/ou neurológicas; (e) características físicas e histórico de atividades laborais semelhantes às dos cortadores de cana; (f) atividade física aeróbica pelo menos três vezes por semana nos últimos seis meses. Os critérios de exclusão foram (a) presença de dor durante os testes; e (b) incapacidade de realizar o movimento. O estudo foi realizado no laboratório de biomecânica ocupacional do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Ergonomia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista. Os dados cinemáticos foram coletados pelo Sistema de Análise de Movimento Tridimensional Vicon®. As aberturas em flexão e abdução do ombro direito foram medidas e classificadas. Os parâmetros utilizados para avaliar os resultados tiveram como referência o documento do Ministério da Saúde que sintetiza os limites seguros de amplitude desses movimentos.
RESULTADOS: Foram avaliados 10 sujeitos, com média de idade de 24,5±4,78 anos. Foram analisadas 39 coletas obtidas com repetições dos movimentos durante um período médio de 30 segundos. O ângulo de abertura do ombro em flexão permaneceu acima de 30 graus por 98,18% do tempo de execução da tarefa, acima de 45 graus por 88,84%, acima de 60 graus por 42,19% e acima de 90 graus por 7,72% do tempo. O ângulo de abdução permaneceu acima de 60 graus por 100% e acima de 90 graus por 57,59% do tempo. Nos picos de amplitude de movimento observaram-se aberturas em abdução com ângulos superiores a 100 graus.
CONCLUSÕES: Durante a maior parte do tempo dos experimentos que simularam o movimento de corte de cana-de-açúcar, os ângulos de flexão e abdução do ombro estiveram acima dos considerados seguros, indicando que a atividade realizada por cortadores de cana-de-açúcar possui um forte potencial para causar danos à articulação dos ombros.
Downloads
Referências
Luz VG, Zangirolani LTO, Vilela RAG, Corrêa-Filho HR. Consumo alimentar e condições de trabalho no corte manual de cana de açúcar no estado de São Paulo. Saúde e Sociedade. 2014;23(4):1316-28. https://doi.org/10.1590/S0104-12902014000400016
Alves F. Porque morrem os cortadores de cana? Saúde e Sociedade. 2006;15(3):90-8. https://doi.org/10.1590/S0104-12902006000300008
Silva MRC. Estudos de alternativas ergonômicas para a colheita na lavoura de cana-de-açúcar.Rio de Janeiro (RJ): Fundação Getúlio Vargas I Instituto Superior de estudos e pesquisas psicossociais (ISOP), Centro Brasileiro de Ergonomia e Cibernética; 1981. Relatório Técnico, 97p.
Messias IA, Okuno E. Study of postures in sugarcane cutters in the Pontal of Paranapanema-SP, Brazil. Work. 2012;41 Suppl 1:5389-91.
Rocha FLR, Marziale MHP, Robazzi MLCC. A Pobreza Como Fator Predisponente ao Adoecimento de Trabalhadores do Corte da Cana-de-Açúcar. Rev Lat Am Enfermagem. 2007;15(número especial).
Novaes JRP. Campeões de Produtividade: dor e febre nos canaviais paulistas. EstudosAvançados. 2007;21(59):167-77. https://doi.org/10.1590/S0103-40142007000100013
Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Dor relacionada ao trabalho: Lesões por Esforços Repetitivos (LER): Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort). Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2012.
Carvalho CD, Cohen C, Belangero OS, Figueiredo EA, Monteiro GC, Pochini AC, Andreoli CV, Ejnisman B.Lesão parcial do manguito rotador no atleta – bursal ou articular?, Revista Brasileira de Ortopedia. 2015;50(4):416-21. https://doi.org/10.1016/j.rbo.2014.07.002
Aaras A, Westgaard RH, Stranden E. Postural angles as an indicator of postural load and muscular injury in occupational work situations. Ergonomics. 1988;31(6):915-33. https://doi.org/10.1080/00140138808966731
Basmajian JV. Terapêutica por exercícios. São Paulo: Manole; 1980.
Mitchell K, Banks S, Morgan D, Sugaya H. Shoulder Motions During the Golf Swing in Male Amateur Golfers. J Orthop Sports Phys Ther. 2003;23(4):196-203. https://doi.org/10.2519/jospt.2003.33.4.196
Vicon Motion Systems Ltda. Vicon plug-in gait product guide: foundation notes revision; 2012:86p.
