Vulnerabilidade ao estresse e alimentação: um estudo no contexto do trabalho

Autores

  • Francieli Dalla Costa Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)
  • Carla Rosane Paz Arruda Teo Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó)
  • Josiane Schadeck de Almeida Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó)

DOI:

https://doi.org/10.15448/1980-6108.2015.2.20372

Palavras-chave:

comportamento alimentar, esgotamento profissional, saúde do trabalhador, vulnerabilidade em saúde, estresse psicológico.

Resumo

Objetivos: Analisar a vulnerabilidade ao estresse no contexto do trabalho e suas implicações com a alimentação.

Métodos: Estudo transversal com trabalhadores de uma indústria do estado de Santa Catarina. Os instrumentos utilizados foram a Escala de Vulnerabilidade ao Estresse no Trabalho (EVENT) e um questionário estruturado. Foram analisadas seis variáveis sociodemográficas e ocupacionais (idade, sexo, escolaridade, turno de trabalho, setor/unidade de trabalho, tempo de trabalho), nível de vulnerabilidade ao estresse (segundo a EVENT) e, ainda, cinco variáveis alimentares onde o nível de estresse considerado foi o autorreferido e não a vulnerabilidade avaliada pela EVENT. A análise de dados empregou o teste t de Student e o qui-quadrado de Pearson e de tendência linear, sendo adotado o nível de significância de 5% (p≤0,05).

Resultados: Foram avaliados 309 industriários, com média de idade de 30,9±10,1 anos e predomínio de mulheres (60,2%). Tinham ensino médio completo 44,7% e ensino fundamental completo 25,5%. O tempo de trabalho na empresa teve mediana de 23 meses (intervalo interquartil 7-57); 81,6% trabalhavam no período diurno e 18,4% no noturno. O escore médio de vulnerabilidade ao estresse foi 22±11,6 pontos; 249 (80,6%) participantes foram classificados nos níveis inferiores de vulnerabilidade ao estresse e 60 (19,4%) nos superiores. Houve associação entre elevada vulnerabilidade ao estresse pela EVENT e alteração autorreferida na alimentação em condições de estresse (p=0,028). A prevalência de elevada vulnerabilidade ao estresse aumentou com o tempo de empresa (p=0,034). Sob estresse autorreferido, as mulheres relataram ter mais fome, alteração na alimentação e preferência por doces (p<0,001).

Conclusões: O grupo de trabalhadores na indústria apresentou prevalência de níveis inferiores de vulnerabilidade ao estresse, com a pressão no trabalho representando o principal fator estressor. Níveis superiores de vulnerabilidade ao estresse estiveram associados ao aumento do tempo de trabalho na empresa, assim como à percepção de que o trabalho causa estresse e interfere na alimentação. A constatação de que, sob condição de estresse autorreferido relacionado ao trabalho, a prevalência de alteração percebida na alimentação foi maior entre as mulheres, associada ao aumento da fome e à preferência por doces, indica uma maior suscetibilidade deste grupo a essas alterações, com potenciais riscos de agravos à saúde.

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Biografia do Autor

Francieli Dalla Costa, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)

Unidade São Lourenço d’Oeste

Carla Rosane Paz Arruda Teo, Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó)

Curso de Nutrição. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde Área de Ciências da Saúde

Josiane Schadeck de Almeida, Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó)

Curso de Fisioterapia. Área de Ciências da Saúde

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Publicado

2015-09-19

Como Citar

Costa, F. D., Teo, C. R. P. A., & de Almeida, J. S. (2015). Vulnerabilidade ao estresse e alimentação: um estudo no contexto do trabalho. Scientia Medica, 25(2), ID20372. https://doi.org/10.15448/1980-6108.2015.2.20372

Edição

Seção

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