Jordan K, Dziedzic K, Mullis R. The development of three-dimensional range of motion measurement systems for clinical practice. Rheumatology (Oxford). 2001;40(10):1081-4. https://doi.org/10.1093/rheumatology/40.10.1081
Sônego DA, Cliquet Júnior A. Análise do movimento de abdução do ombro pelo sistema óptico. Biosci J. 2006;22(2):147-58.
Pfister, West AM, Bronner S, Noah JA. Comparative abilities of Microsoft Kinect and Vicon 3D motion capture for gait analysis. J Med Eng Technol. 2014;38(5):274-80. https://doi.org/10.3109/03091902.2014.909540
Robertson, G. E., G. E. Caldwell, Hamill, J, Kamen, G. Research Methods in Biomechanics. 2nd ed. Champaign (IL): Human Kinetics; 2014.
Bjelle A, Hagberg M, Michaelson G. Occupational and individual factors in prolonged shoulder pain among industrial workers. Brit J Ind Med. 1981;38(4):356-63.
Chaffin DB. Localized muscle fatigue: definition and measurement. J Occup Med. 1973;15(4):346-54.
Herberts P, Kadefors R, Broman H. Arm positioning in manual tasks: an electromyographic study of localized muscle fatigue. Ergonomics. 1980;23(7):655-65. https://doi.org/10.1080/00140138008924780
Beyer JA, Wright IS. The hyperabduction syndrome: with special reference to its relationship to Raynaud`s syndrome. J Am Heart Assoc. 1951;4(2):161-72. https://doi.org/10.1161/01.CIR.4.2.161
Järvholm U, Palmerud G, Karlsson D, Herberts P, Kadefors R. Instramuscular pressure and electromyography in four shoulder muscles. J Orthop Res. 1990;9(4):609-19. https://doi.org/10.1002/jor.1100090418
Hagberg M. Electromyographic signs of shoulder muscular fatigue in two elevated arm positions. Am J Phys Med. 1981;60(3):111-21.
Hagberg M. Work load and fatigue in repetitive arm elevations. Ergonomics. 1981;24(7):543-55. https://doi.org/10.1080/00140138108924875
Kilbom A, Persson J, Jonsson BG. Disorders of the cervicobrachial region among female workers in the electronics industry. Int J Ind Ergon. 1986;1(1):37-47. https://doi.org/10.1016/0169-8141(86)90006-5
Luopajärvi T, Kuorinka I, Virolainen M, Holmberg M. Prevalence of tenosynovitis and other injuries of the upper extremities in repetitive work. Scand J Work Environ Health. 1979;5(3):48-55. https://doi.org/10.5271/sjweh.2675
Sakakibara H, Miyao M, Kondo T, Yamada S, Nakagawa T, Kobayashi F. Relation between overhead work and complaints of pear and Apple orchad workers. Ergonomics. 1987;30(5):805-15. https://doi.org/10.1080/00140138708969769
Jonsson B, Persson J, Kilbom A. Disorders or the cervicobrachial region among female workers in the electronics industry: a two-year follow up. Int J Ind Ergon. 1988;3(1):1-12. https://doi.org/10.1016/0169-8141(88)90002-9
Aaras A, Westgaard RH. Further studies of postural load and musculoskeletal injuries of workers at an electro-mechanical assembly plant. Appl Ergon. 1987;18(3):211-9. https://doi.org/10.1016/0003-6870(87)90006-8
Aaras A, Westgaard RH. Stranden, E. Work load on local body structures assessed by postural angles measurements. In: Corlett N, Wilson J, Manenica I. (Eds.). New methods in applied ergonomics. Proceedings of the second international occupational ergonomics symposium. London: Taylor & Francis; 1987. p. 273-8.
Cliquet Júnior A, Franca Jem, SônegoD, Grana T, Leite Fil, Paolillo Ar, Paolillo Fr. Avanços tecnológicos na prática ortopédica: Análises de membros superiores e inferiores. Acta Ortop Bras. 2004;12(1):57-61. https://doi.org/10.1590/S1413-78522004000100008